Não é o fim da linha, só o começo da luta!
Natal, RN 25 de abr 2024

Não é o fim da linha, só o começo da luta!

1 de novembro de 2018
Não é o fim da linha, só o começo da luta!

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Era sábado, dia de levar minha filha a mais uma competição de tênis de mesa, além de véspera de eleição. Pegamos, como de costume, o vagão das mulheres. Rosto banhado de suor, com braços de luta, de labuta, pendurados no ar, uma mulher contava uma história e, no começo, o lamento fez com que algumas imaginassem que era um pedido de esmola. Mas ela avisou: não peço esmola, não peço voto, só um momento de reflexão.

Uma amiga havia sido morta pelo companheiro na semana anterior. Fez o pudim que o marido gostava, preparou um jantar farto, tentou agradar de todo jeito. Ele bebeu umas a mais, tinha uma arma em casa e, no meio de uma discussão, matou a esposa, sem dó nem piedade.

A medida em que ela narrava, uma mãe pegou a filha pelo braço e a afastou para o outro lado do vagão, distante da mulher. Cada palavra dela, me arrepiava a alma. Mais ainda quando percebi o quão poucas eram as mulheres que ouviam com atenção e sororidade, que era o que ela esperava ao entrar naquele vagão.

Mesmo assim, ela não se intimidou e pediu, a todas que ali estavam, que pensassem bem no que queriam para o país, que “é natural termos desentendimentos com nossos companheiros, mas não podemos permitir que o fim dessas brigas seja trágico como o da minha amiga”, terminou, aos prantos. Eu a minha filha nos entreolhamos, emocionadas, e batemos palmas, quase que sozinhas, seguidas de no máximo uma ou duas mulheres. Antes de sair, gritou com orgulho e coragem: “Ele não!”

Não consegui conter as lágrimas, em parte pela força dela, em outra pela falta de empatia do resto do vagão, e muito pelo presságio da realidade que está por vir, e que, não sei como, ainda encontra apoio de milhares de mulheres, como a mãe que afastou a filha daquela mulher, que lutava pelos direitos das duas. Um choro compulsivo, consolado pelos ombros da minha menina, Marina, para quem espero um futuro melhor.

Muitas são as guerreiras que entoaram #EleNão mesmo após o resultado das eleições, mas a heroína anônima do metrô é o maior símbolo de resistência que marcou a minha memória e que trouxe pra nossas vidas uma esperança: a de que o resultado da eleição não é o fim da linha, só o começo da luta!

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