A morte do jornalista Ricardo Boechat é um baque em toda a imprensa.
Ainda mais forte pela forma repentina como a tragédia aconteceu, numa queda de helicóptero, no meio do expediente, quando voltava de uma palestra em Campinas (SP).
Âncora da rádio Band News e apresentador do Jornal da Band, era uma referência para muitos jornalistas e admirado por ouvintes, leitores e espectadores.
Boechat tinha estilo próprio, marcado pela opinião, humor ácido e senso crítico.
Pela lei da ação e reação, recebia críticas na mesma proporção.
No Brasil dos Fla-Flus, os “de esquerda” colocavam Boechat no campo da direita; e os “de direita” taxavam-no até de comunista.
Ricardo Boechat era um democrata ao seu jeito.
Incisivo, por vezes agressivo, engraçado e exagerado.
Natural de Buenos Aires, brasileiro por adoção.
Ao vivo, entre tantas notícias e opiniões, mandou o pastor Silas Malafaia procurar uma rôla, após chamá-lo de vigarista e charlatão.
Ao vivo, condenou de forma dura a homenagem do então deputado federal Jair Bolsonaro ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff:
- Torturadores não tem ideologia, não tem lado, não são contra ou pró-impeachment. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano no nível mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos, não mereceriam em momento algum serem citado como exemplo, muito menos numa casa legislativa que carrega o apelido de Casa do Povo.
Boechat foi um personagem relevante da imprensa.
Os depoimentos emocionados de colegas de trabalho e amigos revelam um profissional também carinhoso e generoso.
Com alma de repórter, o que no jargão das redações significa viver em função da notícia, do furo, do cheiro da novidade.
Vencedor de três prêmios Esso e maior ganhador do prêmio Comunique-se.
Uma colega do jornal O Globo disse que o jornalista tinha um pequena marca por trás da orelha, cicatriz das horas ao telefone apurando informação.
Aos 66 anos, Ricardo Boechat se adaptou com sucesso às transformações das plataformas jornalísticas e virou um autêntico profissional multimídia.
Foi do jornal impresso, da TV, do rádio e da internet.
O que transforma seres humanos normais em estrelas da mídia.
O que faz bravos jornalistas comuns conquistarem fãs.
Mas Boechat era tão somente um imperfeito operário da notícia.
Trabalhador, pai, avô, filho e marido.
Na última pauta, virou a própria notícia e vítima de mais um acidente de trabalho.
No fim, Ricardo Boechat morreu como vivem a maioria dos jornalistas no Brasil:
voando de um trabalho para o outro.