Ensaiei algumas vezes, mas finalmente consegui ler O amor nos tempos do cólera. Para além do encantamento costumeiro com a prosa de García Márquez, a verdade é que já não me fascinam as histórias de amores impossíveis. Nada contra, tenho até amigos que gostam. Também não vou dizer que precisamos parar de romantizar o romance. Longe disso.
Leiam García Márquez, ouçam Chico Buarque, façam mapa astral, tomem vinho, assistam comédias românticas; velhas e novas. Depois coloquem o lixo pra fora, façam a lista de compras, deem uma geral na cozinha, lavem a roupa de cama. Bem mais fácil que esperar cinquenta anos por alguém, né?
E isso é lá amor de cinema? Ou de literatura? Mas alguém quer mesmo viver um amor de cinema? Se for o caso, talvez seja preferível investir na atuação e viver não apenas um, mas, sim, vários romances cinematográficos. Eu acredito que o que resta a nós, pobres mortais, seja mesmo um amor simples e óbvio. Quase banal. O que não é ruim.
Eu, inclusive, andei pensando na fineza que é quando Ângela Ro Ro canta assim: “não chegue na hora marcada”. É bonito, porque cai o roteiro presumido dos amores. Porque talvez nem existam marcações, nem reviravoltas no enredo. E tudo que exista seja mesmo uma eterna improvisação.
Ainda assim, a gente se arranja. O quanto de controle temos em mãos? Pouco. Mas a gente se arranja, sim. Descendo ladeira por aí, aprendi a pedalar. Correndo desesperada, consegui pegar o ônibus. Mudei o caminho. Pedi um táxi. Cheguei a tempo, ainda que não tenha chegado na hora marcada.