Prêmio de Direitos Humanos será entregue a Rafael Duarte e Rizolete
Natal, RN 19 de abr 2024

Prêmio de Direitos Humanos será entregue a Rafael Duarte e Rizolete

4 de dezembro de 2018
6min
Prêmio de Direitos Humanos será entregue a Rafael Duarte e Rizolete

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A ex-secretária do Comitê da Anistia de Natal (RN) Rizolete Fernandes e o jornalista e editor da agência Saiba Mais Rafael Duarte receberão o prêmio de Direitos Humanos 2018 concedido anualmente pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular do Rio Grande do Norte. Na edição deste ano, também será entregue um prêmio póstumo à ex-operária e militante sindical Vilma Aparecida, que morreu dia 27 de novembro.

A solenidade de entrega acontece dia 13 de dezembro, a partir da 19h, no Bardallos Comida e Arte. Rizolete Fernandes receberá o XXV Prêmio Estadual de Direitos Humanos “Emmanuel Bezerra dos Santos” e a Rafael Duarte será entregue o XXII Prêmio Jornalístico de Direitos Humanos.

Durante a solenidade haverá mais homenagens e uma grande programação cultural. Na ocasião, o CDHMP também vai anunciar um projeto para 2019 envolvendo o novo sindicalismo do Rio Grande do Norte surgido a partir dos anos 1980.

Homenagem

O Prêmio Estadual de Direitos Humanos foi criado em 1994, em homenagem ao militante e ex-desaparecido político Emmanuel Bezerra dos Santos, e tem o objetivo de agraciar aquelas pessoas ou entidades comprometidas com os Direitos Humanos, as liberdades democráticas e a defesa da vida.

Já o Prêmio Jornalístico de Direitos Humanos começou a ser concedido a partir de 1997 em homenagem aos jornalistas identificados com a causa e a promoção dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Comitê da Anistia

Ex-secretária estadual do Comitê da Anistia, a poetiza Rizolete Fernandes se disse surpresa com a homenagem. Natural de Caraúbas, ela lembra que a proximidade com o movimento político aconteceu na faculdade e por intermédio do ex-preso político Juliano Siqueira:

- A gente que milita com seriedade não fica pensando em fazer as coisas para receber prêmios. Então eu fico surpresa de ser merecedora dessa homenagem. Cheguei em Natal em 1971, quando a ditadura já tinha sete anos. Cheguei meio por fora, mas fui estudar no Atheneu e passei no vestibular de sociologia, que na época ficava na Fundação José Augusto. Na minha turma estava o Juliano Siqueira, que tinha acabado de sair dos porões da ditadura. E ele veio participar do nosso grupo. Lembro que nos grupos de trabalho ficavam eu, Juliano e Graça Faro. E com Juliano no pedaço não tinha como ficar por fora do que acontecia na política, no país.

A partir das reuniões e conversas com Juliano Siqueira, Rizolete começou a participar das reuniões no Cineclube Tirol e da associação dos sociólogos do Estado, além de ter integrado do departamento feminino do MDB. Ela faz questão de ressaltar, inclusive, que o comitê feminino da Anistia foi criado antes do comitê brasileiro.

- As mulheres sempre estiveram na vanguarda, à frente. O Comitê Feminino foi criado em 1974 por Therezinha Godoy Zerbini. O comitê brasileiro só foi fundado em 1979. A primeira diretoria do Comitê da Anistia em Natal teve como diretores Roberto Furtado, Sérgio Dieb e eu, como secretária. Nunca fui uma oradora destacada, mas participava muito das ações. E ajudamos a popularizar a campanha pela anistia com atos, panfletagens em cruzamentos, fizemos visitas aos presos políticos em Itamaracá também.

Às vésperas do início do primeiro governo civil após o processo de redemocratização do país que exalta o golpe militar de 1964, Rizolete Fernandes diz que a sensação é a de recomeçar toda a luta novamente.

- Sinto que estamos recomeçando tudo de novo. A anistia foi conquistada em 1979, se partiu para outras lutas, como a Constituição de 1988, porque os comitês não se desmobilizaram após a anistia. Mas está claro que temos uma democracia muito jovem, não consolidada. Por isso ainda é muito frágil E acontece de você colocar lá (na presidência da República) um sujeito completamente despreparado, ligado ao capital internacional, mostrando a que veio.

O comitê da Anistia tem 20 anos. Somente no Rio Grande do Norte, foram 29 políticos cassados, sete exilados, cinco mortos e vários presos e condenados. Entre os desaparecidos até hoje não encontrados estão Virgílio Gomes da Silva (Santa Cruz), Irhan de Lima Pereira (Caicó) e Luiz Ignácio Maranhão Filho (Natal).

Mídia livre

Natural de Brasília (DF) e radicado em Natal (RN) desde 1998, Rafael Duarte é jornalista formado pela UFRN. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do Estado. Foi repórter no extinto Diário de Natal, Tribuna do Norte e repórter especial no Novo Jornal, também já extinto. Atuou também na imprensa sindical. É autor da biografia “O Homem da Feiticeira: a história de Carlos Alexandre”, editado pelo selo Caravelas, lançado em 2015.

O jornalista Rafael Duarte é um dos fundadores da agência Saiba Mais, primeira agência de reportagem e jornalismo independente do Estado com foco na defesa dos Direitos Humanos, da Democracia e das liberdades individuais.

Sobre o prêmio, ele avalia como um reconhecimento pelo trabalho na imprensa e, em especial, na agência Saiba Mais:

- A agência Saiba Mais nasceu no final de agosto de 2017 com o propósito de fortalecer a luta na imprensa independente em defesa dos Direitos Humanos e da Democracia no país. Num momento como esse, onde o presidente da República eleito ataca direitos, minorias sociais e dissemina notícias falsas, o jornalismo é uma necessidade e uma trincheira na defesa da sociedade. Mais do que uma homenagem, esse prêmio é um estímulo. Primeiro porque mostra que o caminho que escolhemos é o correto e, segundo, porque nosso trabalho é urgente e necessário.

Prêmio póstumo

Vilma Aparecida é sinônimo de pioneirismo no país e uma referência na luta pela emancipação das mulheres. Natural de Ituiutaba, interior de Minas Gerais, veio com apenas 10 anos de idade para o Rio Grande do Norte e se estabeleceu com a família em Natal. Ela receberá um prêmio póstumo do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular pela trajetória pautada na defesa dos direitos dos trabalhadores e das mulheres.

Além de ter sido a primeira mulher a presidir a CUT, também foi a primeira presidenta do Sindicato dos Comerciários do Rio Grande do Norte após o processo de redemocratização no Brasil e a primeira mulher a dirigir a Executiva estadual do Partido dos Trabalhadores.

Saiba Mais: Ex-operário e 1ª mulher a presidir a CUT no Brasil, Vilma Aparecida morre em Natal

*A advogada Therezinha Godoy Zerbini citada por Rizolete Fernandes foi assistente social, advogada, ativista em defesa dos Direitos Humanos e fundadora do Movimento Feminino pela Anistia. Ela foi casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, um do quatro generais legalistas que se manifestaram contra o golpe de 1964.

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