Frota revela esquema de milícias digitais de Bolsonaro e diz que recebeu ameaça do presidente
O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) afirmou nessa quarta-feira (30) que três funcionários lotados no Palácio do Planalto fazem parte de uma milícia virtual que ataca adversários do governo por meio de notícias mentirosas. A revelação foi dada durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Nas mais de seis horas de depoimento, o parlamentar comentou sobre a "rachadinha" de Queiroz e acusou Jair Bolsonaro de tê-lo ameaçado em ligação após defender prisão do ex-motorista.
Entre os assessores presidenciais citados pelo deputado estão José Matheus Salles Gomes, Mateus Matos Diniz e Tercio Arnaud Tomas, grupo de assessores que integrariam o chamado “gabinete da raiva”.
"As fábricas de fake news estão espalhadas por diversos lugares. Dentro do Planalto, nós temos três pessoas, que é de conhecimento nacional, já foi falado várias vezes, são dois Mateus e um Tércio, que vieram das redes sociais, vieram das guerras virtuais", denunciou o deputado, afirmando, ainda, que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) seria também o responsável por coordenar as milícias digitais que atuam nas redes sociais em defesa do presidente. "Direto do Rio de Janeiro, ele coordena realizando reuniões e disparando via WhatsApp os seus comandos", completa.
Os três servidores do Planalto já foram convocados a prestar depoimento à CPMI. De acordo com Frota, essas pessoas atuam de dentro do Palácio do Planalto como assessores do presidente. "Dali de dentro, eles protegem [os aliados] e atacam [os adversários]", completou.
Alexandre Frota mostrou pesquisas feitas nas redes sociais mostrando que o esquema de "destruição de reputações e ameaças" envolve os mesmos perfis. Ele citou como alvos das fakes news, entre outros, os presidentes da Câmara e do Senado; deputados como ele próprio e Joice Hasselmann (PSL-SP); ex-ministros do atual governo como o general Santos Cruz; ministros do STF e todos que se mostrem contrários ao atual governo.
O parlamentar foi convidado para audiência pública pelo requerimento da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE). Em mais de seis horas de depoimento, Alexandre Frota destacou que tudo o que estava afirmando à comissão de inquérito foi o que ele "viu, ouviu e viveu". Luizianne considerou o depoimento de Alexandre Frota muito forte, justamente por ele ter sido eleito sob a influência de Bolsonaro. Ela afirmou que o governo ainda terá muito o que explicar.
'RACHADINHA' DE QUEIROZ
A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) questionou Alexandre Frota sobre o que ele sabia no caso da "rachadinha" do ex-assessor e motorista Fabrício Queiroz, suspeito de atuar como laranja no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
“Precisamos descobrir se essa rachadinha de Queiroz não financiou essa campanha de difamação e de desinformação. Queiroz é um assunto que parece incomodar muito o presidente, pois segundo o deputado Alexandre Frota ele tentou impedi-lo de falar sobre”, destacou Natália Bonavides, ao questionar o convidado da CPMI sobre a prática da rachadinha, na qual políticos indicam servidores a cargos de assessoria e recolhem o total ou uma porcentagem do salário em troca.
Frota não respondeu à pergunta diretamente, mas afirmou que Bolsonaro chegou a ligar para ele na época pedindo-lhe que parasse de falar sobre Queiroz. O ex-pesselista disse possuir vídeos sobre a atuação das milícias digitais, que encaminhará à CPMI. Em outro momento, o deputado chegou a afirmar que Bolsonaro tem ciência da existência dessas milícias e disse que o presidente já chegou até a elogiar o esquema.
AMEAÇAS
Frota disse ter recebido uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) momentos após discursar no plenário da Câmara defendendo a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Frota subiu ao plenário e disse: “Eu também quero o Queiroz preso, e aí?”. A declaração se deu em meio a críticas a partidos de oposição como PT e PSOL. O deputado concluiu o discurso com a frase: “E vou falar que laranja podre, no PSL, será esmagada”. Após essas declarações, o deputado afirma que conversou com o presidente por telefone no dia 14 de fevereiro deste ano, quando teria recebido as ameaças.
“Subi e pedi a prisão do Queiroz. Meu telefone tocou, era Jair Bolsonaro reclamando que eu teria no plenário pedido a prisão do Queiroz”, afirmou Frota. O deputado autorizou a quebra do sigilo telefônico para comprovar a existência do diálogo.
As ameaças após a declaração, segundo Frota, não teriam parado nessa ligação. Em outro momento, afirmou o deputado, Bolsonaro teria puxado Frota pelo braço em um evento e pedido para ele “calar essa matraca”. A cena foi registrada em vídeo, de acordo com o parlamentar.
*Informações: Agência Câmara Notícias