Quem matou o jornalismo potiguar?
Natal, RN 26 de abr 2024

Quem matou o jornalismo potiguar?

23 de setembro de 2019
Quem matou o jornalismo potiguar?

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Vaticinaram no whatsapp: o jornalismo morreu! Tudo porque comentavam sobre a morbidez do telejornalismo da TV Cabugi (a tal da InterTV). Ora, morte por morte, a Ponta Negra tem muito mais experiência e capacidade produtiva. A TV Tropical também possui ótimo  expertise no ramo criminal. Tem morte à milanesa, pro almoço, e cuscuz com morte no jantar.

As mortes no jornal não mataram o jornalismo, ainda que possam tê-lo ferido muito gravemente.

Talvez tenha sido a munganga que matou o jornalismo. A culpa é da Ediana, certamente! Ou do Lucas, que chegou depois pra animar a festa. Mas presepada por presepada, Carlos Alberto, Salatiel, Paulo Wagner já eram mestres antes (durante e depois) de se elegerem políticos.  E deixaram o Papinha na vez?

Por falar neles, será que não foram os políticos a matar o jornalismo? Afinal, sempre foram (e continuam sendo) donos da mídia potiguar e mandavam fazer e desfazer no jornalismo também (antes de serem presos, processados ou nomeados secretários de ministérios).

Na mão desses aí, temo que o jornalismo sequer tenha nascido nessas nossas latitudes.

O jornalismo nasceu para defender interesses. Começou com os da nascente burguesia contra os interesses da aristocracia. Depois, passou a defender os interesses do capital contra o Estado. No século 20, ganhou status de serviço público, defendendo os interesses do "bem comum", da democracia liberal.

Por aqui, o jornalismo sempre foi bastante interesseiro, especialmente quando a pauta é política. Quem não lembra das manchetes opostas no finado Diário de Natal e da Tribuna do Norte? Cada qual especialmente preparada para garantir os interesses de seus grupos políticos.

Na televisão e no rádio, os Alves e os Maias loteavam as emissoras e garantiam voz e boa imagem apenas para seus aliados. E misturado com todo esse discurso político, entravam os interesses econômicos dos grupos empresariais ligados a cada um deles.

Ninguém nunca se ocupou de disfarçar o uso político das concessões de rádio e TV, talvez a TV Cabugi, por exigência do Padrão Globo, disfarçasse um pouco. E talvez por isso, o jornalismo fosse tão esvaziado da política local.

Agora, o cenário mudou. As combalidas oligarquias políticas deram lugar a grupos empresariais da comunicação, que espertamente seguem associados a grupos políticos para garantir seus interesses. Agora, o poder não é a moeda mais importante. O lucro é o objetivo maior e, em nome do qual, dane-se o interesse público, dane-se a ideia romântica do jornalismo como serviço público.

E aí, até dá saudades da Ediana na InterTv. No meio de tanta munganga, presepada e paródias inacreditáveis, ainda havia informação, ainda havia comunicação e interação com as classes mais populares. A periferia ainda aparecia viva. Ediana transitava vaidosamente sobre a linha que demarca a fronteira entre jornalismo e entretenimento.

Agora, na nova casa na Ponta Negra, Ediana segue no seu espaço natural, pendendo mais para o entretenimento na maioria das vezes. Só que agora passou a transitar em uma fronteira que, se transposta, é muito mais danosa ao jornalismo.

No comando do Jornal do Estado, Ediana, ao mesmo tempo e sem nenhuma cerimônia, chama notícias e anúncios (alguns protagonizados por ela mesma). E o pior,  ela não vale menos pela sua credibilidade abalada de jornalista. Ela vale muito mais pela sua flexibilidade ética.

E é isso que importa para o capitalista.

Nos dias de hoje, talvez Millor Fernandes tivesse que reformular sua célebre frase tornada em clichê: jornalismo é armazém de secos e molhados, o resto é oposição!

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