Manifestantes fazem carreata e seguem a pé do Campus Central a reitoria contra intervenção no IFRN
Natal, RN 24 de abr 2024

Manifestantes fazem carreata e seguem a pé do Campus Central a reitoria contra intervenção no IFRN

17 de setembro de 2020
Manifestantes fazem carreata e seguem a pé do Campus Central a reitoria contra intervenção no IFRN

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Professores e estudantes do Instituto Federal do RN (IFRN) protestaram na manhã desta quinta (17) contra a política interna adotada pelo interventor da instituição, o professor Josué de Oliveira Moreira. O grupo fez uma carreata da Zona Norte ao Campus Central e, em seguida, seguiu a pé até a reitoria. “Ele tem se demonstrado autoritário e maltratado servidores. Não permite que outros participem das discussões e já chega às reuniões com a decisão tomada”, critica Clarissa Felipe de Oliveira, servidora do IFRN do Campus Cidade Alta.

Os manifestantes denunciam que a nova administração, além de ilegítima, tem incentivado um clima interno de perseguição. “O diretor de tecnologia da informação enviou um ofício ao interventor denunciando que o email institucional estava sendo usado para desrespeitar as normas internas da instituição. Ninguém tem acesso a essas denúncias, não sabemos nem qual o conteúdo, o que foi anexado como prova”, denuncia Clarissa.

O retorno às aulas de forma remota no IFRN está marcado para 5 de outubro. No entanto, o planejamento de como se dará essa volta ainda é motivo de divergência interna. “Durante esse período ele ameaçou colocar 8 aulas por dia, 4 pela manhã e 4 à tarde, além dos sábados e domingos. Foi algo que nos preocupou muito. Aqui é minha segunda casa e, por isso, defendo o Instituto ao máximo, vim do ensino público que é extremamente precarizado. Aqui é outra realidade, temos vários laboratórios, excelentes professores que acabam despertando na gente o gosto de aprender. Não estou lá porque meus pais me obrigam, mas porque eu gosto. É importante ressaltar que a intervenção não é só aqui, fica claro que é um projeto político de dominação das escolas públicas de qualidade para que os ideais de um governo sejam propagados e o movimento estudantil silenciado”, alerta Marcos Vinícius Gomes, estudante do 1º ano de Equipamentos Biomédicos do Campus de Ceará-Mirim.

Clarissa e Marcos seguram faixa em protesto I Foto: Mirella Lopes

Outra preocupação dos alunos com o retorno das aulas remotas e um plano de retomada criado às pressas, é com a falta de acesso dos estudantes ao auxílio para aquisição de equipamentos e internet para o acompanhamento das aulas à distância.

O auxílio não abrange a todos e ainda está sendo feito às pressas. O interventor age de maneira autoritária não está aberto a conversar com os pais, alunos ou servidores. É uma situação complicada porque a equipe dele sequer está completa. Muitos professores da pesquisa que poderiam nos ajudar saíram dos cargos por causa da intervenção, que só tem nos prejudicado”, desabafa Ana Graziela Albuquerque, estudante do 1º ano do curso de Multimídias do Campus Cidade Alta.

Aluna Ana Graziela durante manifestação I Foto: Mirella Lopes

Desde o início do processo democrático no país, essa é a primeira vez que o instituto passa por uma interdição.

Arrisco a dizer até que é o pior momento na história da instituição, um momento de autoritarismo. Essa gestão tem sido um desastre e nós temos dados concretos disso. Até agora não conseguimos retornar às aulas remotas e nossos estudantes estão sendo prejudicados pela falta de planejamento da Reitoria. Quem organiza o retorno sistêmico da instituição é a Reitoria, mas eles não estão preocupados com isso. Estão preocupados em fazer política, inclusive, externa à instituição. Eles impuseram esse retorno para prestar contas à sociedade, mas é um retorno excludente. Nem todos os alunos conseguirão acompanhar as aulas remotas e isso é muito negativo porque nossa missão social sempre foi de incluir todas as classes sociais. Houve ameaça aos servidores, as assistentes sociais estão enfrentando uma pressão enorme porque foram escolhidas como inimigas nesse processo só porque queriam fazer o trabalho do modo correto”, critica Marcel Matias, professor de Língua Portuguesa.

Além dos estudantes e professores, ex-alunos também participaram da manifestação. “Os ex-alunos do Cefet, IFRN e Etfern têm organizado atos e campanhas de financiamento para que possamos defender nossa instituição. Mesmo como ex-alunos, ela não deixa de ser a nossa casa, a defesa da educação pública é fundamental hoje, é um compromisso que todo mundo precisa ter, não só quem trabalha ou estuda nessas instituições, porque isso é a defesa não só da democracia institucional, mas da democracia do nosso país”, defende Victor Varela, ex-aluno do IFRN.

Foto: Mirella Lopes

Nomeação

O professor José Arnóbio Filho foi o candidato mais votado na eleição para Reitor do IFRN no pleito realizado em dezembro de 2019, com 48.25% dos votos. No entanto, em 20 de abril de 2020, o ex-ministro da Educação Abraham weintraub nomeou Josué Moreira como interventor. Josué sequer participou do processo eleitoral e foi indicado pelo deputado federal General Girão (PSL). Antes de ser nomeado interventor, o professor Josué Moreira já tinha sido candidato a prefeito de Mossoró duas vezes e suplente a Senador com 1% dos votos.

Nomeações questionadas Brasil afora

O caso do IFRN não é o único. Desde 2019, o presidente da República fez uma série de nomeações que desrespeitam a votação interna dos Institutos federais e Comunidade Acadêmica:

  • Apesar de professores, técnicos e estudantes da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) terem escolhido Rodrigo Codes com 37,55% dos votos e Jean Berg com 24,84%, em uma passagem relâmpago por Mossoró no final do mês de agosto, Bolsonaro nomeou Ludimilla Carvalho Serafim de Oliveira como reitora da instituição. Ludimilla foi a terceira colocada na eleição com 18,33% dos votos;
  • Já nesta quinta (17), o presidente Jair Bolsonaro nomeou o engenheiro e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Carlos André Bulhões Mendes, como reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Carlos André foi o último colocado na lista tríplice em votação interna da comunidade acadêmica;
  • A primeira nomeação questionada aconteceu na Universidade Federal do triângulo Mineiro (UFTM), ainda em junho do ano passado, quando o presidente decidiu nomear o segundo colocado da lista tríplice, o professor Luiz Fernando Resende dos Santos;
  • Em agosto de 2019 Bolsonaro nomeia o último colocado da lista tríplice como reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, o professor Fábio Josué Souza dos Santos;
  • Também em agosto de 2019 Jair Bolsonaro nomeia o candidato menos votado à reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque, com apenas 4,6% dos votos;
  • Na Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), o nomeado ficou em 4º lugar com 5,2% dos votos;
  • O nomeado para o Cefet-RJ sequer fazia parte do quadro funcional da instituição e era assessor do Ministro da Educação;
  • Em junho de 2019 a reitora nomeada não concorreu na eleição da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), nem tinha o nome na lista tríplice;
  • No Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) o interventor nomeado Lucas Dominguini se recusou a assumir o cargo que, agora, é ocupado pelo reitor eleito Maurício Gariba.
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