Seap nega ter autorizado médico de Alcaçuz a usar remédio para piolho como prevenção à covid-19 entre presos
A Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap) negou ter dado autorização ao médico da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, Lionaldo Duarte, para utilização do vermífugo ivermectina para tratamento “precoce” da covid-19.
“Claro que não [autorizamos]! Todo sistema prisional do Brasil sempre usou ivermectina como vermífugo, para tratamento de escabiose e coisas do tipo. Aqui, também adquirimos, mas com essa finalidade”, explica Pedro Florêncio Filho, o titular da Seap.
Até o momento, o RN não registrou nenhum óbito por covid-19 dentre as mais de oito mil pessoas presas, segundo a Seap. Florêncio detalha que o resultado não é atribuído à Ivermectina, nem a qualquer outro medicamento.
“Vem dos métodos que implementamos, dos controles e, principalmente, do isolamento. Uma coisa que poucas pessoas perguntam é ‘por que o sistema prisional tem pouquíssimos casos de covid? Por que nenhum preso foi hospitalizado e ocupou uma UTI tirando a vaga de um cidadão de bem? Por que até agora não ocorreu nenhuma morte de preso por covid-19?’ Isso é resultado do rígido controle dos presos que entram e com o isolamento dos que já estão no sistema, com criação de portas de entrada e com local único para quarentena, separação diária de presos e acompanhamento dos que apresentaram qualquer sintoma”, revela o secretário de Administração Penitenciária do Estado.
"Claro que não [autorizamos]! Todo sistema prisional do Brasil sempre usou ivermectina como vermífugo, para tratamento de escabiose e coisas do tipo. Aqui, também adquirimos, mas com essa finalidade"
Pedro Florêncio, secretário da SEP
Em entrevista a uma rádio de Natal, o clínico que atua em Alcaçuz chegou a afirmar que tinha autorização para realizar “o estudo” entre os presos e administrar remédio sem comprovação científica para prevenir e tratar a covid-19, apesar da medicação só ter eficácia comprovada no combate ao piolho e pano branco.
O titular da Seap explica que, antes de entrar em Alcaçuz, os presos condenados ficam em isolamento e com a visita suspensa por um período, antes de ter contato com os demais detentos. A penitenciária não recebe presos sem condenação, vindos da rua.
“O RN é um dos poucos estados em que não ocorreram mortes por covid e isso contradiz o que o médico falou. Temos 17 unidades em todo o estado e estamos há um ano nessa luta diária de controlar a infecção dentro do sistema”, reforça Florêncio.
Por causa das declarações do médico, a Rede Potiguar de Apoio à Pessoa Privada de Liberdade Egressa e Familiares do Sistema Penitenciário (Raesp) pediu um posicionamento da Seap sobre a compra da medicação. Além da Rede, o Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio Grande do Norte – CEPCT/RN também questionou em ofício a Seap, o prefeito de Nísia Floresta, Daniel Gurgel, e a Secretária Municipal de Saúde de Nísia, Lidiane Rodrigues, sobre qual o protocolo médico autorizado no presídio.
A agência Saiba Mais entramos em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura de Nísia Floresta, mas não conseguimos retorno até a publicação da matéria. A direção do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio Grande do Norte classificou como “grave” a utilização de presos para experimento científico.