Sofrências
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2 de julho de 2018
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É preciso saber sofrer, ensinava o comentarista Muricy Ramalho, com a mesma excelência exibida como treinador, ao analisar os perrengues do escrete contra a Sérvia. O verso de bolero sintetiza a alma do escrete no Matutão da Fifa, que replica o estilo cascudo-e-vencedor do professor Adenor no Corinthians de todos os títulos.

O escrete tem sido um telecurso intensivo de sofrência. Menos mal que não há nenhum onze favorito. Os que conseguiram escapar à ciranda do 1 a 0 ou 2 a 1, fizeram-no contra mangabas inexperientes. A Bélgica goleadora, que arrebata os corações mais sôfregos, sofreu contra a Inglaterra — e vice-versa. A França dos jovens velozes e técnicos empatou com a Dinamarca e ainda não conseguiu vencer por mais de um gol.

O México é outro de desempenho sofrível. Bateu a Alemanha, prefigurando o fiasco final dos campeoníssimos, mas tomou invertida clássica (3 a 0) da Suécia. A frase-síntese para definir La Tri, mesmo quando parece bem, segue sendo "jogou como nunca, perdeu como sempre".

O trunfo dos mexicanos pode estar no banco: o professor Juan Carlos Osório, que andou pela bambilândia paulistana, colecionando polêmicas, pelos métodos incomuns como treineiro. Entre eles, o hábito de promover rodízio de boleiros — um tabu para os brasileiros sem passagem por clubes europeus, onde a prática é natural.

No São Paulo, Osório foi um raro técnico a anular o Corinthians, então no auge da empatite. O escrete não chega a sofrer desse mal. Nem a sofrer de 'futebol melancólico'. Não é um bolero; mas é um samba-canção, com ração de sofrência para pachecos e pistolas.

Se toma poucos gols, também faz poucos. Há o esquema tático cauteloso e as limitações físicas de Neymar — e a falta de um centroavante goleador. Mesmo escretes medíocres, como o de Telê Santana em 1986 e o do Lazzarento em 1990, contavam com um matador de responsa: Careca, que marcou 7 vezes nos dois matutões.

Gabriel é bom, mas lhe falta marra, sem a qual não dá pra ser o nove no escrete. Não chama a responsa, não arrisca o jogo, não quebra o esquema, como fazem os craques da posição. Contra o México, seria uma boa hora pra compor um bolero de redenção, com o 1 a 0 de adesivo: foi Jesus que me deu.

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