Em tempos nauseantes que são esses de disputa eleitoral entre velhas e novas facções...ops, digo, legendas partidárias, nada melhor do que consumir/fazer poesia.
A poesia é também um gesto político. E não me refiro somente à poesia engajada que teve/tem como propósito denunciar mazelas sociais e históricas. Não é preciso sair por aí vociferando versos à la João Cabral de Melo Neto ou Patativa do Assaré para se dizer um “sujeito consciente e não alienando”. Até mesmo nos sonetos amorosos de Florbela Espanca ou nos haikais fesceninos de Celso da Silveira, a poesia implica necessariamente uma atitude política.
Isso tem a ver como uma certa concepção de poder. E dois nomes que ajudam a compreender isso são Nietzsche e Foucault.
Em obras como “Além do Bem e do Mal”, “Genealogia da Moral” e, sobretudo, “Vontade de Potência”, Nietzsche trata do poder não como uma atitude de querer dominar, o que implicaria uma metafísica da violência, mas sim como uma postura de se colocar contra quaisquer formas de aniquilamento. Um esforço por triunfar o tédio, o nada, a morte, essa nossa única certeza cabal. A vontade de potência, assim, é o desejo de intensificar a existência da maneira como for possível. Versos como esses de Castro Alves dizem muito disso para mim:
Deus! ó Deus, onde estás que não responde?
Em que mundo, em qu´estrela tu t´escondes,
Embuçando nos céus?
A partir de Nietzsche, Foucault desenvolve, por meio de uma genealogia de dispositivos diversos (prisões, hospícios, escolas), uma concepção de poder que pode ser demarcada por alguns traços: o poder está em toda parte, em relações e microestruturas diversas. Assim, não se reduz à condição de propriedade repressora do Estado, funcionando antes como exercício estratégico que se realiza a todo momento e em instâncias diversas.
Preferir ficar em casa ou ir à praia no domingo dia 7 de outubro lendo um livro de poemas pode ser, assim, uma atitude política de se posicionar contra a obrigatoriedade de escolher entre o ruim e o pior em um sistema falsamente democrático e representativo, uma vontade de não se permitir aniquilar por um Estado excludente e opressor.
E pra fechar este artigozinho, nada como citar um poema que expressa bem essa relação entre poesia e poder. Com a palavra, Nicholas Behr:
Os três poderes
São um só:
O deles.