Privatização dos Correios pode ser votada nesta terça (3), apesar de lucro de R$ 1,5 bilhão da empresa em 2020
Natal, RN 26 de abr 2024

Privatização dos Correios pode ser votada nesta terça (3), apesar de lucro de R$ 1,5 bilhão da empresa em 2020

3 de agosto de 2021
Privatização dos Correios pode ser votada nesta terça (3), apesar de lucro de R$ 1,5 bilhão da empresa em 2020

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Está programada para esta terça (3) o início da votação da privatização dos Correios na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas, a data, ainda pode mudar de acordo com a negociação interna entre líderes do governo e parlamentares. Pode parecer contraditório, mas na noite de ontem (2), o ministro das Comunicações, o potiguar e genro de Sílvio Santos, Fábio Faria, justificou durante pronunciamento em cadeia nacional que a privatização dos Correios era necessária, apesar do lucro de R$ 1,5 bilhão que a empresa obteve em 2020.

Alguns parlamentares do Rio Grande do Norte se posicionaram contra a venda da estatal, que possui mais de cem mil funcionários em todo o país. Depois de passar por uma votação na Câmara dos Deputados, o projeto de privatização segue para o Senado.

“É inaceitável privatizar um serviço essencial a todos os brasileiros e brasileiras. A privatização dos Correios vai prejudicar diretamente os serviços das pequenas cidades e os trabalhadores. É uma empresa estratégica para o desenvolvimento do nosso país. Enquanto o país ultrapassa 557 mil mortes por Covid, Bolsonaro, Guedes e seus aliados se preocupam em desmontar nossos patrimônios nacionais e entregá-los à iniciativa privada. Neste momento reafirmamos nosso compromisso na defesa dos Correios, que é fundamental para o Brasil e para os brasileiros”, denuncia a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN).

“A privatização dos Correios é mais uma da série desse governo que acha que o certo é vender tudo. Para eles, colocar o Brasil à venda é a solução. É uma maneira de beneficiar grandes empresários e prejudicar o povo, como eles têm feito recorrentemente. Bolsonaro e sua turma não estão nem aí para o povo pobre do Brasil. Imaginem só os pequenos empreendedores que vendem seus produtos pela internet em cidades no interior do nosso país. Essas pessoas dependem dos Correios, um serviço público, para o envio das mercadorias. Agora vocês acham que uma empresa privada vai operar em municípios onde não terá lucro? Só mesmo uma empresa pública, que tem o dever de servir ao povo brasileiro, chega a essas localidades. Em se concretizando a privatização, pagaremos mais caro por um serviço aquém do que é ofertado hoje. Lutaremos para impedir mais esse absurdo do governo Bolsonaro”, criticou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), que também se posicionou contra a venda dos Correios.

O Sindicato dos funcionários dos Correios emitiu uma nota de repúdio ao pronunciamento de Faria e afirmou que o ministro potiguar mentiu ao falar sobre aumento de empregos com a privatização.

Ao contrário do que disse o Ministro, a venda dos Correios não vai gerar mais empregos mas, sim, significará a demissão de centenas de milhares de trabalhadores em um país que já amarga graves estatísticas de desemprego. Outra falácia é sobre a eficiência da Empresa, visto que os Correios superam constantemente seus recordes de entrega, trazendo lucros bilionários, a exemplo de 2020, ano de pandemia, quando o superávit foi de R$ 1,5 bilhão”, criticaram os trabalhadores na nota.

Trecho do pronunciamento do Ministro das Comunicações, Fábio Faria, em que explica as "vantagens" da privatização

Confira na íntegra a Nota de Repúdio ao pronunciamento do Ministro Fábio Faria

O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do RN (Sintect-RN) repudia veementemente o discurso contaminado de fake news do Ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, Fábio Farias, realizado ontem (2), em cadeia nacional, utilizando dinheiro público para enganar o povo.

Ao contrário do que disse o Ministro, a venda dos Correios não vai gerar mais empregos mas, sim, significará a demissão de centenas de milhares de trabalhadores em um país que já amarga graves estatísticas de desemprego.

Outra falácia é sobre a eficiência da Empresa, visto que os Correios superam constantemente seus recordes de entrega, trazendo lucros bilionários, a exemplo de 2020, ano de pandemia, quando o superávit foi de R$ 1,5 bilhão.

Os Correios alcançam esses números e ainda assim conseguem praticar os menores preços do mercado. Esta, sim, é uma verdade que a privatização vai acabar, pois a tendência da livre-concorrência será o aumento das tarifas.

Além disso, vender a estatal significa precarização dos serviços fora dos grandes centros urbanos. Afinal, onde não há lucro, o capital privado não vai. Assim, a realidade de milhares de brasileiros nas pequenas cidades do país será o da desassistência.

Diante de tudo isso, o Sintect-RN reafirma seu compromisso em defesa da soberania nacional e do patrimônio do povo brasileiro. A luta para barrar esse ataque vil se dará em todas as esferas e a categoria ecetista estará pronta para o embate.

A euforia de Fábio Faria na privatização dos Correios

O Rio Grande do Norte está no centro de dois dos principais momentos dos Correios. Em 2001, na pequena Rio do Fogo, distante 75 km de Natal, a empresa anunciou a universalização do serviço com a instalação do posto de atendimento no último município do país onde os Correios ainda não chegavam. A partir daquela data, todos os 5.583 municípios do Brasil à época contavam com ao menos um posto de atendimento da Empresa de Correios e Telégrafos. Esse episódio foi comemorado com uma grande festa no pequeno município, que pela primeira vez recebia a visita de um ministro de estado.

Hoje, exatamente 20 anos depois, é um ministro do Rio Grande do Norte, Fábio Faria (das Comunicações), que anuncia – festejando – o andamento do processo de privatização da empresa. Mas a alegria, desta vez, é restrita. A venda dos Correios mexe com a vida de quase 100 mil funcionários que não sabem o que vai ocorrer com suas vidas profissionais após a privatização. Há o temor que os pequenos municípios do Brasil, que não dão lucro na operacionalização dos postos, deixem de contar com o serviço que, hoje, continua abrangendo todos os municípios do Brasil.

Nos últimos meses, o ministro Fábio Faria vinha festejando em suas redes sociais o planejamento para a venda da empresa. Numa postagem, de 8 de julho, ele divulgou que o Projeto de Lei que detalha a venda da empresa estava em avaliação no Congresso e também aparece bem feliz quando fala da venda com a imprensa. Faria já declarou que gigantes como FedEx, Magazine Luiza e Amazon estariam interessadas na compra.

Dia 22 de junho, o ministro do RN divulgou um vídeo mostrando uma reunião que ajustava os últimos detalhes do PL. Nesse encontro, inclusive, foi tratada uma mudança substancial nessa venda. Até então, o Governo Bolsonaro dizia que venderia 70% da empresa. A partir do final junho, na véspera de enviar o PL à Câmara Federal, houve uma mudança e o Governo decidiu vender 100% da estatal.

Caso a votação ocorra, a ideia é privatizar a empresa já em 2022. Pelo menos, é isso que está previsto no plano de desestatização do Governo Bolsonaro. O que vai ocorrer com os quase 100 mil funcionários não foi detalhado ainda. Sindicalistas dizem que, na melhor das hipóteses, vai ocorrer o mesmo que as empresas de telefonia: terão um pequeno período de estabilidade e depois serão demitidos. “Não tenho dúvidas que seremos demitidos. São 100 mil pessoas que vão perder o emprego se essa privatização tiver sequência. Mas nós estamos lutando para evitar”, conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios no RN, Shampoo Zen.

Nas postagens de Fábio Faria não há detalhes financeiros que justifiquem a venda da empresa. As vagas justificativas apontadas são de que é preciso ‘’melhorar” e “modernizar” os serviços. Shampoo Zen afirma que o ministro não recebeu os trabalhadores dos Correios para conversar. “Esse ministro sequer conhece os Correios. Ele não sabe nenhum detalhe da empresa. Vai vender os Correios – uma das mais respeitadas empresas do Brasil, e uma empresa financeiramente lucrativa e independente”, analisa.

Correios no RN

O site dos Correios informa que a empresa está em 5.570 municípios e entrega, em média, 15,2 milhões de objetos postais por dia. A diretoria dos Correios no RN confirmou à Agência Saiba Mais que o Estado conta com 1.200 funcionários e 190 agências distribuídas em todos os 167 municípios do Rio Grande do Norte. Na região metropolitana de Natal, há 8 unidades operacionais e 14 de atendimento.

Segundo o presidente do Sindicato, há quatro anos o número de funcionários dos Correios no RN era de mais de 2 mil trabalhadores. O último grande concurso da estatal ocorreu há mais de 10 anos e um outro, em 2017, foi em áreas restritas. De lá pra cá, houve alguns programas de demissão voluntárias o que diminuiu ainda mais a quantidade de funcionários.

Sem o investimento em pessoal e estrutura, claro que o serviço cai de qualidade. E o Governo trabalhou muito bem nesse ponto. Coloca a população contra os trabalhadores. Esquece que em um passado próximo, os Correios eram a empresa mais respeitada do Brasil”, lembra Shampoo.

Privatização começou a ser debatida em 2019

A possibilidade de venda dos Correios está em debate no governo desde 2019. A equipe econômica usa argumentos como problemas de eficiência e casos de corrupção que atingiram a companhia no passado. Pelo calendário da equipe econômica, é possível publicar o edital de privatização dos Correios até o fim do ano e realizar a operação até março de 2022.

A urgência para votação do projeto foi aprovada na Câmara no final de abril. O texto permite que serviços postais, inclusive os prestados hoje pelos Correios em regime de monopólio, sejam explorados pela iniciativa privada. Hoje, os Correios têm o monopólio do envio de cartas, telegramas e outras mensagens. Atualmente, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é 100% pública.

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