Futebol é reduto do Coiso
Natal, RN 18 de abr 2024

Futebol é reduto do Coiso

14 de outubro de 2018
Futebol é reduto do Coiso

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Estive por vários meses fazendo parte de um grupo de zap de ex-jogadores de futebol. Saí. Eram próximos de ex-atletas que vi nascer no mundo da bola, meninos que testemunhei, e até ajudei, no começo de suas carreiras, quando já pensava em encerrar a minha.

Nesse pacote de jovens, alecrinenses, quase todos mostravam sempre um respeito muito, mas muito grande por mim, talvez o mais velho. Um ex-atleta que, na época, seria meu sucessor no meio-campo do Alecrim, diziam todos, pela semelhança e garra. No entanto, um dia, durante uma discussão comum, onde pensei que o estava ajudando, informando, do nada,  me chamou de "merdinha" e disse para os colegas que eu tinha dado sorte que ele não estava "melado". A única coisa que fiz a ele, se me lembro bem, foi pedir para que ele repensasse o voto no monstro Jair Bolsonaro.

Nem precisa dizer que ele veio com a repetida enxurrada de bobagens extraídas da mídia, principalmente Globo e Veja - Lula ladrão, o PT quebrou o Brasil e coisa do gênero. Nem me reconheci, saí do grupo sem o espalhafato que naturalmente faria em qualquer outra situação. E certamente, nunca mais cumprimentarei ou perderei meu tempo com essa alma perdida.

Passados alguns meses, muito seletivo em questão de grupo, aceitei o convite para fazer parte dos masters do ABC, equipe que defendi como profissional em 1987 e também no campeonato de masters, onde até nos sagramos campeões. Amigos queridos, política, quase nunca, até semanas atrás. O teor: informações, datas de jogos, encontros, festas, jogos, contatos, enfim...

De repente uma guerra começou contra quatro participantes, um deles com passagem recente pelo América de Natal e que, parece, mora em João Pessoa. Nunca atuou no ABC. O outro, ex-atacante do América, festejado pela torcida, mas que também não teve passagem pelo alvinegro, mora em Natal e está sempre fazendo parte dos eventos. Um terceiro, foi juvenil do América, passou pelo Ferroviário, mas nunca se firmou como jogador, hoje mora fora, e um quarto, mais inexpressivo ainda, pois sequer deveria fazer parte do grupo, já que nunca atuou em clube profissional.

Os caras iniciaram um ataque quase diário ao PT e de apologia ao inominável, repetindo à exaustão as fakes news mais podres que se possa imaginar. Combati o bom combate,  demovi, mostrei, contestei, apontei e provei várias vezes o que dizia e o que criticava. No grupo, claro, alguns sinalizavam apoio a mim, muito discretamente, medrosamente, não sei se posso dizer assim.

As coisas foram esquentando. Um deles, fanático religioso, negro, ao lado de outro, também negro, mas que, me parecia não ser tão religioso, eram os mais atuantes disseminadores de mentiras e ódio.  Em comum, um ódio insano a Lula, publicações das mais podres, sujas, mulambentas, e mais tarde, na maior cara de pau, hipocrisia repugnante, mostrando como são iguais quase todos do lado de lá, vinham com seus "boas noites", falando com docilidade, desejando que dormíssemos com os anjos e o envio, já repetido, de mensagens religiosas de fé em Deus. De fazer vomitar.

Pois bem, num dos embates, quentes, de muito disse que disse,  falou a "voz da razão". Um ex-atleta, amigo, interviu pedindo para que todos evitassem política, que falássemos só de futebol,  coisa e tal, aquilo tudo que a gente já sabe de pessoas que não têm a consciência de que a política decide tudo em nossas vidas. Essa intervenção veio logo após uma investida pesada que dei contra os bolsominions fanáticos, coincidentemente. Cheguei a pensar em retaliação, mas não...

A coisa diminuiu e eu cumpri pelo meu lado. Como sempre fazia, nunca, em momento algum iniciei qualquer propaganda de candidatos meus ou publiquei qualquer provocação, e me recolhi às redes sociais que atuo. Até expliquei a situação e minhas posições aos mais chegados que, pelo menos para mim, pareceram concordar com meu ponto de vista. Em pouco tempo, no entanto, mais próximo ainda do dia da eleição, as coisas se acirraram...Ao invés de parar, os caras continuaram com tudo, principalmente o cara de João Pessoa e o tirador de onda.

Chegou o dia do voto. Logo cedo, durante o início das apurações, o fanático religioso, cego, idiota, que mora longe de Natal, garantia que o mais repulsivo candidato que o Brasil já teve ganharia no primeiro turno com mais de 70 milhões de votos, "pois ainda faltava São Paulo", palavras do débil mental. Os outros três, de vez em quando, zombando, zoando, produzindo fakes, e fazendo festa.

Claro, entrei em cena de novo. Com mais acidez ainda. Aconteceram ofensas, mais minhas, confesso, pois ataquei mesmo os fascistas dementes eleitores. No meio da conversa, do "tiroteio" e da apuração, um outro comunicado, coincidentemente, de novo, após eu escrever e falar para todos o grupo, algo mais contundente. O cara, não conheço, ouvi a voz, mas não sei de quem se trata, com a mesma ladainha burra de que a política não interessa ao grupo, e blá, blá, blá e blá. Parecia que ele falava para mim.

Pouco depois, o administrador do grupo, que considero amigo, pessoa correta, também se pronunciou ameaçando bloquear quem insistisse em falar de eleição, de Bolsonaro, PT, Haddad, e etc.

Eu, que havia perguntado, sem resposta, diversas vezes, pelos 70 milhões de votos que o fanático religioso, negro, que tenho certeza, não é rico, estava apregoando para o Coiso, de repente, me toquei...saí do grupo, cansei. Errei? Talvez.

Não por menos que o futebol brasileiro, jogadores-técnicos-dirigentes-seleções-CBF-clubes-federações se tornou o segmento mais retrógrado entre todos da sociedade.

Não tenho a força nem a perseverança ou coragem de um João Saldanha, muito menos a influência de craques como Afonsinho e Sócrates, por isso vou seguindo e esperando acontecer uma reviravolta e que o Brasil não caia nesse abismo.

Como disse Luís Fernando Guimarães, não desfaço amizades por conta de política, mas não posso ter em meu círculo misóginos, homofóbicos, gente mau-caráter,  racistas, nazistas, ou pessoas que, no mínimo, não se incomodam com essas pragas.

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