Leandro ou Cafu ?
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Leandro ou Cafu ?

30 de maio de 2021
Leandro ou Cafu ?

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Certa vez, aqui na 96 FM, no programa Esporte Fino, já extinto, entrevistei o ex-goleiro Raul Plasmann, que defendeu Flamengo e Cruzeiro. O assunto recaiu sobre gênios com quem jogou, pedi que ele citasse os preferidos - Tostão, Dirceu Lopes, Júnior Capacete e Zico. Raul adicionou um nome à lista: Leandro, lateral direito. Não imaginava que ele falaria do ala direita, mas na época eu já considerava o "Peixe Frito" como o maior lateral que já vira em campo.

Para ilustrar, Raul contou um fato muito interessante. Numa partida, grande, acho que contra uma equipe uruguaia, jogo de Libertadores, sempre que estava com a bola o Leandro pedia: "dá em mim, dá mim!" Raul saía jogando do outro lado, e Leandro ficava chateado. Pediu uma, duas, três, na quarta, também irritado com a insistência, Raul diz que arremessou com força a bola na direção dele. "Toma porra!" Leandro amaciou no peito, avançou, deu um corte no ponta que o marcava, passou no meio de dois meio campistas, gingou novamente, tabelou com Zico, recebeu na linha de fundo, fez uma última finta, com a bola em cima da linha e deu voltando, limpa, deixando o Nunes na cara do gol. O centroavante só teve o trabalho de empurrar. "Depois do gol, lá vem ele correndo na minha direção sorrindo, vibrando e disse: Joga em mim, porra! Me abraçando. Era gênio", encerrou Raul.

Para a Europa, para o número, Cafu, o esforçado Cafu, que deu trabalho para passar nas peneiras, reprovado várias vezes, mas que foi escolhido melhor das Américas, depois integrou seleções de melhores do mundo da Europa e até escolhido pela revista francesa como melhor da história, e para mais muita gente, era melhor. Cafu, bola rolando, habilidade, qualidade técnica, futebol de essência nunca chegaria aos pés de Leandro, mas...

Se valem esse mesmos critérios, o Carlos Alberto Parreira, o homem da retranca, o cara que diz e quase todo mundo acredita que um jogador para ser completo, ser convocado para a Seleção deveria, antes, ter que atuar na Europa, é mais, ou foi, treinador que Telê Santana e Cilinho que nunca ganharam uma Copa do Mundo. Eu prefiro ouvir Pep Guardiola, que todos concordam hoje (não sei até quando, lembram de Mourinho?) ser o melhor do mundo, afirmar que o melhor do futebol que existe foi copiado do brasileiro. Quem será que tem razão?

Ainda na esteira das comparações, números, títulos, Zinho é melhor que Zico ou Júnior, ou Sócrates, ou Falcão que nunca ganharam uma Copa do Mundo. E se o desempenho na Europa é vital, volto a falar de Zico e Sócrates, podendo citar mais alguns monstros sagrados que não se deram tão bem jogando no Velho Mundo. Isso se o futebol se explicar, se comparar dentro da lógica de conquistas, do cru, da simples matemática de estar no time certo, na Europa, bem entendido.

Se valem números, onde, em que lugar do mundo o Mathias Sammer jogou mais que o uruguaio Francescoli, no Ríver Plate dando show naquele ano de 1996. Sendo assim, claro, Ronaldo deve ter sido melhor que Edmundo em 1997, não sei. Para encerrar esses absurdos fifianos eu lembro de Canavarro, botocudo, ruim de bola, zagueiro arranha bola escolhido em 2006, mesma temporada em que o genial Veron levava o Estudiantes a uma virada espetacular no Argentino sobre o Boca, mas Cannavaro foi o eleito. Por fim, poderia citar mais de dez exemplos, encerro falando de nosso Alex, no Cruzeiro de 2003, nem citado na disputa dos melhores da Fifa. Pavel Nedved jogou mais que ele? Onde, em que planeta?

Pego o gancho para voltar a falar desse absurdo, em que campeonatos onde se jogou sempre um futebol de melhor nível, na pior das hipóteses igual (hoje não por conta da diferença do poderio financeiro) - Brasil, Argentina, Uruguai e outros - não concorrem nunca a melhor do mundo. E o mais interessante disso tudo é que nunca vi ninguém sequer criticar esse tipo de aberração, como se fosse a coisa mais natural e certa a se fazer. Numa  prova da viralatice de nossa América do Sul, continente ganhador de nove copas do mundo, 26 mundiais de clubes, mesmo com a enorme diferença financeira e organizacional que sempre existiu.

E o meu fecho é sobre ele. O Rei Pelé. Somente em 2014, o Atleta do Século XX foi convidado para a cerimônia do prêmio de melhor jogador do mundo. Durante a premiação foi entregue a ele sete troféus da Bola de Ouro. A France Football revisou toda a lista usando as regras atuais, reconheceu seu erro absurdo, e decidiu conceder a Pelé uma justa correção histórica. Na revisão, o brasileiro teria vencido em 1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1965 e 1970. Em 1970, só para reforçar esse absurdo, Pelé fora preterido por Gerd Müller, vejam o tamanho do absurdo. E mesmo sendo aberto em 2007 para atletas de qualquer clube ou país, somente quem atua na Europa tem chance de ser escolhido.

Futebol subjetivo e doido. Leandro que, para os europeus nem é citado, talvez nem saibam de quem se trata,  participou da era gloriosa do Flamengo, que sob o comando de Zico, conquistou no início dos anos 80 três Campeonatos Brasileiros, a Copa União, a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes. Durante seus onze anos como atleta profissional, Leandro atuou em todas as funções no time do Flamengo, exceto a de goleiro.

Foi considerado por muitos jogadores, treinadores e críticos esportivos como o maior lateral-direito que o Brasil já produziu (Cafu é o preferido na Europa). Leandro também integrou a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1982. O craque teve a brilhante carreira encurtada por seguidas contusões, mas não impediu de entrar para a história do clube como o maior lateral que já vestiu a camisa rubro-negra.

Vou listar abaixo, de teimoso, chato, nacionalista, exagerado, esses canecos sem importância, evidente, não se comparam aos títulos espetaculares, maravilhosos de Cafu na Itália e outros cantos do planeta, além de  saber que o rapaz participou de três finais de Copa do Mundo, mesmo quando sabemos que em nenhuma delas, antes, era preferido da galera e nem da imprensa, mas vale.

Flamengo

Taça Guanabara1978197919801981198219841988 e 1989

Taça Rio: 1978, 1983, 1985 e 1986

Campeonato Carioca197819791979 (Especial)1981 e 1986

Troféu João Batista Figueiredo: 1979

Taça Luiz Aranha: 1979

Taça Jorge Frias de Paula: 1979

Taça Innocêncio Pereira Leal: 1979

Taça Organizaçães Globo: 1979

Campeonato Brasileiro19801982 e 1983

Copa União (Módulo Verde)1987

Copa Punta Del Este: 1981

Torneio Internacional de Nápoles: 1981

Taça da Raça: 1981

Copa Libertadores da América1981

Taça Sylvio Corrêa Pacheco: 1981

Copa Intercontinental1981

Taça Governador Ary Ribeiro Valadão: 1982

Taça Confraternização Brasil-Paraguai: 1982

Troféu Brasil-Argentina: 1982

Troféu Centenário do Linfield Football Club: 1986

Troféu Naranja: 1986

Torneio Internacional do Gabão: 1987

Taça Euzébio de Andrade: 1987

Copa Kirin1988

Troféu Colombino1988

Torneio de Verão de Nova Friburgo: 1990

Prêmios individuais

Bola de Prata da Revista Placar: 1982 e 1985

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