Professora presa dentro do campus do IF em Goiás denuncia perseguição
Natal, RN 20 de abr 2024

Professora presa dentro do campus do IF em Goiás denuncia perseguição

15 de abril de 2019
Professora presa dentro do campus do IF em Goiás denuncia perseguição

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Por Rute Pina I Brasil de Fato

A professora Camila Marques, diretora do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), foi detida na manhã desta segunda-feira (15) após uma operação da Polícia Civil dentro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).

Camila é docente no campus Águas Lindas, cidade localizada a 54 quilômetros de Brasília (DF). Ela foi encaminhada ao 1º Distrito Policial do município por desacato à autoridade e liberada por volta das 13h.

A professora conta que foi agredida e detida após tentar filmar uma operação policial dentro do campus. Segundo ela, a ação ocorreu após uma denúncia de que ocorreria, no Instituto, um atentado como o Massacre de Suzano, em que dez pessoas foram mortas em um ataque a uma escola no estado de São Paulo.

Além de Marques, três estudantes, que também já estão liberados, foram encaminhados para a Delegacia de Proteção de Crianças e Adolescentes, por suspeita de atentado. Ela detalha o ocorrido: "Tomaram meu celular, me algemaram. E além desses alunos que estavam sendo conduzidos, vários outros alunos [estavam] vendo a situação. Fui algemada e agredida na frente deles. Me colocaram na viatura e me conduziram", conta.

Ainda segundo o relato da professora, as viaturas que conduziram ela e os estudantes à delegacia eram dois carros descaracterizados. "Lá, eles, truculentos, disseram que eu seria tratada do jeito que eu merecia. Me mandavam calar a boca e eu falando que eu queria ter acesso a advogados. Chegando na delegacia, me colocaram em um lugar e os alunos, em outro", conta. A professora foi liberada e encaminhada ao hospital para fazer exame de corpo delito.

Marques disse que todos os estudantes detidos na operação têm trabalhos junto a movimentos populares e organizações de esquerda. Por isso, acredita que o episódio tenha sido uma tentativa de retaliação.

“Me causou muito estranhamento que [os detidos] são alunos que participam do movimento social, do movimento negro; também acabamos de ter um ato contra feminicídios que ocorreu em Águas Lindas. E uma das meninas estava à frente do ato. São alunos militantes, que participam da aula. São excelentes alunos. Não faz sentido dizer que esses alunos estariam envolvidos em um atentado terrorista.”

Ela afirma ainda que o fato reflete perseguições que já estão ocorrendo dentro da instituição. "Eu tenho sofrido uma série de denúncias desde o ano passado e outros companheiros, também. Tem um clima de perseguição à militância e ao movimento social e o fato da polícia fazer essa abordagem, com esses alunos, do jeito que fui levada… Isso reforça essa polarização e avanço da ultra-direita na nossa sociedade", avalia.

O Sinasefe prestou solidariedade à professora, segundo o sindicato, “uma lutadora aguerrida e sempre pronta a defender os direitos dos trabalhadores”. 

Em nota, a Reitoria do IFG informou que a presença de policiais está relacionada a uma investigação em andamento sobre uma suposta articulação de pessoas para realização de grave atentado contra o campus Águas Lindas, “o que colocaria em risco a vida de estudantes e de servidores no decorrer desta semana”, durante as comemorações do aniversário do campus.

“A Reitoria do IFG está apurando os fatos relacionados à condução de integrantes da comunidade acadêmica à delegacia, seguida de liberação, e tomará as providências cabíveis no âmbito da administração pública. Por fim, a Reitoria reafirma sua posição em defesa da integridade física, da liberdade, da pluralidade de pensamento dos professores, dos técnico-administrativos e dos estudantes”, diz o texto.

Brasil de Fato também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil e aguarda posicionamento da instituição.

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