Eu nunca quis ser astronauta. Sempre me bastou essa pequena parcela do universo a mim reservada. Não quero explorar novos mundos ou planetas, embora acredite em Deus e na ciência. Pode parecer até falta de ambição ou pura resignação, mas longe disso. Mesmo febril, ainda há muito a descobrir nesse mundo nosso e no tempo de cada um.
Ouvi Beatles pela primeira vez aos 16. Só vi o mar aos 18. Fui ao cinema já com 19 anos. Com 20 assisti o Poderoso Chefão. E, nesse dia, meus parcos recursos culturais não me impediram de atestar: estava diante de um artista. O Al Pacino foi a primeira e mais potente noção de arte que tive. Foi uma pancada. E a certeza de que viveria a vida em assombro. Grandes e bobos assombros.
O cheiro de tudo. Os gostos. E como tão banais sentidos são chave para voltar a épocas e tempos. Com isso, me assombro. Mas não me assombra o tempo. A ele, só respeito. Eu nunca quis ser astronauta. Nunca verei as cores do universo. Não saberei se são realmente cores ou fenômenos. Ou ainda só ilusão.
Será que os astronautas reparam no azul? Ou limitam-se a explicá-lo? Será que eles conhecem toda a variedade de azuis possíveis? Os astronautas, que tanto sabem e explicam, apenas param e vêem. O azul, o verde, o vermelho. E sentem os gostos, os cheiros? Se eu fosse um deles, não perderia tempo.
Mas, não, eu nunca quis ser astronauta. Não poderia ser tanto nesta vida. Já pesam nas costas as dores e angústias deste mundo nosso. Não dou conta de outros mundos. Não saberia precisar sequer se eles existem, mas disso não me assombraria. Só me assombro com tanto universo, para tão pouco astronauta. Que pena eu não ser astronauta.