MST planeja abrir Armazém do Campo em Natal e pede apoio ao Governo do RN
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no Rio Grande do Norte espera tirar do papel em breve um sonho antigo dos agricultores: o Armazém do Campo, espaço onde o MST comercializa produtos orgânicos e desenvolve ações culturais, reunindo artistas engajados na defesa da reforma agrária no país.
Há um diálogo costurado com o Governo do Estado para a cessão de um prédio público onde os agricultores possam instalar o Armazém em modelo semelhante ao que já existe em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Petrolina. Apesar do interesse, não há prazo nem definição sobre o espaço a ser cedido.
A governadora Fátima Bezerra (PT) recebeu na segunda-feira (1º) representantes da executiva nacional e estadual do MST. Entre as pautas debatidas no encontro estava o Armazém do Campo. O secretário de Estado de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar Alexandre Lima foi designado para tocar o projeto.
Procurado pela agência Saiba Mais, ele afirmou que o Governo instalou uma mesa de negociação permanente com o MST:
- Vamos avaliar e ver qual a melhor opção para viabilizar essa demanda”, disse.
O diretor da executiva estadual do MST Hilder Andrade explica que as negociações começaram no início de 2019 e estão evoluindo agora:
- A gente apresentou a sugestão para a governadora, foi uma das propostas de campanha dela e formalizamos o pedido no início do ano passado. A ideia é garantir um prédio onde a gente possa fazer a instalação do Armazém e futuramente veremos outras formas de apoio. Muitas vezes é a governadora que nos cobra o projeto. Por ela, acho que vai andar. Vamos ter uma conversa na próxima semana”, disse.
O Armazém do Campo vende tanto alimentos orgânicos como industrializados. Andrade diz que os acampamentos do MST no Estado já têm condições de oferecer feijão e farinha. Já outros produtos, a exemplo de arroz, café, açúcar e cachaça viriam das cooperativas organizadas pelo Movimento no sul do país.
A produção local deve aumentar em breve. As duas agroindústrias que tiveram projetos lançados no final do ano passado – e serão construídas nos municípios de Pureza e Ceará-mirim - já estão na fase da tomada de preço e vão incrementar o cardápio com milho, cuscuz, frutas e macaxeira:
- Há uma demanda enorme de produtos e no Nordeste só há Armazém do Campo em Recife e Petrolina. É um espaço de comercialização de alimentos, mas também de cultura. Teremos ações literárias e apresentações de músicos, poetas e artistas que estão com a gente na luta pela reforma agrária no país. É um espaço de encontro”, disse.
O MST acompanha no Rio Grande do Norte aproximadamente 50 assentamentos e coordena 35 acampamentos, incluindo as comunas. Juntos, os espaços reúnem mais de duas mil famílias.
Impasse sobre terreno do Centro de Formação Patativa do Assaré segue há 17 anos
Durante a audiência com os representantes do MST, a governadora Fátima Bezerra sugeriu a ampliação das atividades oferecidas no Centro de Formação Patativa do Assaré, localizado em Ceará-mirim, incluindo cursos profissionalizantes.
Antes desse passo, no entanto, os agricultores cobraram a cessão definitiva do terreno, que pertence Patrimônio da União. Havia uma negociação em andamento durante os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, mas o chegada de Temer e, principalmente a eleição de Jair Bolsonaro, esfriaram o acordo.
- É terreno é do Patrimônio da União e a gente já vinha dialogando para fazer cessão da área. Mas como atrasou tudo e esse novo governo não trata mais com o MST passamos a conversar com o Estado. A ideia é que a prefeitura de Ceará-mirim também se manifeste junto ao Governo Federal”, explica Hilder Andrade.
O secretario de Educação Getúlio Marques explicou que é preciso destravar “empecilhos” com a prefeitura local:
“Já tivemos diversas reuniões sobre assunto. Estávamos com quase tudo certo, mas a mudança de gestão municipal trouxe empecilhos que impossibilitaram o avanço neste processo”, afirmou o secretário de Educação Getúlio Marques, durante audiência com os trabalhadores.
O MST ocupa o terreno há 17 anos. Atualmente, o Centro de Formação Patativa do Assaré mantém parcerias firmadas com a UFRN e o Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Durante quase duas décadas o MST formou no Rio Grande do Norte jovens pedagogia, ciências sociais, magistério e enfermagem através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), extinto pelo governo Bolsonaro em março de 2020. A primeira turma de Geografia se forma em breve.
Presente no encontro, a deputada estadual Isolda Dantas elogiou a atuação da governadora diante da discussão.
“Como é bom ver um governo que recebe um dos movimentos mais importantes da América Latina e que faz uma pauta constante de transformação da sociedade”, disse.