Sede de samba é sede de vida
Natal, RN 24 de abr 2024

Sede de samba é sede de vida

1 de maio de 2018
Sede de samba é sede de vida

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Saí com sede de samba... Era daqueles dias que se estendiam de propósito, sem hora e sem lei, também conhecido como sexta-feira. A semana toda tinha sido dor e cansaço. Precisava daquele alívio cadenciado que liberta a alma.

Ainda nos primeiros dias em Brasília, um amigo havia me falado de um lugar no Setor Comercial Sul, mas não soube dizer o nome do bar e passou apenas a seguinte informação: quando vier pela W3, você vai ver logo um movimento...
De fato, um movimento era o que me esperava, e tratei de arrastar minha colega de trabalho pra também fazer parte dele, afinal movimento que se preze tem que incluir comparsas.

Como não fomos a pé, tivemos que baixar as janelas do carro para ouvir o barulho que serviria como guia até o local. Passamos por dois becos sem saída, até finalmente escutar os primeiros acordes, que já fizeram abrir aquele sorriso de quem comemora uma descoberta.

Era uma roda de samba que parecia brotar do chão, alimentada pela vontade humana de celebrar a vida, em frente a um bar de esquina que ninguém consegue lembrar o nome, mas que se chama, simplesmente, “Churrasquinho”.

Certamente existe uma dessas na sua cidade, como existe em Natal, de onde vim, e até hoje ainda levo comigo os memoráveis batuques que inauguram as noites de quinta-feira no bar de Nazaré, beco da lama, no bairro Cidade Alta, da capital potiguar.

Estacionamos e a música me levou até a primeira cerveja gelada, elemento fundamental pra saciar a sede de samba, mas um tormento pra minha colega, que era a motorista e, portanto, impedida de beber.

Tanta gente, que não conseguia ver quem tocava, mas não precisava: era Chico Buarque, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Noel Rosa, que despertavam meu corpo ávido por dançar e libertavam minha alma pra cantar como se não houvesse amanhã.

“E às pessoas que detesto, digam sempre que eu não presto, que o meu lar é o botequim...”, cantei junto, na fila do banheiro, outra característica típica dessas ilhas de sentimento do mundo espalhadas por aí, para contrabalancear a energia boa do lugar.

Ali, naquele instante, em que me permiti sentir de novo a leveza dos dias e dancei como se tivesse 20 anos, que, ao final da noite, cansada, mas feliz, reconheci: estava era com sede de vida. E tive a certeza: encontrei, numa das raras esquinas de Brasília, o meu doce refúgio.

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