Militância progressista tem que largar a “pauta moral” e partir para a Economia
Natal, RN 18 de abr 2024

Militância progressista tem que largar a "pauta moral" e partir para a Economia

10 de outubro de 2018
Militância progressista tem que largar a

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Ok. Todos nós sabemos que aquele cujo nome não deve ser dito é homofóbico, racista, misógino e intolerante, além de despreparado e ignorante. Mas, sabemos também que o fato dele ser racista, misógino e intolerante é JUSTAMENTE o que faz tanta gente apoiá-lo e votar nele.

E sabemos agora, ou deveríamos sabê-lo, que os excessos da militância progressista em expor seus defeitos (defeitos para nós, progressistas; para conservadores e trogloditas, todas as citadas são qualidades) acabaram fazendo propaganda dele durante quase dois anos.

Mas. não se deve chorar pelo leite derramado. Política é dinâmica e, como se sabe, segundo turno é uma nova eleição.

Porém, o erro não deve ser cometido novamente. É necessário esquecer nesse segundo turno a pauta "moral". Esqueçamos que ele odeia negros, gays e acha as mulheres seres que devem ganhar menos ou frutos de uma fraquejada. Afinal, nosso vizinho também pensa assim. E os tios do grupo de Zap. E a tia-avó que faz bolo de cenoura delicioso também pensa assim. Parcela da população brasileira pensa igual a ele, flerta assimilada ou dissimuladamente com o fascismo. Entendamos isso como claro e certo e pronto. Nada mais de pauta moral e de costumes.

Como sentenciou Bill Clinton no histórico debate contra George Bush pai, "é a Economia, estúpido!"

O "Coiso", como dizem, não tem nenhuma moção de Economia e seu ministro da Fazenda, se eleito, Paulo Guedes, o seu "Posto Ipiranga" é privatista, liberal e pretende manter a política econômica de Temer e até aprofundá-la.

Manter a política de Temer, que não chega a 5% de aprovação e tornou-se um cadáver político, dá para entender?

Essa é pauta a se tratar neste segundo turno, em termos estratégicos, e muita gente boa já escreveu ou sinalizou isso. Falta a militância, principalmente aquela espalhada pelas redes sociais (principalmente Facebook e os "grupos de Zap") entenderem isso.

Claro que as perdas civilizatórias com a eleição do "Coiso" senão devastadoras e já percebemos isso até mesmo antes da eleição, com agressividade e ofensas de apoiadores da criatura se manifestando real e virtualmente. Mas, faltando três semanas para a eleição em segundo turno, não adianta debater pauta LGBT ou dívida histórica com o senhorzinho da bodega ou dona Maria que vende trufa na esquina.

Eles estão preocupados com o bolso (não o Naro, mas o deles, e já pedindo perdão pelo péssimo trocadilho). Como boa parte da população brasileira, que enfrenta problemas éticos e morais, sim, mas entre um pagamento de boleto e a compra do gás de cozinha. Para estes, a pauta a ser discutida é a econômica. Quando se diz econômica, fala-se em "papo reto", claro, não em "economês". Não importa a taxa Selic ou a Bolsa de Valores para a imensa maioria da população. Importa se o gás de cozinha vai aumentar, o preço da gasolina e o quilo da carne de segunda.

Essa compreensão da economia explica os índices de voto dados a Lula (gravitando entre 40% antes de Haddad ser oficializado candidato). A pessoa lê a notícia sobre Lava-Jato, Petrobrás, Moro, mas lembra de como era sua vida financeira nos Governos Lula.

Essa compreensão ainda não entrou na pauta de parte importante da militância, que não sai das "pautas morais" e comete erro duplo: prega para convertidos, ou, pelo contrário, tenta convencer pessoas homofóbicas, misóginas e racistas que é ruim o candidato delas ser exatamente homofóbico, misógino e racista,

Parafraseando a velha frase da saúva: Ou a militância de Haddad acaba com a pauta moral (e parte para a dialética da pauta econômica) ou a pauta moral acaba com a militância de Haddad e com a chance de vitória do próprio.

E para finalizar: Mais vale conversar com a vizinha fofoqueira que vota no "mito" mas não sabe o que é nazismo do que mandar dezenas de vídeos contra o Coiso para a bolha de amigos, não é? Reta final de campanha é mais diálogo que bolha de rede social.

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