O “novo normal” será complicado para quem vive na base do “8 ou 80”
Natal, RN 19 de abr 2024

O "novo normal" será complicado para quem vive na base do "8 ou 80"

27 de julho de 2020
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Lembro que por diversas vezes, tendo alguma brecha de tempo entre duas demandas ou com hora de voltar para casa ou algum compromisso, convidei amigos para bater um papo e beber duas ou três cervejas e as respostas eram "Não, Cefas, obrigado. Sentar para beber pouco, prefiro nem ir. Só começo a beber se for para tomar uma grade e até de madrugada".
Também recordo de algumas vezes gripado no bar, bebendo um suco de laranja e terminando de assistir uma partida de futebol e um amigo estranhar a situação: "Se for para beber suco e ficar sozinho à mesa sem amigos, prefiro nem ir para o bar, assisto ao jogo em casa mesmo".
Relatei essas banalidades de cotidiano e posturas sociais para abordar um tema importante - equilíbrio-  e um termo da moda que muita gente detesta: o "novo normal".
Equilíbrio parece ou pode ser a palavra-chave para encaramos este novo normal (e na falta de termo melhor ou mais exato continuarei usando-o). Sabemos todos que a pandemia não vai acabar tão cedo, que a vacina não estará já amanhã batendo em nossas portas e que também não será mais possível para muita gente, e por razões diversas, manter-se em isolamento social.
Resta o, cof cof, novo normal. Ou um desconfinamento gradual e seguro, termo usado pelos defensores da "retomada das atividades econômicas". O problema é que no Brasil distópico de 2020 tudo é um Fla x Flu, qualquer debate é cheio de extremos, contrapontos supostamente ideológicos e fúria. Portanto, estamos, para muita gente, entre a manutenção de um confinamento extremo e seguro contra um vírus sem cura e o oba-oba da "volta à normalidade", como se a vacina já estivesse em cada esquina e como se não houvesse amanhã.
Não é por aí. E não é mais possível debater o tema entre o 8 e o 80, entre pólos sempre extremos.
Fingir normalidade e a volta descontrolada à "atividade econômica", como tanto sonhou e preconizou o setor produtivo (com Fecomércio e Fiern à frente) não é o caminho. Trancar-se em casa com medo até de caminhar na praça e achar que qualquer novo normal será igual aos nada inocentes do Leblon e os inconsequentes de Ponta Negra, também não é solução.
Há alguns dias um amigo admitiu que ganhou coragem para sair com a família para uma pizzaria em Capim Macio. Elogiou a postura do estabelecimento. Mesas distantes uma da outra, álcool em gel na entrada, garçons com face shield.
Na sexta e no fim de semana fui conferir como estavam as coisas nos bares e lanchonetes da rua e adjacências, aqui no condado de Eucaliptos, em Nova Parnamirim. Cenário bem animador. Protocolos de segurança respeitados, as pessoas chegando e saindo de máscaras e as tirando apenas na mesa para comer e beber, segurança, enfim.
Tenho que por mim que consigo perfeitamente me adaptar a esta nova maneira de ir em bares e restaurantes. Com proteção e cuidados básicos. Evitando aglomerações. Também será possível fazer pequenas reuniões de trabalho ou resolver questões burocráticas. O vírus não é uma praga do Egito, que se instala por vontade divina entre os infiéis. Há maneiras de se proteger dele.
Que fique claro: Não defendo aqui a tal "retomada completa da atividade econômica". Acho imprudente, inclusive, shopping centers abrirem agora. Escolas, nem pensar, seria um crime. Mas, é possível tomar um café na padaria sem achar que está se sabotando o isolamento e propagando o vírus.
Voltando ao primeiro parágrafo, não sou como os amigos que só sairiam de casa se for para me divertir como o pessoal do Leblon. Nem cair pelas calçadas como os londrinos no primeiro dia de pubs abertos. Posso perfeitamente respeitar todos os protocolos de segurança e sozinho beber minha cerveja e comer meu espetinho de frango sem perturbar nem arriscar infectar ou ser infectado.
Para quem vive como se estivesse sempre entre o 8 e o 80, talvez seja mais difícil entender e encarar este novo normal, ou o pós-pandemia.
Se o desconfinamento é inevitável, que seja gradual, cerebral e rígido no respeito a regras. Simples assim. Não há porque debates ideológicos em torno disso nem de pegar exemplos estúpidos (Leblon e Ponta Negra) como padrão que será repetido.
"Ah, Cefas, e quanto aqueles que se recusam a usar máscaras e farão confusão por causa disso?". São os mesmos que fazem confusão no trânsito, que ultrapassam sinais vermelhos, que estacionam em vaga dupla, que colocam som alto em ambientes onde chegam, que assediam mulheres na balada, enfim, os "cidadãos de bem" de sempre. Não são fenômenos criados pela pandemia. São os velhos imbecis anti-civilidade que conhecemos bem. Que respeitemos os protocolos de segurança e tentemos algum equilíbrio à revelia da canalhice deles.

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