Depois da morte do médico e ex-prefeito de Ruy Barbosa, João Joaquim Cavalcante Neto, de 61 anos, por covid-19 no dia 29 de março, algumas pessoas questionaram o fato da vítima ter sido vacinada contra o novo coronavírus e, mesmo assim, ter desenvolvido a forma mais grave da doença. Segundo a família, o médico recebeu a 1ª dose em 25 de janeiro e a 2ª em 15 de fevereiro.

Segundo a professora titular do departamento de Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Janeusa Trindade, ocorrências como essa são raras e uma das possíveis explicações, é que a vítima pode ter se infectado com a covid-19 antes de receber a vacina, porém ter manifestado os sintomas apenas depois da imunização.

“A vítima tinha recebido a vacina e no 16º dia teve quadro grave para covidd-19. Existe um ciclo viral, a pessoa leva de dois a 14 dias para manifestar os sintomas. Ele pode ter se infectado logo depois de tomar a segunda dose e não ter dado tempo da vacina ter realizado o efeito protetor, essa é uma possibilidade”, explica Janeusa Trindade.

Outra possibilidade é a de que algumas pessoas não apresentem uma boa resposta à vacina por características genéticas. Um acontecimento igualmente raro, mas que não ocorre somente à vacina contra a covid.

“Isso é raro, mas não acontece só no caso da covid-19, mas para a maioria das vacinas. Por isso a importância de fazer a imunização da maior parte da população, para que todo mundo fique protegido. É a chamada imunidade de grupo. Como alguns grupos, como o das crianças, não vão receber a vacina, é importante que a maioria da população esteja imunizada para proteger esse tipo de pessoa que não reage bem à vacina”, detalha Janeusa.

A proteção da vacina contra a covid começa a fazer efeito após o 14º dia, podendo demorar até um mês depois da segunda dose. Tudo vai depender do organismo de cada um. A pesquisadora lembra que manter todos os cuidados mesmo depois de vacinado é indispensável, já que nenhuma vacina para nenhuma doença é 100% eficaz.

“No caso das vacinas para a covid é a mesma coisa! Por isso, é importante que mesmo depois da imunização, as pessoas continuem tomando as medidas de precaução e não relaxem quanto ao uso de máscara e ao distanciamento social. Até que seja feita a imunidade de grupo, a gente não pode se sentir 100% seguro em relação a esse vírus, especialmente, quando temos novas variantes que são mais transmissíveis e, aparentemente, mais patogênicas, circulando no mundo todo, não só no Brasil”, alerta Janeusa.

Além de João Joaquim Cavalcante Neto, de quem falamos no início da reportagem, a família do médico também perdeu a filha de João para a covid-19: a estudante Emilly Cavalcante Belarmino, de 25 anos. Emilly morreu num espaço de menos de 48 horas depois do pai. Os dois apresentaram sintomas no mesmo dia, 3 de março, mas o pai foi internado primeiro. Emilly foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento da Cidade da Esperança em 12 de março e depois encaminhada para o Hospital de Campanha de Natal, onde o pai já estava internado. Ela chegou a ser intubada, mas não resistiu e faleceu no último dia 31. Assim como o pai, Emilly queria ser médica e cursava medicina na Argentina.

Consumo de álcool

Como o álcool em excesso é imunodepressor, o ideal é suspender o consumo de bebidas alcóolicas um dia antes e dois dias depois da vacina. Mesmo pessoas transplantadas e aquelas com doença autoimune, acompanhadas pelo médico, devem se vacinar contra a covid.

“A doença é muito mais grave do que qualquer problema que venha a causar. A pessoa pode não ter a resposta imunológica tão potente, mas ela vai responder sim à vacina. Isso não é desculpa para não se vacinar porque é algo raro de acontecer. Em países com vacinação adiantada como Israel, por exemplo, há uma redução drástica no surgimento de casos de covid -19 e da forma grave da doença, especialmente, no número de mortes. Isso demonstra que a vacina está funcionando sim e que são raros eventos como o que aconteceu com esse senhor, defende Janeusa Trindade.

Na tarde desta segunda (5), no site worldometers, que traz dados de vários países relacionados à covid-19, o Brasil já é o segundo no mundo com maior número de casos e mortes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O país já tem mais de 12 milhões de infectados (12,984,956) e superou a marca dos 330 mil óbitos (331,530).