Não é só irracionalidade…
Natal, RN 20 de abr 2024

Não é só irracionalidade…

10 de setembro de 2018
Não é só irracionalidade…

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E quando todos se preparavam para o feriado, um “lobo solitário” no meio da multidão em Juiz de Fora-MG acerta uma facada no bucho de Bolsonaro. As primeiras imagens, sem definição, mostravam um grande alvoroço. Muitos de nós lembramos da bolinha de papel de outras campanhas. No Twitter, o filho dizia que não era nada, só um arranhão. Uma foto mostrava o candidato entrando no hospital andando, logo, ele deitado com os enfermeiros sem luvas. Um pouco mais tarde, no twitter, o filho dizia que o pai quase morreu e pedia orações.

Nas redes sociais e no Whatsapp, as teorias mais mirabolantes: uma grande armação para chamar a atenção, era uma faca retrátil, não tinha sangue. Eleitores de todas as cores comemoravam o fracasso da “ação de marketing”.

No rádio e na televisão, os primeiros sinais de que a facada era real. O candidato passou por uma cirurgia de grande porte, precisou receber sangue e logo seria transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

E em plena segunda-feira, ainda tem gente desconfiando de armação.

É o mais grave sintoma da crise de informação que vivemos no Brasil e também no mundo. Estamos gravemente incapazes de dialogar com a realidade pela queda na confiança dos meios de comunicação e pela inundação de desinformação que nos chega a cada instante.

Na hora do alvoroço de quinta-feira, as informações mais corretas e atualizadas chegavam dos grandes meios de comunicação, especialmente da Rede Globo (golpista ou comunista, varia do freguês), graças aos diversos repórteres espalhados em todos os pontos, como só um monopólio midiático consegue reunir.

Como saber se a Globo não estaria metida na armação com Bolsonaro? João Filho, no Intercept Brasil, bem explica que não seria fácil armar uma conspiração dessas. Mas todos nós já vivemos o dia em que vimos a televisão mentir descaradamente sobre nossa própria realidade. Em tempos de irracionalidade eleitoral, não dá para condenar os que desconfiaram da narrativa dos fatos – ela própria carregada de irracionalidades.

Neste cenário, não há solução instantânea para as onda de desinformação desses nossos tempos. Não vai haver algoritmo eficiente contra fake news. Não adianta bloquear, limitar a circulação de (des)informações se não resolvermos as reais origens disso tudo. Precisamos educar midiaticamente os cidadãos, desde a primeira infância, precisamos tornar transparentes os processos de comunicação aos quais estamos submetidos e precisamos de diversidade na mídia para garantir a recuperação da confiança dos telespectadores, ouvintes e internautas – e nada disso vai acontecer enquanto os donos da mídia seguirem confortavelmente sentados sobre a caixa preta das comunicações no Brasil.

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