“O cenário é otimista, mas é preciso cautela”, avalia especialista em Segurança sobre redução de homicídios
Natal, RN 23 de abr 2024

“O cenário é otimista, mas é preciso cautela”, avalia especialista em Segurança sobre redução de homicídios

2 de agosto de 2019
“O cenário é otimista, mas é preciso cautela”, avalia especialista em Segurança sobre redução de homicídios

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O cientista social e especialista em Segurança Pública Francisco Augusto Cruz vê com otimismo e cautela a redução de 31,3% nos casos de homicídios, entre janeiro e julho, no Rio Grande do Norte. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (2) pela secretaria de Estado de Segurança Pública, que registrou 841 homicídios em 2019 contra 1.224 no ano passado. Os números de mortes violentas são os menores dos últimos cinco anos.

Augusto Cruz enxerga pontos positivos no Governo que levaram a esse quadro inicial, como o aumento de investimentos na área de Segurança, sobretudo no pagamento das diárias operacionais aos policiais militares, além de um trabalho mais sincronizado entre as polícias militar, civil e técnica.

Por outro lado, ele não vê ainda mudança na estratégia de enfrentamento à violência por parte da atual gestão. E cita o aumento da violência policial, responsável por 90 mortes em 2019 (10,7% do total de homicídios registrados no ano), para mostrar que, assim como governos anteriores, a atual gestão segue combatendo violência com mais força:

- Pra reduzir a violência, o Estado precisa aumentar sua força. Sabemos que houve uma mudança de gestão de 2018 pra 2019 e esperava-se que a mudança de gestão acompanhasse uma mudança de estratégia para o enfrentamento da violência no Estado, mas aparentemente não foi isso que aconteceu. A estratégia continua a mesma. Os autos de resistência permanecem elevados e a gente precisa focar nisso. A estratégia é a mesma”, avalia.

Francisco Augusto acredita que a operação Verão realizada pelo governo estadual no primeiro trimestre de 2019 tenha contribuído para a redução dos números. E destaca que tão importante como a queda dos índices de violência é passar para a sociedade a sensação de segurança:

- O primeiro trimestre do ano é o momento em que há a maior redução, embora junho tenha tido uma redução alta, porque é quando ocorre a Operação Verão no Estado, que é conhecida por colocar mais polícia nas ruas. É uma operação para impactar o Estado. O governo também investiu em diárias operacionais o que não investiu em anos anteriores. Então tinha muita polícia nas ruas, a sensação de segurança aumentou um pouco. Alguns fatores são baseados nisso porque o turismo, o comércio e o transporte público sentem e precisam da Segurança”, explica.

Ao se debruçar sobre os dados divulgados pelo Governo, Augusto prefere falar em “estabilização dos números” ao invés de “redução”. E cita a crise no sistema prisional de 2017 como fenômeno com efeitos ainda hoje nas estatísticas geradas pelo Estado:

- O quadro apresentado pelo Governo demonstra uma evolução mensal (da redução nos homicídios) interessante. Quando a gente decompõe os dados, observa a redução no homicídio doloso, que tem relação direta com tráfico de drogas. Em 2017 foi o pior ano, com enfrentamento entre as facções criminosas. Comunidades do Mosquito, Beira rio, todas em conflito. E em 2018, a gente já percebe uma estabilização no numero de homicídios porque o sistema prisional tem estado sob controle, é um período tenso e de resultados positivos. Não temos tido mais rebeliões, parece ter se acalmado. Mas pode ser uma mudança de estratégia das facções criminosas também. Então é preciso ter cautela”, reflete.

Outro dado que chamou a atenção do especialista foi o aumento do número de feminicídios no primeiro semestre. Entre janeiro e julho deste ano, 17 mulheres foram assassinadas pela condição de serem mulheres, elevação e 21% se comparado com o mesmo período de 2018. O espanto de Francisco Augusto Cruz se dá em razão da violência de gênero ter aumentado mesmo com os investimentos do governo estadual na rede de proteção às mulheres, como a inauguração da primeira delegacia da mulher 24 horas.

- É um numero um pouco assustador tendo em vista que o Estado investiu na rede de proteção. Espetamos que no próximo semestre, agora que a delegacia da mulher tem plantão 24 horas, se consolide essa rede de proteção. E também há receio da subnotificação dos feminicídios já que nem sempre o operador de segurança consegue identificar bem esse tipo de crime”, disse.

O fato da maioria dos homicídios ter como vítima jovens entre 18 e 24 anos também é encarado com preocupação pelo cientista social, que diz esperar mais do Governo para entregar os resultados que a sociedade cobra e precisa na área:

- Os números mostram um cenário otimista, mas cauteloso também. Acho que Estado está num caminho interessante. E teve sorte em começar a gestão com a crise prisional resolvida A estratégia que o Governo tem criado ainda é muito incipiente. Temos visto esses resultados. No Rio Grande do Norte seis em cada 10 homicídios está ligado ao tráfico de drogas. A baixa resolutividade dos crimes também é algo absurdo. De cada 10 inquéritos, apenas 4 são resolvidos. Então a Polícia Militar prende e a civil investiga com muita dificuldade até chegar na Justiça.

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