há mulheres dentro de mim
mais do que as várias mulheres
que me habitam
duas mulheres olham
pelas janelas do meu corpo
avistam chamas
imergidas pelos poros
afogadas em minhas águas
derramadas em meu ventre
mulheres que aumentam
minhas fomes
nada inocentes
nadam
marcantes
como devem ser minhas mulheres
como se faz toda mulher
ardem
me ardem inteira
e levam meu corpo
pra onde querem
transformado
irreconhecível
que o espelho sopra belo
e me olha com ares devotos
e novamente sopra belo
como uma casa abandonada
coberta das árvores mais antigas
minhas árvores mais antigas
caídas aos pés
das minhas mulheres
que me lançam frutos
e me prendem os olhos
dessas mulheres escuto os gritos
mesmo que tudo me seja silêncio
e uivo
cavalos selvagens
uivo
lobas entregues
uivo
pássaros no céu de minha boca
bicho e poeira
sinto suas garras
em minhas carnes
abandono meus lenços
e chapéus
pra elas me dispo
todos os dias
sou mais mulher
todos os dias
sou três
asas