Snowden – Herói ou Traidor
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Snowden - Herói ou Traidor

27 de abril de 2019
Snowden - Herói ou Traidor

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Cidadania, transparência, privacidade - essas palavras ganharam destaque, nos últimos cinco ou seis anos, em detrimento de outras em voga nos primeiros dez anos do século - proteção, segurança, combate. Se tomarmos como parâmetro o lado ocidental do mundo, abalado pelos ataques da Al-Qaeda em setembro de 2001, é possível notar essa mudança. Ela aconteceu por causa de jornalistas, ativistas, gente comum. Mas principalmente por pessoas como Edward Snowden, que dá nome ao filme que estreou nos cinemas no final de 2016, e que está no catálogo da Netflix, com a patética tradução Snowden - Herói ou Traidor.

Snowden é daqueles sujeitos que, se conhecidos apenas pelos noticiários, parecem técnicos sisudos e ascéticos. Não é, a princípio, alguém que despertaria a curiosidade de um cineasta como Oliver Stone, que já retratou figuras como o jornalista Richard Boyle, de Salvador - O Martírio de um Povo, o soldado Ron Kovic, de Nascido em 4 de Julho, e o advogado Jim Garrison, de JFK: A Pergunta que não Quer Calar. Mas Snowden é um personagem fascinante por ser uma pessoa comum, com uma causa comum, que realizou um ato revolucionário.

Quem já havia tido a ótima oportunidade de retratá-lo em plano fechado foi Laura Poitras, de CitizenFour, o documentário feito sobre as primeiras horas do ex-técnico da Agência de Segurança Nacional americana, logo após ele ter decidido abandonar o trabalho e os Estados Unidos e denunciar tudo o que sabia sobre a espionagem que o governo praticava contra quase todo o mundo sob pretexto de encontrar terroristas. A diferença entre o documentário de 2015 e o filme de Stone é a dramatização.

Com um recorte no tempo que vai de 2003, com o alistamento no Exército, a 2013, quando o hacker resolve virar a fonte principal de uma série de reportagens investigativas sobre as atividades delitivas das agências norte americanas na internet, o roteiro pretende, didaticamente, explicar porque Snowden fez o que fez. E levar o espectador a entender porque suas denúncias foram praticamente uma sentença de morte para ele.

Rapaz tímido, de compleição frágil, Snowden é interpretado por Joseph Gordon-Levitt, o rapaz tímido e de coração frágil de 500 Dias com Ela. Apesar de alguns exageros de atuação, como a mudança de voz, Levitt dá gravidade a um personagem que poderia, perigosamente, ficar na superfície da esquisitice. E Shailene Woodley está ótima como sua companheira, Lindsay. Apesar das participações luxuosas de Tom Wilkinson e Melissa Leo, o elenco não é de estrelas. Talvez pela circunstância de que Stone teve pedidos de financiamento negados por diversos estúdios.

A escolha pela dramatização alcança o efeito positivo de tornar compreensível a motivação de Snowden em sua saga pela transparência. Em uma das melhores sequências do filme, numa praia, o técnico cita os funcionários de segundo escalão do governo da Alemanha nazista, ao se contrapor à fala de um colega que tentava justificar seus atos dentro da agência de segurança. As preferências de enquadramento e no ritmo lento da edição, no entanto, típicas de alguns filmes de Oliver Stone, tornam o produto didático até demais. Tudo desenhado, pronto em um mapa mental.

O filme se completa com o predecessor, CitizenFour. Somente unindo o roteiro que volta ao recrutamento do jovem pela CIA, de Stone, e a abordagem seca do documentário de Laura Poitras, rodada no olho do furacão, é possível ter uma ideia da dimensão que as revelações de Snowden tiveram no modus operandi do governo americano na área de segurança. E nas relações com outros países, que também tiveram empresas e líderes espionados e sabotados. E no dia a dia de cidadãos como eu e você, que agora sabemos que não trocamos nada em segredo na internet.

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