Sua excelência, o “estrangeiro”
Natal, RN 16 de abr 2024

Sua excelência, o "estrangeiro"

21 de abril de 2019
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Um tiro no pé. O televisionamento dos jogos da final do Estadual pela tevê aberta InterTV Cabugi. Não! Claro que não, vão dizer de forma combinada dirigentes de ABC, América e o premiado José Vanildo da Silva, presidente da FNF. Além de tudo que já dissemos, os prejuízos apontados, mas que depois se tornarão lucro (eles garantem), a tevê mostrou para muitas pessoas que não iam mais aos nossos jogos - vocês concordam que um grande público se acostumou a não sair das suas poltronas e ver Rio e SP - testemunhassem o quanto nosso futebol anda mal das pernas.

Contudo, sempre na contramão da maioria, não concordo com o "horror" das críticas. Os caras espezinham, esculhambam, massacram mesmo, sobrando muito, isso é notório, para os cartolas. Eles não poupam mesmo. E nesse desabafo sempre tem a palavra dinheiro ou interesse político para malhar os maus comandantes. Eu contesto, discuto até, tento chamar à razão para que comparemos, sim, comparemos com os outros campeonatos que acompanhamos. O nosso, acreditem, não é tão diferente, mais medíocre que, por exemplo, cearense, baiano, pernambucano, paraibano, mas não é mesmo. E se quiser ir mais longe, reparem bem na "bolinha" que o Vasco está jogando. Coitado, sempre sobra para o time da Cruz de Malta quando o assunto é futebol de baixo nível.

Aí, aproveitando essa onda avassaladora de malhação ao time do ABC, principalmente, pois, podem crer, sobraram adjetivos pejorativos para Ranielle Ribeiro e os jogadores do ABC. O gol que o menino perdeu no finalzinho, Anderson, está rendendo mais que o pênalti  desperdiçado por Zico na Copa de 1986 ou até mais que o passe errado de Cerezo em 1982, mas isso por aqui, nas esquinas do Beco da Lama, ruas da Cidade Alta, lugares onde sou mais assíduo. Eu estou neste "cerca lourenço" todo para dizer, repetir que nunca vi um povo para gostar de escrachar, esculhambar seus conterrâneos como nós, os potiguares. Aqui, certamente, e já lamentei isso muitas e muitas vezes, somos campeoníssimos no complexo de vira latas o que, infelizmente, também é mal do Brasil.

Concordo, concordo, nosso futebol é chinfrim, tá magro, seco, caindo das pernas, mas asseguro, tenho até absoluta convicção que poderia ser bem melhor se nós gostássemos mais de nós. Confesso, estou sendo repetitivo, mas é esse o problema que enxergo. Essa é a raiz de todo nosso mal. Um cara vem do Chile, do Uruguai, do Paraguai, de um time calça arriada lá do Rio Grande do Sul, chega com pompa, salário mais alto, treina, joga uma, duas, três, quatro, cinco, dez, nada faz, mas continua titular da equipe. E quando o time ganha, mesmo o cara não jogando nada é capaz de nossos bravos radialistas-jornalistas esportivos aumentarem sua nota, atribuírem a ele boa dose da vitória.

E o outro lado? Ah, meu filho, coitados. Os meninos aparecem num Alecrim, Globo, Potiguar de Mossoró ou venham das bases... Pode ser que, num dia sem ninguém, o treinador de bom humor, vai olhar para um deles e dizer "tu vai jogar".  O menino entra, faltam quinze minutos para o jogo acabar. Se errar um passe, dependendo de quanto esteja o placar, se for de derrota, leva uma vaia. Se não resolver, marcar um gol ou uma assistência para tal, esqueçam dele, não entra mais. Mas o treineiro, pode acreditar, na maior cara de cimento armado do mundo vai continuar a repetir aquela lorota de quase todos, a de que "gosta de trabalhar com as bases, com os garotos". Não gostam. Querem medalhões caros.

O nosso celeiro continua revelando talentos, vou afirmando na contramão de todos. E poderia só para provar o que digo montar uma seleção de jogadores que disputaram nosso campeonato, esse que termina na quarta, somente com nascidos aqui na terra, e melhores, asseguro,  que quase todos os titulares estrangeiros de ABC e América que vão entrar  em campo na Arena.  Informando que o artilheiro de nosso certame é de Triunfo Potiguar, Jefinho, contratado pelo Treze; o craque é de Mossoró, Wilson, aquele menino magrinho que fraturou a tíbia e fíbula por jogar bem, e se isso não servir para provar...

Vou descer até o Rio de Janeiro para ilustrar esse texto fazendo um comparativo de complexo de vira latas, afinal somos muito parecidos com o povo do Rio de Janeiro. O Flamengo tem William Airão. O cara marca, volta, se desdobra, chega na frente e não tem uma partida no Flamengo em que ele não fique perto de marcar um dos gols. Participação super ativa na frente e atrás. Por outro lado, Cuellar, colombiano, salários dez vezes maior, fica lá atrás, nunca aparece na frente, quase não chuta no gol e nem dá assistências verticais, mas sabe dá carrinho, bater no braço, "é sangue", sabe bem das coisas de marketing vagabundo e, por último, é estrangeiro.

Para dez em cada dez flamenguistas ele é muito melhor que Airão, aliás, é mais ídolo que qualquer outro no time, imexível, intocável, assim como era Guiñazu, lembram dele?

O futebol.  E tem outros trezentos exemplos. Só mais um: ano retrasado, ABC na Série C, grande campanha, Jones Carioca e Herivélton comandaram dez de cada nove vitórias do time, mas o "maestro" do time, para quase toda a imprensa, era Lúcio Flávio, ex-jogador em atividade, andando em campo em quase todos os jogos. Por essas e outras que dá pena ver a quantas andas o esporte mais popular do Brasil aqui no RN.

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