“Há indícios fortíssimos de que foi uma armação”, diz Joaquim de Carvalho após produzir documentário sobre facada em Bolsonaro
Natal, RN 19 de abr 2024

“Há indícios fortíssimos de que foi uma armação”, diz Joaquim de Carvalho após produzir documentário sobre facada em Bolsonaro

28 de setembro de 2021
6min
“Há indícios fortíssimos de que foi uma armação”, diz Joaquim de Carvalho após produzir documentário sobre facada em Bolsonaro

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“No caso da facada de Jair Bolsonaro, não é teoria da conspiração. São fatos que não foram investigados. Investiga, apura, reabre o caso. Eu sei que tem gente da Polícia Federal que quer muito reabrir o caso, porque a história não para de pé”, conta o jornalista Joaquim de Carvalho, que liderou a equipe do Brasil 247 na produção do documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma Fakeada no Coração do Brasil”.

Em entrevista ao Programa Balbúrdia nesta terça-feira (28), ele falou sobre o trabalho que revela as inconsistências da versão oficial do episódio de Juiz de Fora, que decidiu a eleição presidencial de 2018. Antes disso, o jornalista que já foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional; ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa), produziu junto ao 247 os documentários “Delgatii, o hacker que mudou a História do Brasil” e “A história secreta da Cloroquina”.

De acordo com Joaquim de Carvalho, o próprio Bolsonaro deu a pauta do terceiro documentário ao insistir na politização do episódio, dizendo que o agressor, Adélio Bispo, é militante de esquerda. Ele de fato teve passagem pelo PSol, mas a última ligação partidário foi com o PSD, de Gilberto Kassab e do ex-deputado Marcos Montes, que tem cargo no Ministério da Agricultura.

O material do documentário foi apurado em dois meses e Joaquim atesta: “Há indícios fortíssimos de que foi uma armação.”

“Comecei a perceber que a história não parava de pé. Por que a velha imprensa que tem estrutura nunca contou por que não encontram a faca? Por que não contou que os seguranças todos foram promovidos ou homenageados? Em Juiz de Fora teve uma segurança atípica, chamada de segurança dos voluntários. Por que ninguém nunca contou até agora que o Adélio não era um militante de esquerda. Ele foi enquadrado na lei de segurança nacional, foi julgado na Justiça Federal. Ele foi blindado, nunca deu entrevista, nem sequer prestou depoimento ao juiz da causa. No entanto está lá cumprindo medida de segurança, considerado inimputável”, aponta Joaquim ao afirmar que foram surgindo coisas absurdas ligadas ao caso.

Uma delas é o fato de o advogado de defesa de Adélio Zanone Manuel de Oliveira Júnior ter sido destituído para se tornar curador do acusado. Até hoje ninguém sabe quem o contratou e pagou seus honorários.
“O antigo advogado dele, que atuou muito mais em favor dos interesses do Jair Bolsonaro e não do cliente virou curador. Deixou o processo e é o responsável legal pelo Adélio. É demais, né? Temos uma história que não foi contada. A versão oficial não para de pé”, ressalta.

Outra aresta da história é que a família de Adélio, com quem Joaquim conversou, é muito pobre e o Ministério Público teria que proteger a eles e aos interesses daquele que foi considerado incapaz. Aliás, outro fato não comprovado.

Para o jornalista, Adélio pode ter algum transtorno psiquiátrico, mas está distante de ser incapaz. Ele é uma pessoa muito organizada e administrava bem a vida dele.

Na opinião de Joaquim, as entidades de direitos humanos têm que se movimentar para tirar a curatela do advogado, que é um escândalo.

“O Adélio está há mais de três anos sem falar com a família, nem por telefone”.

A família não tem condições de fazer essa visita presencial e a visita virtual oferecida tem que ser a partir de Belo Horizonte, o que dificulta o acesso a ele.

“Na hipótese que ele seja essa pessoa inimputável, absolutamente incapaz – e não é, mas vamos por essa hipótese – ele tem que ser tratado. E o tratamento pressupõe necessariamente o contato com a família. Se não tiver contato, o estado de saúde mental dele vai se agravando, porque ele está lá fechado há mais de três anos e não conversa com ninguém que ele conheça. É uma questão até de direito humano”, diz Joaquim, que não acredita que Adélio seja uma vítima, já que concordou em ser patrocinado quando poderia ter sido amparado pela Defensoria Pública.

Mais um fato exposto diz respeito a um treino de tiro do acusado: “Por que a polícia federal não investigou o fato do Carlos Bolsonaro dividir o mesmo espaço com o Adélio? Pega o perfil do Adélio. Na dinâmica social, qual a probabilidade do Adélio e do Carlos Bolsonaro dividirem o mesmo espaço num clube de tiro no mesmo dia? O Adélio tinha uma vida muito próxima da miséria”.

Um sobrinho de Bispo também contribuiu com a coleta de informações. A entrevista com ele não está no documentário, mas Joaquim avisa que publicará trechos. “Se o meu tio acertou com alguém de participar de algo pra fazer aquilo dentro de um plano maior, pelo que conheço do meu tio, ele nunca vai revelar”, contou o familiar.

O entrevistado do Balbúrdia garante, após conversar com o sobrinho de Adélio, que as bandeiras defendidas pelo acusado são bolsonaristas.

“Você só pode dizer que ele é de esquerda porque ele é pobre e defendia maior salário. Mas ele é bolsonarista. Eu levei o meu tio para pregar na minha igreja e ele falou contra o kit gay, criticou o governo, na época da Dilma, dizia que os pastores teriam que celebrar o casamento homossexual”, lembrou o relato que ouviu, ressaltando que ele também promovia o projeto de lei que reduzia a maioridade penal e atacou Renan Calheiros na internet quando a proposta de Bolsonaro foi rejeitada. Tudo isso era visível no perfil do Facebook de Adélio Bispo, que foi tirado do ar depois que começou a produção do documentário. Por quem, ninguém sabe.

Veja entrevista completa:

https://www.youtube.com/watch?v=FzDGL_vDFPk

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