Na primeira entrevista coletiva concedida à imprensa, o futuro ministro da Justiça e da Segurança Pública Sérgio Moro se comportou como um insuspeito mascote de estimação do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Antes de assumir a pasta e cercado de suspeitas em razão de ter prendido o líder das pesquisas de intenção de voto seis meses antes da eleição, além de ter divulgado informações uma semana antes do 1º turno que ajudavam seu novo chefe, Moro conseguiu o que nem os bolsonaristas tinham tentado até então: chamar de “moderado” quem já admitiu defender a tortura, metralhar os petralhas e eliminar os vagabundos esquerdistas.
“Foram declarações pretéritas, mas estamos olhando para o futuro. (Bolsonaro) Pode ter feito declarações não felizes no passado. Mas o que observei foi um caminhar de moderação”, disse o quase ex-juiz em reposta a uma repórter que listou várias das barbaridades que ditas por um cidadão comum eram passíveis de punição por apologia à violência, menos para um juiz de estimação.
Ao chamar Jair Bolsonaro de “moderado”, Sérgio Moro mostra o que a sociedade pode esperar do Ministério da Justiça: condescendência com os aliados do Governo, o que se estende para além da hierarquia.
E isso ficou ainda mais claro quando o futuro ministro foi indagado sobre trabalhar no mesmo governo que um réu confesso pelo crime de caixa 2 e futuro ministro da Casa Civil, cargo já anunciado para o deputado federal Onyx Lorenzoni (RS):
“Tenho grande admiração pelo Onyx Lorenzoni. Foi um dos grandes deputados que defendeu a aprovação daquele projeto das 10 Medidas Contra a Corrupção mesmo sofrendo ataques severos”, disse o mesmo juiz que meses atrás declarou que considera o caixa 2 para fins eleitorais mais grave que a corrupção.
Mas o melhor veio em seguida. Sobre o dito caixa do 2 admitido por Lorenzoni, Moro arrematou:
- Ele pediu desculpas e tomou as providências para repará-los.
Aliás, de desculpas Sérgio Moro também entende. Foi o que o próprio quase ex-juiz pediu ao então ministro do STF Teori Zavaski para justificar o vazamento para o Jornal Nacional do grampo ilegal do telefone da então presidenta Dilma Rousseff, em conversa privada com o ex-presidente Lula.
Sérgio Moro se comporta e discursa como se fosse continuar juiz e levando o aparato de investigação da operação Lava-jato para o Governo Bolsonaro. Moro se apresenta como um herói que combate o mal feito.
Mas o mal feito dos outros, é importante destacar.
Porque ao primeiro sinal do mal feito dos seus aliados, Moro não solicita mais do que um pedido de desculpas.
"Aos amigos os favores, aos inimigos a lei" não é uma sentença de Sérgio Moro, mas uma frase de Maquiavel.
Bolsonaro convidou um juiz para ser ministro, mas ganhou um mascote para chamar de seu.