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4 de setembro de 2017
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Há mais em comum entre o prefeito Carlos Eduardo Alves e o governador Robinson Faria do que gostariam as respectivas comunidades de cegos. Ambos foram eleitos mais por manipularem o recall de debilidades alheias — Carlos, as da antecessora, Robinson, as do oponente — do que por virtudes pessoais ou méritos de gestão incontrastáveis. São, portanto, o produto da aplicação de técnicas de marketing negativo sobre o eleitor disposto a negociar desejos e baratear expectativas.

O problema com os truques eleitorais é que, desfeita a bolha de campanha, a magia se desmancha no ar. Sem a mediação das narrativas controladas, as personagens empalidecem. Carlos e Robinson coabitam agora na vala comum da gestão medíocre. Cabe ao leitor decidir se o adjetivo vale pelo sentido denotativo (mediana) ou pelo conotativo (ruim).

Vistos pela lente de aumento da frustração coletiva, os dois não se parecem com políticos experientes, mas com jovens nerds associados numa startup cujo propósito é disseminar a infelicidade geral. Poucas vezes a capital e o estado estiveram simultaneamente em mãos tão ineptas. Um é espelho do outro, com pequenas variações de grau.

Prefeitura e governo atrasaram os salários dos funcionários e os pagamentos a fornecedores; avançaram ilegalmente sobre recursos do fundo previdenciário; têm capacidade zero de investimento e vivem a mendigar lentilhas federais; não têm engenhosidade ou força política para enfrentar mazelas velhas de décadas, como a rede hospitalar estadual e a licitação do transporte público; acumulam suspeitas, citações por delatores ou denúncias formais em escândalos da hora; não têm plano de gestão e atuam de forma errática; governam olimpicamente, sem dialogar com a sociedade; e mantêm relações conflituosas com a mídia que não se matricule nas disciplinas da omissão conveniente e da proteção remunerada.

Incapazes de honrar as promissórias que deixaram com os eleitores, o prefeito da reconstrução e o governador da segurança foram roídos pelo desempenho nos cargos. Com esse passivo de imagem, precisariam de anabolizantes para sustentar os músculos que ainda ostentam em sondagens de origem, abrangência e resultados duvidosos.

A fórmula mais simples seria uma reviravolta na gestão, pouco provável pelo tempo, as ideias e os dinheiros reduzidos. Sem ela, dependerão de novas narrativas miraculosas — e de seus efeitos sobre o eleitor já enfastiado de tanto truque, tanta decepção. A passividade que ele exibe hoje pode ser só o prenúncio da tormenta que despejará nas urnas em 2018.

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