Legião dos esquecidos
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16 de dezembro de 2018
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Estive fazendo um exercício rápido de memória, relembrando atletas que sofreram muito para aparecer e ter uma chance de verdade no futebol do Rio Grande do Norte. Todos eles, bons de bola e nascidos no RN, bem entendido, pois aqui é paraíso de estrangeiros.

Gomes e Everton, exemplos na posição de goleiro. O primeiro está bem no Palmeiras (levado por empresário que está levando todo mundo, quase), acho que sub 23, o segundo ainda tenta ser goleiro titular do América, coisa que já merece tem pelo menos dois anos. Tudo indica que vai amargar a reserva mais uma temporada.

Arês, ala direita/volante. Destaque do Alecrim, passou pelo América sem jogar, depois teve nova chance no ABC e foi um dos melhores do clube na temporada, mas sempre muito criticado quando o time não vencia. Não renovou, inventaram motivos, ele acertou com o Joinville de Santa Catarina. Para cá não serve.

Tonhão, melhor zagueiro surgido em nosso futebol nos últimos dez anos. Teve grandes atuações pelo ABC, destaque absoluto pela sua maneira de jogar, ao estilo de Luís Pereira, o Chevrolet. Terminou o ano queimado, não se sabe o motivo. Está escondido no Grêmio, nem sei se vai jogar, enquanto o ABC contrata suas apostas empresariais.

Cleiton, natalense, quarto zagueiro canhoto, de chute espetacular, jogou em vários clubes do Nordeste, sempre, aqui no RN, recentemente esteve no Alecrim, fez um belo campeonato e foi contratado pelo ABC. Sem que alguém dê uma explicação, perdeu espaço, saiu do time e não renovaram seu contrato. Está no Hercílio Luz de Santa Catarina. Talvez seja o jogador de melhor parada (forte) surgido nos últimos tempos em nosso rincão.

Adalberto, zagueiro esquerdo, cria do América, nunca teve uma chance real em Natal, saiu, foi titular alguns anos no Fortaleza, no América Mineiro, e voltou ao tricolor do Pici para subir para a primeira divisão. Também foi negociado de graça, o América nada ganhou com ele.

Ayrton Lucas, ala esquerda de Carnaúba dos Dantas. Já falei várias vezes desse menino. Voava nos treinos do ABC, mas o treineiro na época preferia improvisar Somália ou Samuel, mas não o colocava. Foi vendido de graça ao Fluminense, brilhou no Londrina, emprestado, voltou ao Flu, foi grande destaque na temporada e vendido para o futebol turco por milhões de dólares que poderiam, muito bem, irrigar os cofres secos do ABC.

Edson, volante de Touros, cria do ABC, sofreu o pão que o diabo amassou nas mãos de vários entregadores de camisa que passaram pelo alvinegro, até que Givanildo Oliveira o fez jogar, e ele depois se firmou em 2013 e foi um dos grandes nomes da campanha do "fico". Mesmo assim, não cuidaram de renovar seu contrato com o ABC e ele foi adquirido pelo BMG. O ABC não ficou com nada. Teve grande passagem no Fluminense, esse ano esteve no Bahia. Um empresário sem vergonha que agia em Natal na época "buzinava" nos ouvidos dos dirigentes que deviam dispensá-lo, pois ele não sabia nem correr.

E Judson, cria  do América. A direção queria se livrar do volante de Arês. O emprestou, mas ele voltava. Certa vez, o treinador que tinha oito volantes no plantel se viu somente com Judson. Foi obrigado a escalar o garoto. Ele deu show numa partida decisiva contra um grande clube na Copa do Brasil, nunca mais saiu do time. Negociado com o Avaí, foi bem em três temporadas, e hoje está se mudando para a Califórnia, nos EUA, para disputar o MLS. Muita gente dizia que ele não tinha bola para vestir a 5 do América. O América lucrou pouco ou quase nada. Via pegar as migalhas como formador.

Richardson, volante. Acho que pouca gente se lembra. Veio das bases do América. Futebol vistoso, de qualidade, ótimo passe, chegada na frente, mas nunca tinha chance real, até que se transferiu para o Confiança de Sergipe, depois Ceará, onde foi um dos destaques nesta "escapada" do rebaixamento.

Nessa leva, nem sei se incluo Rodriguinho. Mas foi um talento das bases do ABC e que o clube, por desconhecimento de treinador e dirigente, deixaram sair de graça do clube. Hoje, nem preciso dizer o que isso representa de prejuízo.

Essa semana, conversando com um amigo, fiquei sabendo que o volante José Welison, cria do Vitória, hoje no Atlético Mineiro, é natural de São Pedro/RN. Mais um que passou sem que ABC ou América e outros dessem conta.

Recentemente, o ABC perdeu Berguinho, talentoso meia atacante, por falta de pagamento de salários. Acreditem, o garoto ficou quatro meses sem receber sua merreca, só deram fé da bobagem que fizeram quando não tinha mais mais jeito. Nem sei onde esse garoto está, mas se não joga, tenho certeza, não é por falta de bola, mas por cegueira de treineiros. Também saiu da base do ABC e sem qualquer lucro.

Quase da mesma forma quase passaram Fessin e Matheus. Só jogaram porque, rebaixado, o ABC não aspirava mais nada na Série B do ano passado. Deram show. Esse ano, seriam a redenção do clube na Copa do Nordeste e Série C, mas a direção vendeu o dois por ninharia. Um deles, o Matheus, o clube nem tinha os direitos federativos.

O caso mais recente se deu no América, que dispensou Denilson, centroavante, 1.87m de altura, jogador que todo boleiro com quem falei elogiava muito. A Brazil Sports o pegou. Ele disputou o Estadual e foi contratado pelo Atlético/GO, e no final da temporada chamou a atenção do treinador Rogério Ceni, do Fortaleza campeão. Não servia para o América e se render dividendos não será para o rubro.

Para encerrar, não tenho ideia, confesso, da quantidade de jovens valores já perdidos pelos nosso clubes. Maike Van Van está no Bahia, do América; Jonathas no Grêmio, do ABC, os meninos de 15 anos Tallison e Breno, ex-ABC, foram embora para Fluminense e Palmeiras, e assim vai.

Quem souber de mais nomes de potiguares espalhados pelos quatro cantos do Brasil não aproveitados por ABC e América pode me mandar. Eu faço o registro aqui do absurdo da falta de preparo de nossos clubes em tratar, cuidar, valorizar suas bases.

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