O secretario municipal de Cultura de São Paulo Alê Youssef anunciou a criação de um festival com espetáculos censurados pelo governo Bolsonaro. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, neste sábado (12).
O evento foi batizado de Festival Verão Sem Censura.
- “Uma resistência que absorve o valor, que luta pelo valor mais importante da cultura, que é a liberdade de expressão. Nós vamos fazer isso não como uma medida de antagonismo ao governo federal, mas de valorização da nossa cultura”, disse Youssef à Folha de S.Paulo.
Ainda não há datas nem contratos fechados com os grupos. A prefeitura de São Paulo é administrada pelo PSDB. O prefeito Bruno Covas é apadrinhado político do atual governador do Estado João Doria, que vem tentando se descolar da imagem de Jair Bolsonaro (PSL) após a popularidade do presidente da República despencar nos primeiros meses do governo.
Até o momento, quatro espetáculos em cartaz foram interrompidos de forma abrupta e sem explicação por órgãos do governo federal, entre eles Abrazo, do grupo potiguar Clowns de Shakespeare, aprovado numa seleção pública pela Caixa Cultural, braço da Caixa Econômica Federal. O espetáculo é inspirado no “Livro dos Abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano.
O roteiro da peça é assinado por César Ferrario e a direção de Marcos França. A peça é contada através do olhar de um menino que mora num país repressivo onde as pessoas são proibidas de abraçar umas às outras e de demonstrar afeto entre si.
O Clowns de Shakespare e o Ministério Público Federal estão processando a Caixa Cultural em razão da censura. As duas ações correm na Justiça federal de Pernambuco.
O diretor do Clows de Shakespeare Fernando Yamamoto reconhece a iniciativa:
“Estamos conversando com a prefeitura, mas ainda não há nada fechado. A iniciativa é muito positiva, sem dúvida dará uma projeção maior para esses casos, ainda mais acontecendo no centro econômico e cultural do país. A gente precisa reconhecer o bom senso de um poder público tomando esse tipo de atitude”, disse.
Além de Abrazo, também foram censuradas em 2019 “Gritos”, do grupo Dos à Deux,
espetáculo que tem uma travesti entre seus personagens e vinha sendo apresentado em Brasília; Caranguejo Overdrive, da Aquela Cia de Teatro, cancelado antes de ser apresentado no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, e Res Pública 2023, do coletivo A Motosserra Perfumada, vetada pelo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte Roberto Alvim.