Sobre a Moça da Padaria “Bolsominion”, arrependimentos e outras complexidades
Natal, RN 20 de abr 2024

Sobre a Moça da Padaria "Bolsominion", arrependimentos e outras complexidades

20 de março de 2019
Sobre a Moça da Padaria

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Já enfoquei aqui neste espaço este assunto e peço desculpas pela repetição, mas na realidade distópica quase surreal que vivemos a repetição é o e menor dos pecados, eu espero. Lembro que escrevi aqui sobre a "moça da padaria da esquina" com quem dialoguei algumas vezes durante a campanha e quem tentei fazer com que votasse no primeiro turno da campanha presidencial em algum candidato progressista e no segundo turno em Haddad, sem obter êxito em nenhum dos casos.

Simpática, tímida, a moça ouvia meus argumentos com paciência, dizia que eu tinha razão em muita coisa, mas, no frigir dos ovos argumentava que "algo tem que mudar no país" e que "quem sabe ele (Bolsonaro) vai fazer alguma coisa boa" e ainda que "não pode ser só o PT no poder, tem que mudar de vez em quando". Enfim, aquelas frases feitas, mas que refletiam a preocupação dela e de milhões de brasileiros e brasileiras com a Segurança, a Inflação, os escândalos de corrupção, o desemprego etc. Bem, a moça não era fascista, nazista, nem compactuava com misoginia, homofobia ou racismo. Apenas tinha a opinião de que "as coisas tinham que mudar" e certamente influenciada por parentes, líderes religiosos, resolveu votar no candidato que dizia que "tem que mudar isso aí".

Nem todo voto é ideológico-partidário, provavelmente a maioria não o é. E os progressistas tem que entender isso. Inclusive os votantes que elegeram Lula e Dilma não eram todos progressistas alinhados com as pautas do PT, isso parece bem óbvio.

Na semana passada, papeando de leve com a moça na padaria, ela tocou no assunto política-governo e disse que está preocupada e levemente arrependida do voto. "Minha irmã disse que a gente deveria ter votado em Ciro Gomes, que tem porte de presidente", desabafou.

Defendo aqui neste espaço e nas minhas redes sociais que não se faz política nem militância com vendettas. Claro que a tentação de jogar a realidade na cara dos amigos e parentes é grande e humanamente compreensível.

Mas, como escrevi no Facebook ontem, entender as circunstâncias de cada eleição e a dinâmica da política é fundamental para combater um Governo desqualificado.

"Bolsominions", Bolsonaristas e eleitores circunstanciais de Bolsonaro NÃO são necessariamente as mesmas pessoas. Já é tempo do pessoal progressista entender isso e independente das mágoas familiares diferenciar uns de outros.

Tem gente que votou no "mito" e está aturdida, decepcionada, arrependida. Como a moça da padaria e outros milhões de pessoas, vide a baixa aprovação do Governo Bolsonaro.

E muitas dessas pessoas não são "boslominions", não precisam ser ofendidas nem serem alvo de vinganças pessoais.

Entender esse fato pode ser essencial para impedir a famigerada Reforma da Previdência como o Governo Bolsonaro/Paulo Guedes quer. E para as eleições 2020 e 2022.

Como disseram dia desses, uma pessoa humilhada, ridicularizada se torna perigosa porque não vai aceitar argumentação lógica e tende a se prender em suas convicções, mesmo sabendo ou tendo a impressão que está errada.

Com o Governo Bolsonaro envolvido em sua própria paralisia e de quebra em contradições, escândalos, corrupção de ministros e com o fantasma do assassinato de Marielle Franco batendo na porta da famiglia Bolsonaro, o momento não é da militância progressista celebrar o "Eu avisei" e esperar o jantar da família para rir na cara dos tios. O momento é de restaurar pontes e diálogos e entendermos todos porque elegemos enquanto País um despreparado completo para a presidência.

E a partir daí, refletirmos como lutar contra a pauta deste Governo. E da mesma forma que fazendo arminha com a mão não se governa, também não se faz oposição com meme em rede social e dizendo "Eu avisei" para os familiares.

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