Professor relata ameaça de eleitor de Bolsonaro após defender lei Rouanet em sala de aula
O professor de história do colégio CEI Mirassol Euclides Tavares relatou que sofreu uma ameaça de morte nesta sexta-feira (5) de um eleitor do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) após debater com alunos a importância da Lei Rouanet para o cinema nacional.
O episódio aconteceu na turma do 1º ano B. O CEI Mirassol é um colégio frequentado por estudantes de classe média alta de Natal (RN).
Tavares afirmou que, após a aula, foi convocado à coordenação para explicar o que havia acontecido em sala. Sem entender do que se tratava, já que a aula tinha sido sobre cinema nacional e a importância da lei Rounet como forma de financiamento dos filmes brasileiros, a coordenadora explicou que recebeu um telefonema de um suposto pai de aluno afirmando que o professor estaria defendendo em sala de aula o ex-presidente Lula e atacando Jair Bolsonaro. O mesmo homem também teria ameaçado ir à escola armado com outros três pais para “resolver o problema”.
- Um pai ligou dizendo que eu estava na sala fazendo discurso a favor de Lula, detonando Bolsonaro, dizendo que Bolsonaro não prestava, falando da lei Rouanet. Ele disse: “resolva porque quem senão quem vai resolver sou eu. Vou com mais três pais, armados e ele vai ver porque Bolsonaro vai ser bom pra ser presidente do Brasil”.
Tavares denunciou o caso por meio de um áudio que viralizou em grupos de whatsaap. Euclides foi orientado a registrar a ocorrência na delegacia e, até o fechamento desta matéria, o colégio ainda não tinha identificado o autor do telefonema.
No mesmo áudio, o professor comentou que havia "um boy (aluno) o tempo todo me criticando" e se disse vítima do ódio:
- O professor não tem mais liberdade de falar nada, a que ponto a gente chegou. Estou sendo vítima de um ódio que infelizmente assolou esse país. Estou fazendo meu papel como professor em sala de aula.
Procurado pela agência Saiba Mais, o professor Euclides Tavares não quis comentar o assunto em razão da proporção que o caso tomou, mas confirmou a veracidade das informações. Ele explicou que gravou o áudio e divulgou num grupo restrito, mas não imaginou que ganharia tamanha repercussão.
A coordenadora do Ensino médio do CEI Mirassol Ana Cristina Dias disse que o colégio ainda está apurando a origem do telefonema e só então vai se pronunciar. Por enquanto, explicou, a escola quer resguardar a imagem do professor e da própria instituição:
- Não sabemos quem ligou, se foi pai ou se foi um trote. O professor ficou chateado. Hoje tudo o que a gente fala ganha uma dimensão política. Estamos averiguando.