O presidente e o ódio seletivo à mídia
Natal, RN 25 de abr 2024

O presidente e o ódio seletivo à mídia

21 de janeiro de 2020
O presidente e o ódio seletivo à mídia

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Não está fácil pra ninguém. Ainda mais se você for jornalista (e não tiver picotado sua carteirinha). 2019 foi o ano de atacar a mídia e seus profissionais. O número de ataques aumentou 54% e chegou a 208, incluindo tentativas de descredibilização dos veículos ou ataques diretos à imprensa – e nem estamos contando a verborragia vazia de certos comentaristas do rádio potiguar.

A pior parte disso tudo é que o presidente da República Federativa do Brasil foi responsável por 58% dos ataques. Veja bem, o presidente da República, da mesma República regida pela Constituição Federal, que garante a Liberdade de Expressão e deveria assegurar a liberdade de imprensa.

E parece que o mandatário nacional não está disposto a perder o posto de maior agressor da mídia em 2020. Bastou a Folha publicar manchetes negativas ao governo para o chefe da nação começar os ataques contra a repórter da empresa durante a sessão diária de declarações à mídia que ele tanto odeia.

E a manchete da Folha falava justamente do ministro chefe da Secretaria de Comunicação Fábio Wajngarten, o responsável pela relação com a mídia e pelo pagamento de verbas publicitárias a jornais, revistas, rádios, TVs e internet.

O tal ministro não parece odiar a mídia. Não é de hoje que ele vive de prestar serviços a grandes grupos midiáticos e a empresas de publicidade. A empresa dele (95%) e da mãe (5%) tem contratos diretos com empresas como o Grupo Bandeirantes e a Record, os mesmos grupos que foram beneficiados com a mudança nos critérios de distribuição do dinheiro da propaganda do governo – que deixou de levar em consideração a audiência para beneficiar as empresas menores, como a TV Band e a Record TV.

Em declarações públicas, Wajngarten nega o conflito de interesses e disse que, se havia interesses de construir uma ponte entre o governo e o mercado, nas palavras dele, “essa ponte está agora explodida”. Freud explica. Uma ponte que não existe não poderia ser explodida.

Só que o ódio à imprensa não é mais uma jabuticaba brasileira. Parece ser produto exportação e anda fazendo sucesso em muitos mercados. Talvez tenha sido produzido na Rússia, mas o design é bem norte-americano. Aliás, parece que o presidente da República não só admira o presidente dos EUA como também imita suas atitudes.

Quem não lembra de Trump classificando de feique nius tudo que não lhe agradava na imprensa estadunidense? E dos repórteres que ele bloqueou na Casa Branca?

Na Inglaterra, a tática é mais sutil. Insatisfeito com a cobertura das eleições pelas emissoras públicas da BBC, o governo conservador resolver dar um gelo nos jornalistas e âncoras dos canais de rádio e TV. A moda por lá agora é dizer que nenhum representante do governo estava disponível para comentar os assuntos polêmicos.

Mas acho que o mandatário nacional vai preferir os arroubos contra repórteres na porta de casa, quando ele ainda pode fazer um olé pra torcida organizada que o acompanha por lá.

Aos jornalistas, a melhor arma é seguir cumprindo com o papel de garantir o direito à informação dos cidadãos, mesmo que a democracia pareça cada vez mais distante.

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