PMs combatem inimigo com inscrição ‘favela’ durante treino em SP
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PMs combatem inimigo com inscrição ‘favela’ durante treino em SP

16 de outubro de 2019
PMs combatem inimigo com inscrição ‘favela’ durante treino em SP

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por Arthur Stabile e Maria Teresa Cruz I Ponte

Policiais militares de São Paulo ouvem instruções de treinamento enquanto submetralhadoras estão postas em uma bancada logo atrás. O alvo está a cerca de 50 metros, com muros formados por tapumes e a palavra “favela” escrita em um deles. Esse espaço em treinamento da polícia é chamado de “pista”, basicamente, um cenário artificialmente criado para simular uma situação.

Depois, um PM porta a arma em frente ao muro com a inscrição e vestindo camisa com a sigla Baep (Batalhão de Operações Especiais), um grupamento policial que funciona como uma versão para o interior de São Paulo da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa mais letal da PM paulista.

As imagens foram postadas na página “Batalhão de Ações Especiais de Polícia – BAEP S.J. do Rio Preto” do Facebook, e retratam um treinamento do 9º Baep, localizado em São José do Rio Preto, no oeste paulista.

Mostramos as imagens para Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio e que luta contra a violência de Estado, e ela afirmou que, embora considere absurdo, não surpreende. “A gente já sabe que na prática é isso aí que acontece. Por isso que temos que lutar para um outro modelo de segurança pública, não essa excludente. Porque eles são treinados para fazer todas as violações de direitos humanos. Essa é a aula de direitos humanos que eles têm”, afirmou à Ponte.

“Eles entram dentro da favela assim mesmo, como se fosse um inimigo. É assim que tratam as periferias. Não é o mesmo tratamento dado aos bairros ricos. Eu já escutei da boca de um comandante de Santos [litoral sul de São Paulo] que quando eles abordam filho de playboy, o filho chega em casa e reclama para o pai, que vai lá cobrar do comando da polícia”, relata Débora.

Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), faz análise na mesma direção de Débora: a imagem evidencia uma visão preconceituosa por parte da PM. “Primeiro você criminaliza a pobreza, como se o crime só estivesse em áreas periféricas, o que definitivamente não é verdade. E se começa a institucionalizar uma polícia que se entende vocacionada pra matar, o que é muito diferente de ter o resultado letal como uma possibilidade do trabalho”, explica.

Segundo ela, a foto demonstra uma similaridade de pensamento entre a PM paulista e a do Rio de Janeiro. “Reforça a estética que vem sendo muito empregada no Rio, de a polícia chegar atirando nessas comunidades pobres. A PM de SP está se perdendo e começou a mimetizar a PMERJ no que ela tem de pior”, pontua.

Tanto a PM paulista como a fluminense têm aumentado a letalidade desde que João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC) assumiram o comando dos estados e suas respectivas forças repressivas, nesta ordem. As duas polícias são responsáveis por um a cada 3 homicídios registrados em São Paulo e Rio em 2019.

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