O saudosismo da ditadura e o perigo para a democracia
Natal, RN 26 de abr 2024

O saudosismo da ditadura e o perigo para a democracia

19 de agosto de 2021
O saudosismo da ditadura e o perigo para a democracia

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O anticomunismo tacanho dos militares brasileiros beira ao ridículo, completamente desconectados da realidade, numa espécie de “síndrome da guerra fria”, que eterniza nos seus cérebros a imagem de comunistas portando tridentes, vindos diretamente do inferno para dividir até sua lata de leite condensado.

Esse tipo de raciocínio, que infelizmente parece permear o raciocínio dos militares brasileiros, conduz a uma espécie de saudosismo que se remete aos tempos em que as patentes militares tinham interferência na política.

Parece que a geração dos “marechais”, que nunca participaram nem de guerra de bolos, mergulhou nesse delírio e eu fico pensando como deve ser terrível a vida desses generais, sempre temerosos de encontrarem algum “fantasma vermelho” debaixo da sua cama, ao lado do seu pinico.

A volta ao centro da política, do qual nunca se retiraram, fez dos militares restabelecer a tese de que são “defensores da nação”, “patriotas”, “responsáveis pela ordem e progresso” e outras percepções tacanhas do papel dos militares para essa sofrida nação. Os militares de alta patente, além de terem sido tomados por esse saudosismo, foram cooptados pelo “vil metal”, afinal quando a mercadoria dinheiro entra em cena, as medalhas balançam.

Mas, infelizmente, parece que essa nova entrada no centro da política, saindo da sua missão constitucional, fez renascer o maldito “partido militar”, que foi “fundado” depois da guerra do Paraguai, quando os militares de então, gostaram de ter poder de intervir.

A redemocratização, precedida de 21 anos de Ditadura, escondeu o “problema militar”, dando uma anistia mequetrefe que encobriu os crimes dos generais no período em que estavam no poder absoluto. Os militares, em qualquer democracia avançada, não se metem em política, o que significa que nossa democracia (sic) está longe de ser avançada.

Mas, o anticomunismo dos militares não é novo. Na verdade, é uma questão de entendimento do que é, efetivamente, regime de governo. Mesmo na chamada Velha República, volta e meia chafurdavam, mas com a ascensão da URSS, criou-se o “monstro comunista”, a partir de março de 1922, depois da criação do Partido Comunista do Brasil (PCB), perseguido desde o nascedouro e cujo poder de fato nunca chegou nem perto do poder exercido pelas oligarquias.

O movimento de 1935, que os militares batizaram de “intentona”, um ato de loucura, que diz muito sobre o que essas pessoas pensam do comunismo, cravou no cérebro dos militares esse medo, fortalecido pela simpatia destes para com os governos fascistas, gerou o “Plano Cohen”, uma famigerado plano que possibilitou o Golpe de 1937.

E depois de 1945, os militares passaram a ter a percepção de “tuteladores da república”, a tal ponto que até 1° de abril de 1964, estiveram presentes nos chafurdos golpistas que atanazou a vida de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, e quem não lembra do fato que os militares simplesmente impediram que o vice-presidente João Goulart voltasse ao país depois da renúncia de Jânio Quadros?

Depois desse período os militares mergulharam de corpo e alma na “doutrina de segurança nacional” que foi cunhada nos EUA contra os comunistas do mundo todo. E parece que essa “doutrina de segurança nacional” está entranhada na mente dos militares brasileiros.

Obviamente que esse delírio anticomunista foi insuflado pelos movimentos neopentecostais, que importaram esse vírus da ignorância das suas co-irmãs estadunidenses. Os militares, portanto, receberam esse aporte ideológico e, no poder, botaram para fora esse medo/ódio.

O mais interessante é que esses militares tiveram um ministro da Defesa COMUNISTA, Aldo Rebelo, que, segundo os próprios militares, teve uma excelente relação com as três armas, mas parece que isso não foi suficiente para “curar” o anticomunismo dessa gente.

Para esses militares o comunismo é a “ameaça fantasma”, enquanto para os comunistas, os militares deveriam se dar ao respeito e se comportar, obedecendo a Constituição e deixando a sociedade livre dessa ameaça concreta.

Seria interessante que esses militares de alta patente se dessem ao trabalho de ler o que os comunistas brasileiros escreveram nos últimos 40 anos e como agiram desde a redemocratização. O problema é que essas figuras passariam uma vergonha histórica, talvez gerando problemas psicológicos em boa parte deles.

A tarefa de passar a limpo a história da DITADURA, infelizmente levará algum tempo, mas, para a história, ela já é uma marca sombria na nossa história.

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