'Nós existimos e resistimos': Parada LGBTQ+ reúne milhares pelas ruas de Natal
"Nosso sangue, nossa luta não terá sido em vão", foi com esse lema que a Parada do Orgulho LGBTQ+ tomou conta da ruas de Natal nesse domingo (27). Pela diversidade, igualdade e respeito, milhares de pessoas caminharam do cruzamento da Bernardo Vieira pela Salgado Filho. A programação foi variada e incluiu ações de saúde, diversos artistas e atrações musicais, trios elétricos, apresentações de grupos de dança e shows de drag queens. Mais de 220 policiais militares, além de efetivo motorizado, foram disponibilizados para garantir a segurança do evento que percorreu a avenida Salgado Filho com encerramento na Arena das Dunas.
Para o pedagogo e ativista do Coletivo LGBT+ Leilane Assunção, Víctor Varela, a parada de Natal é um momento de integração. "Foi ótimo para as pessoas olharem nos olhos umas das outras e enxergarmos nossas humanidades e cores para além das nossas dificuldades e dores". Varela pontua que a ocupação desses espaços foi uma conquista histórica, fruto de muitas lutas e sangue derramado, e que precisa ir muito além de somente a diversão.
A edição marca os 50 anos de Stonewall, um importante símbolo da luta pelos direitos das pessoas LGBTI+ que reuniu uma série de manifestações contrárias ao sistema jurídico anti-homossexual americano. O levante aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho de 1969, no bar Stonewall In, data que entrou para a história do movimento LGBTQ+.
"Precisamos de mais gente pensando e colocando a mão na massa para que a parada seja mais e mais democrática, representativa, politizada, sendo, de modo mais efetivo, um grande campo de nossas lutas", defendeu Varela.
Wilson Dantas, um dos organizadores do movimento também defendeu a importância política do evento. “A Parada é de reivindicação. Ela mostra à sociedade que nós existimos e resistimos”.
A governadora Fátima Bezerra também participou do evento e foi homenageada pelo fórum LGBT:
- “O que a comunidade LGBTI+ quer é respeito e que os direitos dela sejam assegurados. E, enquanto Governo do Estado, é nosso dever, cumprindo a constituição, trabalhar por uma cultura de paz, em prol da cidadania e da dignidade para todas e todos”, destacou a chefe do executivo, que lembrou que o apoio que o Governo tem dado à comunidade é garantido pela Constituição que assegura a igualdade de todos perante a lei:
- “É dever do Estado brasileiro zelar e respeitar os direitos. E nos tempos atuais, onde infelizmente florescem os sentimentos de ódio, de intolerância, de ignorância, de violência, atividades como esta são muito importantes. A comunidade LGBT está aqui em um momento de diálogo com a sociedade dizendo não aos retrocessos e, portanto, cobrando aquilo que lhe é de direito: o respeito à diversidade”, disse.
Para Janaína Lima, coordenadora de Diversidade Sexual e de Gênero da SEMJIDH, o momento é de celebração. “Tivemos uma conquista histórica em nosso Estado que, pela primeira vez, tem uma secretaria para defender os diretos humanos, combater as desigualdades sociais e fazer um RN mais colorido como de fato ele é”, enfatizou a coordenadora sobre a criação da SEMJIDH.
A deputada federal Natália Bonavides (PT), que também participou do evento, vê na parada um espaço também para se manifestar "contra a agenda de retrocessos do governo Bolsonaro nos direitos humanos e a favor da promoção dos direitos LGBTs, como respeito, representatividade e empregabilidade", afirma a parlamentar, que participou do bloco Lula Livre, organizado pela secretaria LGBTQ+ do PT/RN.
Dificuldades na Câmara Municipal
A vereadora Divaneide Basílio (PT) considerou a parada "um momento de celebrar a alegria da comunidade LGBT+". A representante reafirmou seu compromisso com a pauta na Câmara Municipal de Natal. "Nosso compromisso [é] com a construção de uma sociedade que valorize a cidadania para todos e todas, sem discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero".
A vereadora pontuou as dificuldades com as quais projetos que tenham pautas LGBTQ+têm que lidar na Câmara Municipal de Natal. "Toda vez que um projeto LGBT é pautado, ele é tratado como polêmico e encontra resistência - e votos contrários - de parlamentares que não se consideram preconceituosos", relata.
Dentre as conquistas da população LGBTQ+ da cidade do Natal está a criação do Conselho Municipal LGBTQ+ e o projeto que autoriza a construção do Centro Municipal de Referência LGBTQ+ do município.
"A luta é diária e envolve mais do que a pauta do respeito. Tem a ver com a vida das pessoas e disso não dá para abrir mão", finaliza.