Rede de escolas particulares pede que pais não deixem crianças assistir série Round 6
Natal, RN 25 de abr 2024

Rede de escolas particulares pede que pais não deixem crianças assistir série Round 6

18 de outubro de 2021
Rede de escolas particulares pede que pais não deixem crianças assistir série Round 6

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Pessoas endividadas e sem perspectiva de melhora nas condições de vida aceitam participar de um “jogo” de onde podem sair milionárias. Quem não toparia? Mas, a questão é que quem perde o jogo paga com a própria vida. Esse é o ponto de partida da série sul-coreana Round 6, da Netflix, que viralizou no mundo inteiro de maneira espontânea, sem grandes investimentos em campanhas de marketing para sua divulgação.

A série tem uma estética agradável, com cenários que remetem a uma infância colorida, mas que contrastam com a brutalidade com que seus participantes vão sendo eliminados à medida que o jogo avança. No primeiro deles, os participantes “brincam” com uma boneca gigante que canta “batatinha frita 1,2,3”. Para saber o que acontece quando a música para, só assistindo à série para não darmos spoilers aqui, mas sem dúvida, a surpresa vem pela crueldade.

A crítica social ao capitalismo e à ganância ao longo dos episódios de Round 6 é explícita, afinal, que mundo é esse onde pessoas desesperadas arriscam perder a vida por dinheiro? Preocupados com os desdobramentos que a série possa provocar nas crianças, a rede de escolas Salesiano, que tem atuação em todo o Brasil e também possui unidades localizadas em Natal, emitiu um comunicado pedindo aos pais que não deixem seus filhos assistir à série que, segundo a direção do colégio, traz uma “crítica social, que revela a natureza humana, ávida de ganância, retratando muito da realidade vivida em diversos contextos familiares e comunitários”, traz um trecho do documento. Mas, não seria papel da escola discutir essas questões? O fato, é que a série tem classificação etária de 16 anos e nesta segunda (18) está em segundo lugar dentre as produções mais assistidas pelos brasileiros na Netflix.

Imagem da série Round 6 I Reprodução Netflix

“Acho que os pais devem sim interferir no tipo de conteúdo que os filhos acessam pela internet, mas é importante atentar para a idade dos filhos, porque essa relação vai mudando ao longo do tempo. Quanto menor a idade, maior o controle e triagem que vamos fazer sobre as informações que chegam até eles. Lógico que queremos que nossos filhos se alimentem de informações de qualidade, que tragam expectativas boas, um ambiente de confiança e esperança, mas eles não têm condições de avaliar o que é ou não importante, vão apenas sendo expostos. À medida que vão entrando na adolescência, essa situação se torna mais tênue e já não temos mais tanto controle, embora que a gente pode e deve interferir recomendando, estando ao lado, conversando sobre os assuntos abordados tanto na série Round 6, quantos nas outras. Há milhares por aí, hoje o mundo é da informação”, orienta Ana Teresa Leiros, psicóloga da pediatria do HUOL (Hospital Universitário Onofre Lopes).

Para a direção do grupo, as cenas de morte, muito sangue, sexo, tráfico de órgãos, suicídio e tortura psicológica, são chocantes e inapropriadas para crianças. No comunicado, enviado aos pais dos alunos, a direção da escola se refere a cenas de homossexualidade como negativas. A série está entre as mais assistidas em, pelo menos, 90 países.

Ana Teresa Leiros é psicóloga e atende no setor de pediatria do HUOL I Foto: cedida

Esse tema é tão complexo e tem tantos detalhes que talvez um comunicado, em si, não expresse toda a preocupação que a escola deve ter. Esse ´tema deve ser debatido, os pais dos alunos chamados à escola para que possam falar sobre uma questão mais ampla, que é o acesso dos nossos filhos à internet, ao mundo de informações que tem ali e como é que eles estão se relacionando com tudo isso. É mais do que uma série, agora é a Round 6, mas há um tempo atrás lembro que os “13 porquês’ [13 Reasons Why] também causou muita polêmica por várias questões, houve família que proibiu as crianças de assistir. Esse é um assunto que deve ser mantido vivo e conversado, discutir os benefícios e malefícios, estar aberta ao diálogo sempre. O comunicado talvez tenha sido uma tentativa da escola de alertar, mas acho que é uma ação pontual dentro de um tema que é mais amplo”, avalia Ana Teresa Leiros.

Por questões políticas, a série que, originalmente, tem o nome de jogo da Lula, uma tradicional brincadeira em alguns países como a Coréia do Sul, foi batizada no Brasil como Round 6.

Confira na íntegra comunicado enviado pela escola:

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