Gasolina tem o 6º aumento em 2021 e inviabiliza atividades de entregadores e motoristas de aplicativo
Natal, RN 19 de abr 2024

Gasolina tem o 6º aumento em 2021 e inviabiliza atividades de entregadores e motoristas de aplicativo

8 de março de 2021
Gasolina tem o 6º aumento em 2021 e inviabiliza atividades de entregadores e motoristas de aplicativo

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A gasolina vai ficar R$ 0,23 por litro mais cara com a alta de 8,8% anunciada pela Petrobras nesta segunda (8). O diesel também vai sofrer reajuste de R$ 0,15 por litro, com o aumento de 5,5%. Os novos preços devem ser aplicados nas refinarias da estatal a partir de terça (9). Esse, já é o sexto aumento da gasolina, que só em 2021, acumula alta de 53%. Também é o quinto do diesel, que acumula alta de 40% no ano que ainda está só começando. De acordo com a Petrobras, a estatal vai repassar o litro da gasolina ao custo de R$ 2,84 e o diesel ao de R$ 2,86.

As altas frequentes no preço dos combustíveis têm tido um forte impacto para alguns grupos de trabalhadores que cresceu com a pandemia, como a de moto entregadores.

“Essa é uma das categorias que mais vem sendo precarizada. Já existe uma exploração muito grande por parte das plataformas de aplicativo e agora, para piorar, essas altas consecutivas na gasolina que, para uma taxa de baixa demanda, chega a ser de R$2,00. Estamos com nossa atividade praticamente inviabilizada, não tá dando para fazer a manutenção dos veículos, estamos literalmente se virando nos 30, aumentando a jornada de trabalho para tentar cobrir as despesas. Nos horários de baixa demanda, fazemos bicos de manutenção residencial, nos finais de semana, entregas em pastelaria e pizzaria com punho colado para tentar cobrir as contas que não param de chegar”, desabafa Maciel Medeiros, 40 anos, moto entregador que trabalha com plataformas de aplicativo e presta serviços de entrega de forma autônoma em Natal.

Sem carteira assinada ou cobertura social, esses trabalhadores recebem pela entrega que fazem. Dias parados, implica em renda menor para cobrir as contas do mês.

“Não tivemos um centavo de repasse para as taxa de entrega, já temos um aumento de quase R$2,00 reais no litro só esse ano e não para de aumentar.  Temos que nos organizar, do jeito que tá não dá. Tentamos fazer um protesto na ponte nova outra semana, mas a polícia militar nos dispersou devido à pequena adesão, mas não vejo outro caminho! Vários grupos de entregadores já fortalecem a ideia de um grande ato.  Muitos estão desanimados e não acreditam que nossa manifestação vá trazer resultado. Somos pais e mães de família, um dia sem rodar vai fazer falta para nossas obrigações. Mas, estou torcendo para que a categoria se conscientize para a importância de nos fazermos ouvir e tentarmos melhorar nossos ganhos”, relata Maciel.

Maciel Medeiros, moto entregador

Os motoristas de aplicativo também têm sido prejudicados com a política de preços adotada pela Petrobras, que resulta em reajustes frequentes de acordo com a cotação do mercado internacional.

“Tá complicada a situação. Muitos motoristas estão deixando de rodar porque está se tornando inviável com a gasolina a quase R$6. Tenho um grupo com quase 120 motoristas, semana passada dez disseram que iam deixar de rodar nas plataformas porque o carro era à gasolina, alguns rodavam em carro alugado e não está compensando. Infelizmente, essa é a realidade. Eu tenho carro, mas ainda pago prestação. Estou muito preocupado, tive covid-19 pela segunda vez, minha esposa pegou no trabalho e trouxe pra casa. Passei dez dias sem rodar e quando retornei veio esse decreto novo, que complicou mais ainda. Sem falar que estamos com a economia parada, a procura pelo aplicativo caiu muito, acho que em torno de 50% a 60%”, calcula Júnior Baladinha, motorista de aplicativo e diretor administrativo do Sintat RN (Sindicato dos Motoristas de Aplicativo do Rio Grande do Norte).

Júnior também conta que no dia 17 deste mês há um protesto marcado para acontecer em todo o país porque a Uber Promo e a 99Poupa estão usando essas novas categorias para baratear ainda mais as corridas, o que torna o trabalho inviável para os motoristas.

Também vamos aproveitar para reivindicar a redução no preço dos combustíveis porque está muito difícil, muito difícil mesmo”, conta Júnior que também reclamou dos excessos nas abordagens policiais feitas durante o toque de recolher.

“Estava conversando com um outro motorista enquanto aguardava uma corrida e um policial disse que a gente só podia ficar na rua se tivesse dentro do carro e com o veículo em movimento. Já pensou a gente estar com o carro em movimento sem passageiro com a gasolina a esse preço?”, reclama.

Júnior Baladinha, em foto no carro decorado para tentar chamar a atenção dos clientes I Foto: cedidaCom a sequência de reajustes, os caminhoneiros ameaçaram uma nova greve no país e na semana passada o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou isenção de impostos federais sobre o diesel. No entanto, o aumento anunciado hoje já equivale à metade do ganho que se teria com a isenção dos impostos.

A Associação dos Motoristas Autônomos por Aplicativos do RN também se pronunciou sobre os reajustes. Segundo o presidente da instituição, Evandro Henrique, a gasolina corresponde a 60% dos custos dos motoristas que não têm reajuste nos repasses feitos pelos aplicativos desde 2016, quando eles começaram a funcionar em Natal. Além disso, a aplicação de tarifas promocionais recaem diretamente sobre o lucro que seria do condutor do carro.

Evandro Henrique, presidente da Associação dos Motoristas Autônomos por Aplicativos do RN
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