Secretário de Carlos Eduardo compartilha informações falsas sobre Marielle Franco
Natal, RN 28 de mar 2024

Secretário de Carlos Eduardo compartilha informações falsas sobre Marielle Franco

19 de março de 2018
Secretário de Carlos Eduardo compartilha informações falsas sobre Marielle Franco

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O secretário municipal de Obras Públicas de Natal, Tomaz Neto, divulgou neste domingo (18), num grupo de whatsapp, uma série de mensagens falsas, conhecidas como fake news, com ofensas à honra da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), executada a tiros na quarta-feira passada (14), no Rio de Janeiro. A morte da parlamentar ganhou repercussão mundial em razão da brutalidade do crime e de sua militância em favor dos Direitos Humanos, do direito das mulheres e da juventude negra e periférica. Marielle foi eleita com mais de 46 mil votos, era negra, mãe, LGBT e exercia o primeiro mandato como vereadora.

Pouco tempo depois da divulgação do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes cresceu nas redes sociais um sentimento de indignação e comoção, ao mesmo tempo em que começaram a se espalhar boatos que atentam contra a memória de Marielle e difamam a história de luta da vereadora.

O PSOL, partido de Marielle, articula um grupo de advogadas que desde quinta-feira (15) vem rastreando fake news e qualquer material calunioso contra a vereadora. Até o momento, mais de duas mil denúncias chegaram ao grupo. O objetivo é enviar todos os casos e os autores identificados para investigação em delegacias especializadas e ou para retratação na justiça. As denúncias podem ser recebidas no e-mail: [email protected].

A Agência Saiba Mais teve acesso a uma série de prints do grupo de whatsapp do Conselho da Cidade (CONCIDADE Natal), que reúne os membros do conselho responsável por deliberar políticas de desenvolvimento urbano para a capital potiguar. Presidido pelo prefeito Carlos Eduardo Alves, o conselho conta com 51 membros, dentre eles secretários, funcionários das secretarias, procuradores do município, representantes da sociedade civil organizada e parlamentares.

Às 13h45 do domingo (18), o secretário Tomaz Neto compartilhou uma série de mensagens, já desmentidas por sites especializados, que ligam Marielle ao tráfico de drogas e fazem críticas a sua atuação política. A primeira mensagem classifica a vereadora do PSOL como uma “ultra esquerdista com ideias nefastas e totalmente tortas, eterna defensora de bandidos”. O texto, atribuído ao antropólogo Sandro Silva, visa desconstruir o que chama de “discurso hipócrita de esquerda comunista bandida”. Procurado pelo site boatos.org, o antropólogo negou autoria do texto.


A mensagem, endossada pelo secretário, critica a onda de comoção em torno do assassinato da ativista ao dizer, em um dos seus trechos, que “se lamente o assassinato, mas que não se enalteça quem em vida não fez por merecer para ser enaltecida”.

Em seguida, Tomaz compartilha outra informação falsa que atenta contra a história de Marielle Franco: a de que ela seria ex-mulher de um traficante ligado a uma facção criminosa. No texto da mensagem está escrito:

- A Vereadora Marielle Franco, ex-mulher de Marcinho VP, atualmente preso, um dos chefes do Comando Vermelho.

Abaixo, o titular da Semopi compartilha uma foto em que se vê uma mulher sentada no colo de um homem, no que parece ser um bar. Tanto a foto como o texto já vêm sendo desmentidos há vários dias nas redes sociais e em sites especializados. Procurado pela reportagem da Agência Saiba Mais, o vereador Sandro Pimentel (PSOL) reagiu com indignação ao compartilhamento de mensagens falsas pelo secretario Tomaz Neto.

-É inadmissível que alguém em um cargo de destaque na administração pública compartilhe boatos e informações falsas contra a memória de uma pessoa morta. Uma coisa eu garanto, não vai ficar assim. Vamos agir rigorosamente, em todas as instâncias, diante da conduta indecorosa do secretário, que é um funcionário público, e precisa responder pelos seus atos.

Discurso de ódio é velho conhecido para Tomaz Neto

O secretário Tomaz Neto, que compartilhou as mensagens falsas, é pai da jornalista Micheline Borges, que em 2013 também se envolveu numa polêmica ao afirmar em sua página pessoal no facebook que médicas cubanas recém-contratadas pelo programa federal Mais Médicos teriam “cara de empregada doméstica”. Micheline chegou a ser processada na Justiça por danos morais pelo Sindicato das Empregadas e Trabalhadores Domésticos (Sindidoméstica), da Grande São Paulo.

Saiba Mais: PSOL organiza homenagem à vereadora Marielle em Natal e Mossoró

“Seu eu cometi um crime por compartilhar, não tenho como voltar atrás”, diz secretário

O secretario municipal de Obras Públicas de Natal Tomaz Neto admitiu que compartilhou as mensagens ligando a vereadora Marielle Franco ao tráfico de drogas mesmo sem saber se as informações são falsas ou verdadeiras. Ele afirmou que foi apenas um entre mais de mil pessoas que divulgaram a mesma notícia. Neto contou que decidiu compartilhar as mensagens quando, no mesmo grupo, outras pessoas criticaram a Polícia Militar no caso da morte da vereadora. E disse que, se cometeu algum crime, não poderia mais voltar atrás.

- Não sabia se era falsa ou não, tinha um grupo divulgando e eu compartilhei. No grupo tinha pessoas responsabilizando os policias pela morte da cidadã. Como é que você pode afirmar se é falso ou não ? A gente só vai saber se é falso ou verdadeiro quando as investigações terminarem. Agora, se eu cometi um crime (por compartilhar informação falsa), eu não posso voltar atrás.

Tomaz Neto justificou a atitude alegando que “a internet é um meio de comunicação muito rápido”. E citou o caso da desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Marília Castro Neves, que afirmou que a vereadora “estava engajada com bandidos e foi eleita pelo Comando Vermelho”. Neto não demonstrou arrependimento.

- Na internet tem pessoas que falam em defesa da polícia militar, ao ponto de pedir a extinção dela. Isso está solto na internet, não tenho como voltar atrás. Sou um mero expectador, uma cidade é muito grande e agora mesmo foi uma desembargadora que acusou Marielle de ter participado de crime.

Segundo o auxiliar do prefeito Carlos Eduardo Alves, é natural que as pessoas se posicionem sobre os mais variados assuntos. E se ele for condenado por manifestar sua opinião, não seria o único.

- A gente teria que ir em busca da raiz onde nasceu esse problema porque está todo mundo compartilhando. Teria que saber onde fundamentalmente nasceu, quem está criando, para saber e apurar as responsabilidades. As pessoas que usam a internet, como eu, quando eu vejo um lado só falando, também se posicionam. Isso faz parte da democracia. Se você quiser me condenar, então vai ter que condenar a maioria da população.

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