Em Natal, e provavelmente sabe quem me lê, há uma tradição de se comemorar em 14 de março o dia da poesia. Era, antes, o dia de Castro Alves, o romântico cujos versos ainda reverberam em minha mente:
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Oficialmente, o dia da poesia atualmente no Brasil, segundo decreto da então presidenta Dilma Roussef, passou a ser o 31 de outubro, em homenagem agora a Carlos Drummond de Andrade, aquele cujos versos também me comovem de alguma forma, especialmente aqueles:
Mundo mundo, vasto mundo
Mais vasto é meu coração!
Para mim, todo dia é dia de poesia, seja a poesia romântica ou a poesia moderna. A concreta, hermética, clichê ou quântica, a poesia de verso branco ou de rima quebrada, a falsa e fingida como a de Pessoa ou a sincera e dinâmica como a de Ana Cristina César. O que vale é dizer, em versos, o indizível.
E é por isso que vamos, mais uma vez, celebrar, ali na nossa UFRN, o valor que tem a poesia. A pergunta, no entanto, persiste em soar:
- Para que serve a poesia?
Para tudo e para nada. Há tempos a humanidade faz poesia. E, sobretudo agora, nestes tempos toscos de ataques à cultura e às artes, fazer poesia é mais que preciso, é uma questão de se posicionar contra a ignorância.
Na edição deste ano de 2020, a poesia “serve” para a gente relembrar. Intitulada POESIA ESQUECIDA POTIGUAR, a comemoração contará com debate sobre a vida e a obra de dois “malditos” esquecidos pelos nobres panteões das letras: Milton Siqueira e Edgar Borges, o Blackout.
O evento, um bate-papo com Abimael Silva, Edrisi Fernandes, Moisés de Lima e João Cândido (contando também com sarau poético e sorteio de livros), acontecerá na sexta-feira dia 13, às 10h, no Auditório 1 do Instituto Ágora (ao lado do Setor 2 de aulas da UFRN). Na ocasião será relançado também o livro de Blackout, “Duas Cabeças”, originalmente lançado em 1981.