Música que desarma
Natal, RN 19 de abr 2024

Música que desarma

5 de junho de 2020
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Eu realmente não conheço a dimensão da fama do forrozeiro Flávio José. E mesmo após um google, escrevo ancorada também em memórias. “Tareco e Mariola”, “Caboclo sonhador”, “Cenário de amor”. Caso não faça ideia do que significam esses títulos, dê uma chance. E pra não dizer que não apelei às urgências atuais… sim, em tempos de pandemia, ando ressignificando lembranças.

Essas canções são traços vivos de infância para mim. Fazem parte da fictícia playlist “Músicas que sempre conheci”. São versos que não integram o universo de um disco; não em meu imaginário; mas sim são palavras que habitam vivências, épocas, vidas. Provocam sentimentos que não foram forjados por críticos ou entendidos do assunto.

É música que desarma. É voz que anuncia grave, quase cerimoniosa, um momento para os afetos, uma rede convidando a balançar. No rádio, essa voz organiza os dias e horas, café, almoço e janta. É música que dita o ritmo do tempo, como trilha sonora da vida. É som que desperta e faz dormir.

Voz que nada diz por si mesma, figura marginal, fala por meio de outro. O compositor é um inventor de versos, seus, por natureza, e tomados por tantos. Por isso, Flávio José é Accioly Neto, Petrúcio Amorim, Dorgival Dantas. Vozes diversas que compõem e abrandam o real.

São tantas vozes que, vez ou outra, alguma delas é redescoberta, ou seria descoberta? Alguém ouve por acaso, logo anuncia aos seus; e em estágios mais avançados, suas frases até estampam camisetas; e assim está criado um ícone.

Quando Elis Regina tomou para si “Como os nossos pais”, ela definiu o compositor dos versos, Belchior, como “alguém que não faz nada por fazer”. Hoje, décadas depois, vendo a circulação do falar dele por aí, tenho certeza disso. Belchior ficou pop? Não. Apenas lhe deram mais uma chance e umas ouvidas. É justo.

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