Sordidez Geral da República
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28 de fevereiro de 2020
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O desgaste de uma República é parecido com a ruína de uma casa que não recebe reforma. De início o salitre que desgasta as paredes parece inofensivo, agride apenas a estética, mas logo o tempo se passa e, sem resposta, a estrutura começa a ficar comprometida. As ferragens ficam expostas e o custo para salvar o que está caindo aos pedaços é descomunal. Mesmo não acostumada a altos gloriosos, a política brasileira nunca desceu tanto em debate, discurso e prática como agora, na administração Bolsonaro. O presidente chegou a um ponto abissal em sua rotina de insultos ao fazer uma insinuação sexual contra uma repórter da Folha. Fala sem filtros, mas também por ausência de freios institucionais. Transformou o exclusivo púlpito que tem em mesa de bar e, a cada nova declaração de desprezo contra negros, mulheres, indígenas e LGBTs, vai aumentando a rachadura e nas paredes da nossa República.

Dizem que essa é uma estratégia: soltar alguma declaração sórdida que faça sumir os questionamentos importantes da pauta do Presidente. Mesmo que seja isso, não dá para calar diante da performance horrorosa de Bolsonaro e de seu Ministério. Já passou da hora da oposição representar pedido de impedimento de Bolsonaro por conta de sua opção diária pela quebra de decoro. Seria difícil escolher a declaração mais pavorosa para esta representação, pois o Presidente tem por meta superar as indignidades que diz. A imprensa também precisa repensar sua relação com o Bolsonaro. Claramente ele usa estas falas para municiar suas redes de apoio digital com conteúdo. Os grandes veículos devem parar de submeter seus profissionais a essa rotina de assédio moral, onde são usados como escada para Bolsonaro agradar sua base com bravatas.

Na economia, os profetas do engano falam que o país melhora, que as instituições estão fortes mesmo diante de um governo ruim. Tendo a achar que este otimismo não cabe mais. O bolsonarismo exige que olhemos para ele com a intenção genuína que ele tem: a de destruir a democracia brasileira para implantar um regime autoritário no lugar. Na história da humanidade, loucura e poder nunca geraram uma mistura que não resulte em tragédia. Temos loucos no poder, um Congresso em silêncio e um judiciário preso em brigas internas.

O campo está livre para Bolsonaro e sua vontade de delinquir os limites do regime democrático. Usará a economia como desculpa, mas os mais ligeiros já perceberam que não existe possibilidade de desenvolvimento econômico sustentável, em meio ao caos provocado pela língua bifurcada do Presidente. Quem fala que a economia melhora, que o país se levanta, sempre foi cego para os riscos que a postura do Presidente traz para a República. Não se importam com a democracia.

A baixa capacidade moral de Bolsonaro também se espraia para seus ministros. Paulo Guedes é uma síntese mal diagramada do pensamento elitista dos mais ricos. Um tal liberal que regula a passagem da empregada doméstica, pois acha um insulto encontrar com ela no mesmo voo para Orlando. Guedes consegue reforçar a cara de ódio de povo que essa administração tem. Uma mistura de Justo Veríssimo e Caco Antibes que chegou ao poder.

Capturada por delírios de extrema direita, a democracia brasileira segue fraturada para mais um ano em que será testada ao limite. Onde as estruturas estatais de proteção do meio ambiente buscarão formas de atacá-lo, onde a Funai trabalhará para advogar contra os interesses dos povos originários, onde o ministro da Educação seguirá sem saber português. Um ano em que a censura novamente vai tentar levantar sua voz, que o escárnio novamente tomará o centro das manchetes de jornais. O custo para salvar o que está caindo aos pedaços será descomunal.

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