Pesadelos
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13 de novembro de 2017
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O Rio Grande do Norte chega ao fim de 2017 como um pesadelo à procura de quem aceite sonhá-lo. A combinação de recessão econômica, crise fiscal, escândalos locais e nacionais, impotência política e inépcia gerencial do governo transformou o elefante num monstrengo que assombra pretendentes, induzindo-os a um jogo de esconde-esconde inédito em temporadas pré-eleitorais.

Dos quatro nomes rotineiramente especulados como candidatos ao Governo do Estado, apenas o desembargador Cláudio Santos (sem partido) admite francamente a postulação. Os demais a senadora Fátima Bezerra (PT), o prefeito de Natal, Carlos Eduardo (PDT), e o governador Robinson Faria (PSD) alternam acenos ao eleitor com negaças explicadas por circunstâncias locais, por estratégias partidárias de âmbito nacional ou por medo da rejeição generalizada dos eleitores a tudo que pareça político, quando a Lava Jato nivela a tudo e a todos bem por baixo.

O principal ativo de Cláudio Santos é a imagem de gestor austero e implacável, sem medo de adotar medidas antipatizadas por colegas de magistratura e servidores do Judiciário, moldada quando presidiu o Tribunal de Justiça. É um figurino sob medida para se contrapor à frouxidão do atual governo e, quem sabe?, preencher as expectativas dos eleitores por peças novas (ou ao menos recondicionadas) no sucatão da política destroçada por escândalos em série.

O problema é que o remédio também pode ser um veneno. Para manter a condição e o discurso de 'novidade', Cláudio Santos precisaria fugir de alianças com partidos e lideranças tradicionais, praticamente todas chamuscadas nalgum escândalo da hora. Mas, como sustentar uma candidatura competitiva sem o apoio dessas máquinas de campanha?

Em circunstâncias normais, Robinson Faria seria candidato natural à reeleição. Mas o fiasco da sua gestão, devorada pela incapacidade de cumprir a tarefa mais comezinha de qualquer governo pagar os salários em dia , pela falência dos serviços públicos e por citações em mais de um escândalo, inscreveu o governador na lista de frustrações em que fulguram a ex-prefeita Micarla de Souza e a ex-governadora Rosalba Ciarlini.

Tendo como principal marca administrativa a criação do mês de (até aqui) 75 dias, Robinson é uma interrogação ambulante. Com o nível de desgaste que acumulou, precisaria que os 30 santos "doados pelo RN ao mundo" unissem forças para produzir um milagre financeiro e de gestão que revertesse as altas taxas de reprovação do governo e de rejeição do governador. Sem a intercessão divina, a ele restará decidir que outro cargo disputar para manter algum foro privilegiado nas investigações que o envolvem.

As candidaturas de Carlos Eduardo Alves e Fátima Bezerra despontam como naturais num cenário em que outros ainda tentam deixar de ser candidatos apenas de si mesmos e empolgar alguma fração do eleitorado. Mas essa unção espontânea não é correspondida pelos dois, que tergiversam, desconversam, adiam definições, deixando-se voluntariamente como reféns de circunstâncias locais ou nacionais que se sobrepõem ao desejo dos seus eleitores.

A candidatura de Alves estava desenhada desde 2014, com o apoio do PMDB e do DEM, que integrariam a aliança com os nomes de Garibaldi Alves Filho e de José Agripino Maia disputando a reeleição ao Senado. Mas o desgaste dos dois, decorrente de citações em escândalos, do apoio ostensivo ao governo e à agenda impopulares de Michel Temer, abalroou o arranjo prévio e tornou indefinido o 2018 do prefeito. Para a angústia do vice-prefeito Álvaro Dias, que entrou no arranjo de olho em dois anos de mandato na Prefeitura de Natal, e já não sabe se vale o conversado.

No caso de Fátima, a pressão popular pela candidatura é ainda mais forte e até aqui igualmente inútil. A senadora lidera todas as pesquisas de intenção de voto para o Governo do RN, numa evidência de que ela tem brilho próprio capaz de ofuscar até o desgaste do seu partido, mas nem assim se dispõe a assumir abertamente a postulação. O lançamento de uma plataforma digital e de seminários regionais para debater um programa de governo é o primeiro indício de que a estratégia de jogar parada está se esgotando.

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