Manuela D’Ávila no Roda Viva: quando a entrevista revela o jornalista
Natal, RN 18 de abr 2024

Manuela D'Ávila no Roda Viva: quando a entrevista revela o jornalista

26 de junho de 2018
Manuela D'Ávila no Roda Viva: quando a entrevista revela o jornalista

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O coletivo Jornalistas Livres fez as contas: Manuela D’Ávila foi interrompida 62 vezes durante a entrevista que concedeu segunda-feira (25) ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Nenhum outro pré-candidato à presidência da República teve a fala tão cortada ao meio como Manuela.

Entre os demais pré-candidatos à presidência da República há apenas duas mulheres.

Num comparativo rasteiro, Ciro Gomes (PDT) foi interrompido 8 vezes, ou seja, Manuela teve a fala suspensa quase oito vezes mais que o concorrente.

Se a candidatura de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara pelo PSOL joga luz no debate sobre a falta de moradia e a questão indígena no país, a presença de Manuela D’Ávila entre os pré-candidatos é essencial para o Brasil entender o papel de protagonismo da mulher na política.

E para mostrar que o machismo é contracorrente que salta aos olhos em qualquer ambiente ou instância de poder.

Entrevistas e interrogatórios são duas formas distintas de obter informações de um interlocutor.

Aos jornalistas, por ofício, cabem a primeira opção. Os policiais, promotores, juízes e torturadores são adeptos da segunda.

Entrevista é um jogo. O jornalista ganha quando consegue deixar o entrevistado tão à vontade que a entrevista acaba virando uma conversa e inicia-se ali, ainda que por poucos minutos, uma relação de confiança. Afinal, ninguém conta um segredo a alguém que não confia.

E o desafio de quem entrevista é justamente tirar do entrevistado algo que ele guarda e não contaria a qualquer pessoa.

Aliás, entrevistas têm muito mais de psicologia do que de comunicação.

Essa nova versão vigarista do programa Roda Viva, da TV Cultura, simplesmente desmonta os princípios básicos da entrevista.

A presença de um dos coordenadores da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), Frederico D’Ávila, na bancada de entrevistadores, foi um desserviço ao jornalismo brasileiro.

É inadmissível que uma emissora educativa convide para um programa um sujeito que defende em TV aberta a castração química de seres humanos, sejam eles acusados ou condenados pelo crime que for.

Ao vivo, os telespectadores assistiram uma pré-candidata à presidência da República ser interrogada.

À Manuela, não foi dado nem o direito de questionar. Foi chamada de mentirosa pelo filósofo Joel Pinheiro porque, assim como milhares de juristas do Brasil e do mundo, não viram uma única prova na sentença do juiz Sérgio Moro contra o ex-presidente Lula.

Nos porões da ditadura militar, os agentes da repressão costumavam perguntar aos presos sobre as relações deles com países socialistas e comunistas, a exemplo de Cuba e União Soviética.

Na tentativa de arrancar confissões de Manuela sobre Venezuela, Stalin e até a China comunista, os interrogadores usaram o machismo e a misognia como chicote.

“Lute como uma garota”, lia-se na camisa da pré-candidata do PCdoB.

Definitivamente, não foi por acaso.

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