Legado da Copa: entrada de estrangeiros no RN diminuiu após o Mundial
Natal, RN 24 de abr 2024

Legado da Copa: entrada de estrangeiros no RN diminuiu após o Mundial

4 de julho de 2018
Legado da Copa: entrada de estrangeiros no RN diminuiu após o Mundial

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Uma das premissas dos defensores da candidatura de Natal como cidade-sede da Copa do Mundo de 2014 estava ligada ao desenvolvimento da cadeia turística do Estado, atraindo principalmente turistas estrangeiros para o Rio Grande do Norte. Todavia, quatro anos após a passagem do mundial pelo Brasil, o cenário de entrada de não brasileiros no estado é desolador.

Já no ano seguinte à realização do Mundial no Brasil, o Rio Grande do Norte recebeu 11 mil turistas estrangeiros a menos. Nem a acentuada desvalorização do Real frente ao dólar em 2015 (só não foi pior que a desvalorização do Peso argentino naquele ano) foi suficiente pra atrair mais visitantes do exterior. Se em 2014 desembarcaram pouco mais de 38 mil estrangeiros em Natal, a capital potiguar recebeu 27,1 mil em 2015.

Nos anos seguintes, houve um pequeno aumento na chegada de estrangeiros, mas muito aquém do que o Governo do Estado e a prefeitura de Natal venderam aos natalenses. Em 2017, por exemplo, 30,4 mil turistas vieram do exterior, número bem abaixo dos 38 mil que visitaram Natal durante o Mundial.

Nos seis primeiros meses de 2018, segundo dados da Polícia Federal, apenas 13.629 turistas internacionais visitaram o Rio Grande do Norte. O número, apesar de representar um crescimento de quase 20% em relação ao mesmo período de 2017, é insuficiente, por exemplo, para preencher os 28,3 mil leitos de hospedagem disponíveis na capital potiguar.

O baixo movimento de estrangeiros no estado tem sido uma tônica da última década e meia. Apesar da realização da Copa do Mundo, Natal tem registrado um decréscimo no número de turistas internacionais que passam pela cidade. Para efeito de comparação, em 2006, mais de 117 mil estrangeiros entraram na capital. Uma década depois, em 2016, este número era pouco superior a 29 mil pessoas.

O ponto fora da curva foi 2014, ano da realização da Copa do Mundo no Brasil. Com Natal recebendo quatro jogos do torneio, 38 mil estrangeiros passaram pela cidade. O montante, apesar de ser bem superior ao quantitativo registrado em 2016, ainda foi muito abaixo ao apontado na metade da década passada.

A atividade turística tem forte impacto na economia do Rio Grande do Norte. Pelo menos 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado advém dessa modalidade econômica. A estimativa é que a cadeia turística, incluindo os gastos de visitantes do exterior e do Brasil, injete R$ 3 bilhões anualmente na economia potiguar.

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Os mesmos países de sempre

México, Camarões, Gana, Estados Unidos, Japão, Grécia, Itália e Uruguai. Foram estes países que passaram por Natal durante a Copa do Mundo de 2014. Todavia, apenas a Itália aparece entre os principais destinos de origem dos turistas internacionais que costumam visitar Natal.

Os argentinos são os principais responsáveis por alavancar o número de estrangeiros no estado. Dos 13 mil não brasileiros que entraram no Rio Grande do Norte em 2018, cinco mil vieram do país vizinho. Portugueses aparecem em segundo lugar, seguidos por italianos e espanhóis.

O cenário é basicamente o mesmo de dez anos atrás. No escopo do projeto que garantiu Natal como cidade-sede da Copa do Mundo, também aparecem argentinos, portugueses e espanhóis como responsáveis por puxar para cima o número de “gringos” na cidade. Ou seja, apesar da realização do mundial na cidade, não há diversidade no público do exterior que mostre interesse em visitar o Rio Grande do Norte.

O governo Robinson até desenvolveu ações alavancar o turismo, como a redução de ICMS sobre o querosene de aviação, além de atrair voos internacionais, como Natal/Milão, Natal/Lisboa e Natal/Cabo Verde. À exceção da Itália, porém, nenhuma das iniciativas teve como público alvo os países cujas seleções jogaram na capital potiguar há quatro anos.

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Plano Executivo apresentava poucos projetos para o turismo

O Plano Executivo elaborado pelo Governo do Rio Grande do Norte e pela Prefeitura do Natal e entregue à Fifa como parte da homologação da candidatura potiguar para a Copa do Mundo de 2014 apresentava poucos projetos para o turismo. O documento foi lançado em abril de 2009 e serviu como guia das ações a serem desenvolvidas até o mundial.

Ao contrário de outras categorias prioritárias, como transportes e segurança, que ganharam várias páginas no projeto, o turismo ficou restrito a apenas três ações estratégicas de desenvolvimento. Basicamente, todo o plano turístico do Rio Grande do Norte para receber a Copa do Mundo estava voltado na qualificação profissional de bugueiros, profissionais que trabalham dirigindo buggys pelo litoral, e no desenvolvimento de um programa de divulgação dos principais pontos turísticos do estado para fora do país.

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Turismo, se comprometeu a oferecer um curso de formação para os bugueiros e a construção de um plano estratégico para o desenvolvimento do turismo no RN. Este segundo ponto foi pensado para criar uma cadeia de roteiros interligados que incluísse a capital e o interior do estado.

O Plano Executivo cita ainda investimentos paralelos ao turismo, mas que de algum modo interferem na preferência de visitantes por visitar o estado. Entre as ações está uma ampliação nos investimentos em saúde, uma vez que, segundo pesquisas realizadas com turistas que passaram pelo estado antes da elaboração do documento, grande parte mostrava preocupação com a qualidade do sistema público de saúde. Apesar do alerta, não há qualquer menção efetiva a investimentos nesse seguimento.

Abaixo, a Agência Saiba Mais descreve o que estava no papel no Plano Executivo e o que foi executado pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de Natal.

Curso de formação para bugueiros

Plano Executivo: Este projeto oferecerá a população turística qualidade e segurança nos serviços prestados nos passeios de buggy, contribuindo coma iniciativa de desenvolvimento das atividades turísticas na região. Custo total: R$ 600 mil. Parceria com o Governo Federal.

Execução: O Governo do Estado desenvolveu um curso obrigatório para profissionais que trabalham com buggys no Rio Grande do Norte. O curso tem carga horária total de 462 horas/aula e é ministrado pela Secretaria de Turismo. As disciplinas estão divididas em teórica e prática, sendo 332 horas de aula teórica e 130 horas de aula prática, incluindo um city tour. Além disso, em 2015, por meio do Pronatec, programa do Governo Federal, foi ofertado cursos de idiomas para os bugueiros. O estado não divulga quanto gasta para qualificar estes profissionais.

Elaboração de um plano estratégico para o desenvolvimento do turismo no RN

Plano Executivo: A implementação de iniciativas sustentáveis relacionadas ao desenvolvimento turístico do Estado do Rio Grande do Norte proporcionará a priorização de ações que contribuirão diretamente para o fortalecimento desse potencial ao longo dos anos. Além disso, a priorização dessas ações fortalecerá diretamente as atividades sócio-econômicas, culturais e ambientais. Custo de R$ 1 milhão.

Execução: Em março deste ano, o Governo do Estado lançou um plano para o turismo denominado “Tudo começou aqui”. O programa foi desenvolvido ao longo de um ano e meio, através de uma consultoria internacional, e deve servir como norteador das ações estratégicas voltadas ao turismo pelos próximos 15 anos. O plano tenta explorar potencialidades além do “sol e mar”. Os Mártires de Cunhaú e Uruaçú, que recentemente foram canonizados pela Igreja Católica, despontam como parte importante deste programa. O custo do documento não foi divulgado.

Elaboração de roteiros turísticos para o RN

Plano Executivo: A implementação de novos roteiros turísticos no Estado do Rio Grande do Norte proporcionará o desenvolvimento de novos destinos turísticos diversificando e descentralizando as ofertas dos produtos e serviços turísticos existentes. Esta iniciativa contribuirá para alavancar ainda mais o turismo através da exploração das potencialidades da região e do Estado. Custo estimado de R$ 1 milhão.

Execução: A elaboração de novos roteiros turísticos é parte da campanha de marketing denominada “Tudo começa aqui”, descrita no tópico anterior. Com o documento, o Governo do Estado tenta diversificar a atividade turística no estado. Os novos roteiros incluem atrações do interior como parte do “menu” à disposição dos turistas que passam pelo Rio Grande do Norte.

Turistas estrangeiros que visitaram Natal (RN) nos últimos quatro anos:

2014 - 38 mil
2015 – 27,1 mil
2016 - 29 mil
2017 – 30,4 mil

Fonte: Polícia Federal

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