“Quando sai a próxima matéria do The Intercept Brasil?”
Natal, RN 25 de abr 2024

"Quando sai a próxima matéria do The Intercept Brasil?"

3 de julho de 2019

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Pois é. Há pouco mais de um mês a pergunta que dá título a este texto tornou-se um mantra, uma constante em redes sociais, nos grupos de Zap, nas casas, ruas, campos, construções, seja na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Desde a primeira reportagem, mostrando em uma noite de domingo as mensagens trocadas entre o todo poderoso ministro da Justiça Sérgio Moro quando então juiz e o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, aquele do Power Point, o The Intercept Brasil conseguiu um feito: vem pautando a imprensa e a política nacionais.

Este texto nem se trata de entrar no mérito da questão das reportagens, nem esmiuçar sobre sua qualidade jornalística, tampouco debater o uso ou não de material se hackeado. Mas, sim, entender o efeito gerado, como já dito, na política, na mídia e em todos nós.

A priori, quando revelado o conteúdo das primeiras mensagens, apenas os blogs progressistas repercutiram a história. Com a viralização e impacto nas redes sociais, alguns veículos maiores (Folha, Correio Brasiliense) começaram a repercutir. Em menos de 24h a imprensa internacional veiculava o fato (lembremos que Glenn Greenwald é uma celebridade internacional e jornalista respeitado no mundo inteiro) e nos dias seguintes a imprensa nacional não teve mais como ignorar o fato.

Hoje, tanto Folha como Veja e o blog de Reinaldo Azevedo (este notório liberal antiEsquerda) são parceiros do The Intercept na apuração e divulgação dos conteúdos.

Mas, impressionou o fato do The Intercept pautar a política. Reforma da Previdência à parte, o conteúdo divulgado nas 8 partes da reportagem até agora mobiliza quase integralmente os primeiros escalões do Governo Bolsonaro. Este, embora não citado em qualquer diálogo, passou o recibo de que foi beneficiado por Moro quando este prendeu Lula.

Há um mês, Moro, Dallagnol e parte do primeiro escalão do Governo só fazem se defender das acusações geradas pela divulgação do material. Moro já teve de ir responder a perguntas tanto no Senado como na Câmara. Vem sendo massacrado no Twitter, com questionamentos diários sobre sua postura.

Domingo passado testemunhamos um ato "pró-Moro" que na verdade mais se assemelhou a um ato contra Glenn Greenwald, com direito a cartazes o ofendendo em diversos lugares do Brasil, e pessoas - inclusive parlamentares - pedindo que Glenn seja extraditado do Brasil.

Bem, não é comum reportagens gerarem este tipo de reação.

O que prova o impacto que elas tiveram em todos. Ninguém reage contra algo que não lhe causa impacto.

Os próprios jornalistas e parte da opinião pública já adotou o hábito de perguntar "Quando sai a próxima matéria do The Intercept Brasil?". Milhões de pessoas admitindo ficarem apertando F5 a todo momento na esperança que, com a atualização, a nova matéria seja divulgada.

O jornalista respira, portanto! E mostra para que serve.

Mas, o The Intercept também teve efeito didático e doloroso para os grandes veículos nacionais. Colocou-os despidos, ao mostrar que o herói que quase toda a mídia hegemônica incensava (Moro) talvez seja na verdade um vilão, corroborando a tese da Esquerda, que o via como "torcedor" e não como juiz e questionava (como muitos juristas o fazem) a prisão de Lula.

O jornalismo no Brasil ganha uma sobrevida, portanto. Mas, há muito o que se esperar. Que a grande imprensa chame as coisas pelos nomes, por exemplo. Que político de extra-direita receba esse nome e não eufemismos fofos. Que quem seja pego com grande quantidade de droga tenha o tratamento de "traficante" mesmo se for branco e de classe alta.

Mas, aí é tema para outro texto. Por ora, fica a pergunta: Quando sai mesmo a próxima matéria do The Intercept Brasil?

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