O fotógrafo como personagem
Natal, RN 25 de abr 2024

O fotógrafo como personagem

19 de agosto de 2020
O fotógrafo como personagem

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Uma das minhas poucas e inúteis convicções é de que literatura e vida se misturam em uma fábula só. Nesse fabular, estão ali, ditos e reditos, representados e transmitidos, requentados e transmudados, uma infinidade de tipos humanos: filhas de reis ultrajados, viajantes perseguidos e guiados por deuses, monges assassinos, índios guerreiros, datilógrafas doídas, retirantes nordestinos, manicacas rebelados etc. etc.

No dia 19 de agosto comemora-se o dia mundial da fotografia. Eu estava distraída por aí quando ouvi alguém comentar que fotografar é fabular. Tá. Fiquei matutando sobre isso e me peguei pensando em histórias literárias cujos personagens seriam fotógrafos ou fotógrafas. Certamente, uma listagem possível do público-leitor será mais extensa que a minha porque logo me ocorreu o conto do Julio Cortázar, de sugestivo título “As babas do Diabo”. E parei ali.

Esse conto integra o livro “As armas secretas”, de 1959, e serviu de argumento para o filme de Michelangelo Antonioni, “Blow-Up – depois daquele beijo”, grande vencedor do Festival de Cannes de 1967.

Na trama do conto, Roberto Michel é um tradutor franco-chileno e fotógrafo amador nas horas vagas. Ao sair num domingo à tarde para passear pelas ruas de Paris, nosso personagem flagra uma cena de intimidade entre uma mulher e uma rapaz bem mais jovem do que ela. E assim nosso narrador conta para nós:

Levantei a câmara, fingi estudar um enquadramento que não os incluía, e fiquei na espreita, certo de que enfim os apanharia no gesto revelador, a expressão que resume tudo, a vida que o movimento mede com um compasso mas que uma imagem rígida destrói ao seccionar o tempo, se não escolhemos a imperceptível fração essencial.

Que importância isso tudo tem? Para muitos, nenhuma. É que me ocorreu, a mim que sou apenas uma reles amante da fotografia, reverenciá-la por meio deste artigo. Como diria o mesmo Cortázar no referido conto, “algum de nós tem que escrever, se é que isto vai ser contado”.

Mas, na verdade mesmo, o que eu queria era aproveitar o ensejo do dia mundial da fotografia para movimentar mais essa minha coluna de opinião (mais parada que foto carcomida pelo tempo) e lançar uma espécie de desafio-jogo (que não é da amarelinha) para interagir com possíveis leitores: que tal dizerem a sua lista literária com a temática da fotografia? que tal sugerirem outras personificações de tipos humanos para prosseguirmos nessas fabulações? que tal me contarem?

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