Sindesind: quando a luta por direitos começa dentro de casa
Natal, RN 28 de mar 2024

Sindesind: quando a luta por direitos começa dentro de casa

8 de setembro de 2019
Sindesind: quando a luta por direitos começa dentro de casa

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A busca pelo direito de organização e por melhores condições de trabalho são razões que convergem muitas entidades sindicais. É a partir da luta dessas instituições que muitos avanços foram conquistados pela classe trabalhadora brasileira. Por trás dessas conquistas, contudo, há profissionais pouco reconhecidos pelos esforços que reúnem ao integrarem tais entidades. É nesse contexto que surgiu, nos anos 1990, o Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais, Associações, Consultórios e Escritórios de Profissionais Liberais (Sindesind), no Rio Grande do Norte, entidade que atua pela categoria dos trabalhadores e trabalhadoras em entidades de luta.

Organizados enquanto categoria da classe trabalhadora por meio de decreto, em 2006, assinado pelo ex-presidente Lula, os empregados de entidades sindicais atuam desejam o reconhecimento da classe e lutam por direitos reivindicados historicamente pelos sindicatos brasileiros.

Gerlane Silva, ao centro, acompanhada pelas mulheres que atuam no Sindesind/RN em um dos atos em defesa dos direitos dos trabalhadores e contra a reforma da Previdência. REPRODUÇÃO/FACEBOOK

À agência Saiba Mais, a coordenadora do Sindesind/RN Maria Gerlane da Silva defendeu a importância de organizar a luta dos trabalhadores em sindicatos, muitas vezes posta em segundo plano por entidades que atuam de forma corporativa dentro de suas entidades. Geralmente, as diretorias dos sindicatos não reconhecem como categoria os funcionários que atuam na estrutura sindical. 

“O que a gente observa, ao longo da trajetória de efetivação das entidades sindicais, é que existe uma grande lacuna no reconhecimento dos trabalhadores em sindicatos enquanto profissionais”, relata Gerlane Silva, que atua há 20 anos no Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE).

“A gente está nos sindicatos, estamos fazendo a luta junto aos empregadores, mas também temos uma dificuldade entre os dirigentes sindicalistas de se compreenderem no papel de estarem exercendo essa função de empregadores”, pontua. 

Sindicatárias em luta no ato contra a reforma da Previdência. REPRODUÇÃO/FACEBOOK

A história da luta de entidades como o Sindesind/RN é antiga. Com a Constituição de 1937 promulgada por Getúlio Vargas, os empregados em sindicatos eram proibidos de se organizar em entidades próprias. Antes de 1988, esses trabalhadores organizavam-se somente em associações. 

Posteriormente, com a nova Constituição Federal, vigente há 31 anos, houve a liberdade de organização dos trabalhadores em entidades de luta, passando a ser livre a manifestação por direitos. 

No entanto, somente a partir de 2006, com decreto assinado pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva os empregados em sindicatos puderam ser reconhecidos como categoria trabalhista. A conquista do registro sindical representou um marco na organização dos trabalhadores em entidades sindicais e um importante momento para o movimento sindical brasileiro. 

“O Sindesind somou-se à Federação Nacional dos Trabalhadores em Entidades Sindicais (FITES) na luta pela solidificação da entidade e pela manutenção dos empregos da categoria sindicatária e dos seus direitos”, explica Gerlane Silva. Criada em 2003, a FITES ampliou a força dos trabalhadores em sindicatos, agora pertencentes, também, à uma federação nacional pela defesa dos direitos da categoria. 

“O Sindesind tem, de maneira muito responsável, tentado conduzir essa relação com os sindicalistas a fim de evitar reforços a uma cultura externa de desqualificar a ação desses profissionais e dos sindicatos. Nós temos a responsabilidade em pontuar a importância dos sindicatos e de lutar pela existência dessas entidades para que possamos continuar exercendo e sendo reconhecidos em nossa profissão”, defende Gerlane, que atua voluntariamente na coordenadoria do sindicato toda composta por mulheres. 

Em todos esses anos de existência, o Sindesind conquistou direitos importantes para categoria sindicatária por meio de acordos coletivos feitos entre entidades como ASIFRN, SINASEFE, SINTEST, FETRONOR, SETRANS, SESCON, SINDAS, SINTRO, SOERN, SINDSEGUR, SINDSUPER, SEEB, SINDAGUA E SINPEF. Entre os direitos conquistados estão a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias, a qualificação dos profissionais em cursos de capacitação e a melhora nas relações de trabalho nos sindicatos.

As conquistas foram responsáveis pela ampliação de direitos fundamentais já regulamentados pelas lutas dos sindicalistas em diversas categorias, mas não ainda estavam efetivamente aplicados dentro da própria realidade de atuação dentro dessas entidades.

“Durante a existência do Sindesind nós conseguimos efetivar vários acordos coletivos que trouxeram conquista de direitos aos trabalhadores em sindicatos. Foram acordos satisfatórios que permitiram grandes avanços na realidade da força de trabalho sindical”, comenta a coordenadora do sindicato dos trabalhadores e trabalhadoras em sindicatos. 

Gerlane relata que a luta, no entanto, esbarra na falta de reconhecimento de alguns sindicatos como empregadores, o que acaba por acirrar a aproximação de órgãos que promovam a intermediação entre os empregados dessas entidades e os dirigentes sindicais. 

Visita ao Ministério do Trabalho e Emprego em uma das solicitações de acordos coletivos do Sindesind/RN em prol da categoria sindicatária. REPRODUÇÃO/FACEBOOK

“Tem muitas entidades que, a partir do contato do Sindesind, passaram a investir na melhoria das relações de trabalho, a promover cursos de capacitação e qualificação. Tem outros, também, que batem a porta na nossa cara, negando o apoio ao nosso trabalho”, afirma Gerlane, educadora popular e trabalhadora, durante toda a sua carreira, de entidades sindicais. 

Precisamos que essas pessoas defendam a classe como um todo, não somente a categoria a qual eles pertencem. É sempre como se fosse algo à parte. Muitos não conseguem se entender enquanto empregadores, e é como se fosse algo distante deles. Com isso, fazem ações extremamente contraditórias do ponto de vista da identidade de classe. Há relações muito verticalizadas. Como há um fluxo grande de mudanças nas diretorias, muitas vezes surgem relações conflitantes entre os trabalhadores que pertencem ao quadro do sindicato”. 

Foi a partir do contato do Sindesind com sindicatos e da luta em prol da categoria que a entidade pôde conquistar direitos como a redução da jornada de trabalho para seis horas, a promoção de cursos de capacitação e qualificação e a melhoria nas relações de trabalhos dos empregados nas entidades sindicais. Essas conquistas se deram a partir dos esforços reunidos por meio de acordos coletivos em defesa do trabalho e pela atuação da categoria sindicatária. “Nossa bandeira, agora, é pelo reajuste de salário dos trabalhadores em sindicatos”, completa a coordenadora do Sindesind/RN.

Para Gerlane, “o grande desafio é fazer os trabalhadores em sindicatos se reconhecerem, também, como sujeitos de classe, também passíveis de defender sua categoria enquanto trabalhador e trabalhadora junto das lutas já defendidas pelos sindicatos", argumenta.

“São muitos os desafios que encontramos até mesmo dentro das próprias entidades sindicais, mas nossa luta é se aproximar junto aos trabalhadores e trabalhadoras para que possamos, juntos, lutar pelos direitos que devem nos ser garantidos e que com muita luta já demos grandes passos em busca de melhores condições de trabalho para nossa categoria”, conclui Gerlane Silva. 

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