Eduardo Siqueira, ilustre desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi flagrado desrespeitando um guarda civil municipal, após ser multado por não utilizar máscara enquanto caminhava na praia. O episódio aconteceu neste sábado, em Santos, e foi filmado. O desembargador chama o guarda de ‘analfabeto’, rasga a multa, joga o papel no chão e continua andando. Ele também ameaçou telefonar para o secretário municipal de Segurança. Enfim, a velha "carteirada".
Há duas semanas, vimos o casal que não usava máscara no Leblon, templo sagrado da elite carioca, confrontar um fiscal da prefeitura do Rio. "Ele é engenheiro civil, muito melhor que você", disse a esposa do cidadão, em cena também filmada.
Comentando postagem que fiz no Facebook, uma amiga professora da rede pública relatou que na escola onde ensina, o pai de um aluno entrou sem máscara e se recusou a colocá-la, mesmo após os pedidos da Direção e da segurança.
"O meu presidente disse que não era obrigatório usar máscara nas escolas", vociferou.
E soube de muitos exemplos do gênero, todos recentes.
Mais do mesmo. Não era surpresa que isso fosse acontecer. Em meio a uma pandemia, com quase 80 mil mortos no Brasil (segundo lugar em número de óbitos em todo o mundo) vemos diariamente pelas redes ou em conversas com pessoas conhecidas relatos de gente que se recusa a usar máscaras em público, como recomendado pelos decretos estaduais e municipais, pela OMS, pelo bom senso e pela lógica.
Repito: Nenhuma surpresa. Essas pessoas que se recusam a usar a máscara já nos apresentaram suas credenciais de não-cidadãos muito antes do Covid-19.
São exatamente as mesmas pessoas que estacionam seus veículos em vagas exclusivas de idosos e de pessoas com necessidades especiais, principalmente em shopping centers e restaurantes.
As mesmas pessoas que humilham garçons em restaurantes e bares (lembram do ilustre desembargador Dilermando, aqui em Natal, que humilhou um funcionário na padaria Mercatto tendo sido filmado?) e que lançam mão do velho e tedioso "você sabe com quem está falando?".
Sim, todos nós sabemos com quem estamos falando. Com aqueles conservadores defensores da moral, dos bons costumes e da família tradicional, mas que têm amantes e saem em busca de programas com travestis nas esquinas. Aqueles que bradam contra a corrupção e sempre estão envolvidos em sonegação de impostos ou sinecuras.
Os mesmos de sempre. Da mesma classe social, pessoas que usam os mesmos argumentos e o mesmo modus operandi, principalmente contra seus alvos preferenciais, mulheres, negros, LGBTs, pessoas de classes sociais mais simples. É um padrão repetido. Quase sociológico, histórico mesmo. O Brasil não é para principiantes, mas, também não apresenta surpresas. Seria tedioso até, não fossem as bizarrices do (des)governo atual e o fato disso tudo nos atingir diretamente de uma forma ou de outra.
Sim, quem se recusa a usar máscara no rosto tem padrão definido, classe social, gênero, maneira de falar, andar e agir.
São velhos conhecidos nossos. Sabemos o que fizeram nos verões passados. E o que farão nos próximos verões.