Mortalidade por Covid 19 é maior entre os mais pobres em Natal, aponta pesquisa
Natal, RN 26 de abr 2024

Mortalidade por Covid 19 é maior entre os mais pobres em Natal, aponta pesquisa

8 de junho de 2020
Mortalidade por Covid 19 é maior entre os mais pobres em Natal, aponta pesquisa

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Por Valéria Credidio, especial para a agência Saiba Mais

A renda é fator determinante na mortalidade por Covid-19. Os dados analisados para a cidade de Natal mostram que as consequências desta epidemia são severas para todos, no entanto, seus efeitos são devastadores para a população vulneráveis de baixa renda. O grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - e Universidade Federal do Ceará -UFC - analisou os dados epidemiológicos e a letalidade da doença baseado em dados de geoprocessamento dos casos e óbitos. Os mapas apresentados pelos cientistas apontam o panorama das disparidades de desfecho da doença na região metropolitana.

As taxas de mortalidade - a chance de alguém com a infecção morrer por causa do Coronavírus - na cidade de Natal dependem fortemente da localidade. Da mesma forma, a transmissibilidade – conhecida entre os pesquisadores como R(t) - da doença e os calculados com modelo epidemiológico MOISAIC, também depende da localidade. De acordo com o levantamento, a taxa da zona Norte de Natal é de 4,49% e na zona Oeste é de 4,18%, já na zona Sul é de 1,47% e na zona Leste de 2,97%.

- Ou seja, se dividirmos Natal em duas grandes regiões Norte-Oeste e Sul-Leste, teremos duas populações que diferem muito em renda média, condições socioeconômicas e nas taxas de mortalidade por COVID-19”, explicou um dos pesquisadores a frente do trabalho, professor José Dias do Nascimento, do Departamento de Física da UFRN.

Vale ressaltar que, de acordo com dados do censo do IBGE, a região Norte-Oeste tem renda média de R$ 470 e a região Sul-Leste apresenta renda média de R$ 1603,00.

“A Covid-19 é uma lupa de aumento dos problemas socioeconômicos estabelecidos ao longo dos anos. O Brasil sofrerá particularmente se a Covid-19 não for controlada a tempo. A pandemia poderá se transformar de forma muito rápida em uma crise humanitárias com forte viés socioeconômico”, argumentou o professor da UFRN.

Ele ainda reforça que o estudo desenvolvido aponta para a necessidade primordial de utilização de diferentes cuidados e desenvolvimento de políticas focadas em populações vulneráveis para que se tenha efeitos estabilizadores na sociedade como um todo.

É justamente esse ponto que a pesquisa demonstra, quando aponta que as zonas Norte e Oeste apresentam taxas de mortalidade duas vezes maior do que do restante de Natal. A explicação, de acordo com o pesquisador, está na junção de vários fatores econômicos e, principalmente, sociais.

“A contaminação é grande em todas as classes sociais, porém os desfavorecidos têm, estatisticamente, desfechos fatais", enfatizou.

De acordo com a pesquisa, fortes evidências apontam na direção de uma série de vulnerabilidades subjacentes que contribuem para a morte por infecção e com causas ligadas, principalmente à desigualdade de renda e outras formas de disparidades.

“Vulnerabilidade é bem largo e matematizar isso é um desafio. Porém, a renda está na base do problema”, explicou professor José Dias. Ele ainda ressaltou que há outros fatores importantes, como proteção social, saneamento, densidade domiciliar, acesso a alimentos, nutrição balanceada para crianças pequenas, mulheres grávidas e que amamentam, idosos, grupos de risco, acesso a visita médica regular que identifique doenças críticas.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região também é mais baixo, o que representa piores condições de vida para a população.

A análise ainda levou em conta dados geoprocessados, que demonstraram que o isolamento social tem grande correlação com as diferentes populações.

“Pessoas de baixa renda precisam sair de casa. Ou seja, nosso estudo também é um guia para que a gestão pública entenda que não se pode segurar ninguém em casa sem dar condições. É um problema dinâmico”, finalizou.

A seguir, os mapas construídos pelos pesquisadores, que são peças importantes no entendimento dos próximos passos referentes a estratégia de isolamento mais restrito, gerência das soluções de mobilidade e impacto sócio econômicos das medidas

Taxa de mortalidade em função da renda para quatro zonas de Natal. No gráfico, óbitos acumulados em função de casos acumulados por diferentes zonas. Cada ponto é um bairro de Natal.

Pesquisadores José Dias do Nascimento (Física - UFRN); César Renno-Costa (IMD-UFRN); Leandro Almeida (Física - UFRN); Renan Cipriano Moioli (IMD - UFRN), José Soares (Física - UFC), Humberto Carmona (Física - UFC),   Wladimir Lyra (NM, USA), Colaboradores: Ricardo Valentim (LAIS-UFRN), Ion Andrade (LAIS-UFRN).

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